Na área da saúde, em especial hospitais embora na maioria das operadoras não seja diferente, existe uma confusão enorme sobre conceitos de custo e preço, e o ‘climax’ acaba sendo a má definição do preço do pacote, do ‘diarião’ e das taxas de modo geral.
Não se culpa áreas assistenciais, porque a grade curricular dos cursos de medicina, enfermagem, fisioterapia, nutrição, e outras não abrange este tema com profundidade suficiente para que não haja confusão.
Somente os que se especializam em administração após a graduação adquirem conhecimento para discutir adequadamente (a minoria).
Mas nas áreas de retaguarda, principalmente a administrativa, é intolerável a constante confusão, que leva tanto hospitais quanto operadoras ao erro de formação de preços.
É comum se deparar com áreas dizendo que o custo de algo é 10, o preço de venda é 20, então a margem é de 100 %.
Quando se investiga o assunto a surpresa: 10 na verdade é o preço de compra (e não o custo), não se consideram tributos e eventuais repasses aos prestadores do serviço, e o preço de venda é o de tabela, e não o acordado em contratos … não se faz análise de rentabilidade alguma, apenas uma ‘conta de padeiro’ (com o maior respeito pela classe, diga-se de passagem).
A maioria dos preços em saúde se baseia em tabelas formatadas (CBHPM, AMB, Brasindice, Simpro, etc.) e na força que um lado tem sobre o outro para negociar o contrato, portanto a maioria dos preços não é afetada se alguém analisa de forma errada a rentabilidade, porque o preço é definido por uma pressão de mercado e não pelo retorno financeiro de cada item faturado.
Mas em diárias, taxas e pacotes … ‘show de horror’ !
O valor da diária, por exemplo, não é tabelado e deve remunerar as despesas fixas da unidade, incluindo insumos, mão-de-obra e utilidades, como as demais taxas que também devem remunerar com margem adequada os custos fixos.
E nestes casos é imprescindível analisar se o custo está sendo remunerado ou não, porque tudo que se perde ou se ganha nos demais itens em que o preço é tabelado deve ser compensado nos preços que não são, caso contrário o hospital pode quebrar, a operadora pode ‘ficar no vermelho’ na administração de determinado plano, e assim por diante.
E tudo deve ser considerado de forma adequada, por exemplo, comparar o preço de uma conta aberta ou de pacote (simplesmente) é absurdo, primeiro porque se comprara preço com preço, e segundo porque o custo administrativo do pacote é insignificante quando comparado ao da conta aberta.
A maioria das pessoas não tem noção da quantidade de pessoas e processos envolvida na formação, auditoria, faturamento, remessa e recurso que envolve uma conta aberta, e como tudo isso é eliminado nas contas tipo pacote.
Como dito, a maioria assistencial nem se obriga a ter esta noção, mas a retaguarda administrativa não pode cometer este erro, de forma alguma.
Quando dizemos que as operadoras erram da mesma forma não é da ‘boca pra fora’. É de praxe os hospitais receberem proposta de preços de diárias, taxas e pacotes da operadora no mesmo valor que ela oferta para outros.
Ou seja, a operadora não considera que um hospital pode ter menor custo para fornecer determinado serviço que o outro e paga a mesma coisa independente da qualidade e eficiência deles. Onde está a análise do custo ? A análise que se faz é preço de compra (preço que paga ao hospital) em relação à captação da carteira de clientes … e isso está bem longe da análise de custo, que deveria considerar também:
•O quanto as contas daquele hospital específico dão trabalho (volume de erros, cumprimento de prazos, etc.);
•O compartilhamento de custos operacionais – enviar um auditor para auditar 1 conta custa quase a mesma coisa que enviar para auditar 10, portanto o custo de auditoria a ser considerado por conta é diferente;
•O quanto os atendimentos em determinado serviço de saúde estão dentro do foco central do seu credenciamento, e portanto podem ser trabalhados em relação à demanda;
•E assim por diante … fixar o preço sem avaliar o custo relacionado ao hospital específico é um ‘tiro no pé’.
Não vamos conseguir melhorar a especialização dos profissionais assistenciais a ponto poder compartilhar esta angústia: 6 anos já é pouco tempo para aprender medicina, e quanto mais a medicina se desenvolve 6 anos passam a ser menos tempo ainda … imagine inserir disciplinas de análise de custos, rentabilidade, etc. !
Mas não podemos continuar deixando profissionais não qualificados nas áreas de apoio discutindo preço, e dizendo que está discutindo custo.
E isso vale tanto para a saúde suplementar, quanto para a saúde pública: vale lembrar que o preço pago pelo SUS a cada dia fica mais aviltante: é impossível manter um hospital público com recursos do SUS precificados da forma como são, sem considerar custos reais.
Fonte SaudeWeb
Nenhum comentário:
Postar um comentário