O psicólogo e biofísico Peter Levine, 70, é o autor do best-seller "O Despertar do Tigre" (Summus, R$ 59,30, 240 págs.), em que descreve como funciona a "experiência somática", uma terapia corporal específica para estresse pós-traumático.
Seu método se baseia em estudos de neurologia e fisiologia e na observação dos instintos de defesa dos animais.
Na experiência somática a pessoa aprende a reconhecer os sinais corporais do trauma. O foco é deixar o corpo completar as reações disparadas por seus mecanismos de defesa -simplificadamente, lutar ou fugir.
Durante a sessão, o paciente realiza as ações que deixou de fazer ao ficar paralisado pelo choque traumático, como correr ou gritar. Só assim é possível quebrar o ciclo neuromotor que o faz responder como se estivesse permanentemente em perigo, segundo Levine.
Ele deu a entrevista à Folha no início deste mês, quando veio ao Brasil para participar de um congresso da Sociedade Brasileira do Trauma e lançar seu novo livro, "Uma Voz sem Palavras" (Summus, R$ 81,90, 328 págs.).
Folha - Como o sr. define o estresse pós-traumático?
Peter Levine - Ficamos traumatizados quando nos vemos totalmente desamparados e impotentes para nos defendermos de um perigo. Isso leva o cérebro, o sistema nervoso e o corpo a um estado particular. Se não compreendemos as mudanças físicas que ocorreram, ficamos congelados nesse estado.
É essa compreensão que ajuda a superar o trauma?
Não, isso é só o começo. As pessoas costumam pensar que tudo o que você tem que fazer é falar sobre o seu trauma, mas o que realmente ajuda é quando você é capaz de ter novas experiências físicas que contradigam a sua reação na situação traumática.
Isso é a experiência somática?
É uma metodologia que permite que as pessoas recriem a sensação de segurança em seus corpos. Esse é o truque: talvez seja possível mudar seu pensamento com terapias verbais, mas os sintomas físicos não mudam enquanto uma nova experiência corporal não é criada.
Remédios ajudam a tratar o estresse pós-traumático?
Alguns remédios podem ajudar, mas não criam mudanças permanentes. Drogas como a benzodiazepina (de tranquilizantes como Valium e Rivotril) atrapalham, porque têm efeito sedativo que dificulta a percepção das reações corporais.
A experiência somática é um tratamento demorado?
Não. Se o trauma foi causado por algo como um acidente de carro, o tratamento pode ser feito em até duas semanas. Para traumas mais profundos pode durar um ano ou dois. Mas nunca é um processo interminável.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Fonte Folhaonline
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