Texto lançado por federação médica destaca a importância do ácido fólico. Suplementação até o 1º trimestre previne anencefalia e espinha aberta.
Uma cartilha destinada a todas as mulheres do país que pretendem engravidar e outra para os médicos que devem orientar as pacientes são lançadas nesta quinta-feira (30) pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), durante congresso em São Paulo.
O texto foi baseado em uma orientação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
O objetivo é destacar a importância de as mulheres tomarem suplemento de ácido fólico para evitar até 75% das malformações no tubo neural do feto, como anencefalia – quando o bebê não tem cérebro – e espinha bífida – quando a coluna vertebral não se fecha por completo e a medula fica exposta para fora do corpo. Outro defeito menos comum é a encefalocele, em que a abertura do tubo neural acontece no crânio, deixando uma protuberância na cabeça com líquido e massa cerebral.
Em abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por oito votos a dois, que abortar um feto sem cérebro não é crime. A partir daí, a Febrasgo decidiu levantar o tema, na tentativa de impedir que um feto anencéfalo chegue a se formar. Para isso, a entidade propõe que os ginecologistas falem sobre o assunto em qualquer consulta de rotina, como o papanicolaou. Cerca de 3 milhões de folhetos devem ser distribuídos nos consultórios brasileiros.
Segundo o presidente da Comissão de Medicina Fetal da federação, Eduardo da Fonseca, é recomendado que a paciente faça, com supervisão médica, uma suplementação oral de 400 microgramas de ácido fólico por dia, pelo menos um mês antes da gestação e durante os três primeiros meses. Com o objetivo de fixar esse compromisso na cabeça da mulher, alguns ginecologistas já indicam o composto três meses antes.
"A formação do sistema nervoso central do feto ocorre nas primeiras quatro a seis semanas. Então, quando a mulher descobre que está grávida, o cérebro do bebê já está estruturado. A maioria das pacientes chega ao consultório com dois meses", destaca Fonseca.
O médico diz que 58% das brasileiras ainda não planejam a gravidez e, entre as futuras mães que se programam, apenas 10% ingerem ácido fólico, também chamado de vitamina B9. Dessa pequena parcela, só 4% tomam os comprimidos na dosagem correta.
Além da forma sintética, que na opinião dos médicos é mais bem aproveitada pelo organismo, o ácido fólico é encontrado na natureza – em alimentos como milho, trigo, folhas escuras, feijões, fígado, gema de ovo, laranja, abóbora e pêssego – e enriquecido desde 2004 em pães e outros produtos à base de farinha, cuja lei no país também prevê adição de ferro para prevenir anemia.
"Essa substância consumida naturalmente é mal absorvida: apenas 50% dela age no corpo. E, com a vida moderna, a mulher acaba não conseguindo obter isso apenas pela dieta", diz o presidente da comissão da Febrasgo.
Como o ácido fólico age
A vitamina B9 ajuda na multiplicação das células, no DNA e no fechamento do tubo neural do feto, segundo Fonseca. Além disso, tem papel importante na imunidade da mãe e no desenvolvimento da hemoglobina – pigmento vermelho do sangue – e das proteínas estruturais do bebê, como o colágeno (presente na pele e nas cartilagens) e a queratina (nas unhas e cabelos).
Em caso de baixa dosagem, como não tomar os comprimidos corretamente, o ácido fólico não tem efeito. Já em uma situação de superdosagem, acima de 1.000 microgramas por dia, estudos experimentais com camundongos indicam que o bebê pode nascer abaixo do peso, ou seja, com menos de 2,5 kg.
"Pesquisas internacionais apontam que recém-nascidos magrinhos podem se tornar adultos mais propensos a problemas como infarto, AVC, trombose, obesidade, diabetes e síndrome metabólica", enumera o médico.
Incidência do problema e fatores de risco
Segundo a Febrasgo, seis em cada dez mil bebês que nascem no Brasil apresentam algum defeito no tubo neural. Na população geral, essas malformações atingem cerca de 0,1%.
Crianças com anencefalia morrem em 100% das ocorrências, de acordo com Fonseca. Já os pequenos com espinha bífida sobrevivem, mas acabam tendo dificuldade para andar, aprender e controlar a urina e as fezes, entre outras complicações.
Para minimizar os prejuízos da medula exposta, logo após o nascimento é feita uma operação para fechar a abertura. Quando há hidrocefalia – presença de líquido em excesso dentro do crânio –, é realizada uma drenagem em direção ao abdômen.
Em 95% das gestações, não há fatores de risco para a mulher ter um bebê com esses problemas. Os outros 5% estão ligados a histórico prévio de gravidez de anencéfalo e uso de remédios anticonvulsivantes por pacientes com epilepsia – aí a dose precisa ser mais alta, chegando até 4 miligramas por dia.
Além desses fatores de risco, há a obesidade, a diabetes tipo 1 e a cirurgia de redução de estômago, que diminui o nível de absorção de nutrientes pelo organismo. A idade da mulher não influencia esse tipo de malformação no feto, mas adolescentes costumam se alimentar pior e podem ter mais deficiência de ácido fólico.
Estudos no Brasil
Fonseca, que vive na Paraíba, analisou quase 500 mulheres no Nordeste e observou que cerca de 15% delas usavam ácido fólico como prevenção antes e no início da gravidez.
Outro trabalho, feito em Pernambuco com 125 mil mulheres, mostrou que a inclusão de ácido fólico em farináceos não reduziu os defeitos no tubo neural. Mas, segundo o médico, isso pode ser explicado pelo fato de na região haver um maior consumo de farinhas não industrializadas.
O especialistas cita, ainda, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), realizada no ano passado com 300 mil mulheres, que aponta que a fortificação foi capaz de diminuir entre 35% e 40% os casos de problemas no tubo neural dos fetos.
Fonte G1
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