Para o sucesso desta estratégia é necessário que a empresa tenha uma equipe com alto grau de conhecimento sobre todos os segmentos, e seja capaz de encarar este novo desafio de forma criativa
O sistema de saúde privado no Brasil ainda é extremamente fragmentado, com 1.372 operadoras de planos de saúde, sendo que apenas 16% destas concentram 80% dos clientes e 75% apresentam menos de 10 mil funcionários. Esta característica mostra o alto risco da maior parte dos negócios do setor, a sua grande dificuldade de negociar com prestadores de serviços e de viabilizar investimentos em serviços próprios. Para solucionar este desafio, as empresas estão adotando, cada vez mais, modelos de integração horizontal (consolidação de empresas da mesma etapa da cadeia produtiva) e integração vertical (associação de empresas de etapas distintas da cadeia).
Há muitos anos, a integração vertical tornou-se uma solução muito utilizada por empresas de diversos setores da economia como ferramenta para viabilização do negócio e sustentação de seu crescimento. No entanto, na indústria da saúde este arranjo tem se firmado recentemente e apresenta, basicamente, dois padrões: grupos de prestadores de serviço, principalmente hospitais, que desenvolvem suas próprias empresas operadoras de planos de saúde para atender as suas demandas; e operadoras de planos de saúde que, pressionadas pelo grande aumento dos custos, passam a oferecer serviços próprios para os seus beneficiários, principalmente hospitais e laboratórios.
Líderes do segmento da saúde apontam que os crescentes custos da indústria estão relacionados, principalmente, à utilização inadequada dos recursos disponíveis (aumento da sinistralidade). Com maior número de beneficiários, houve aumento de consultas médicas desnecessárias. Outro fator importante foi o decréscimo da remuneração por procedimento para o médico, que passou a solicitar uma quantidade maior de exames/procedimentos aos seus pacientes visando ao aumento do volume e, consequentemente, da receita. Além disso, a elevada quantidade de idosos e pacientes com doenças crônicas também refletiu nos custos, pois o valor médio deste paciente é significativamente maior que o de um “sadio”.
Com a estratégia de verticalização, as empresas passam a ter mais controle sobre estes custos devido ao aumento do poder de compras (especialmente insumos), maior poder de negociação em função da menor dependência do mercado e possibilidade de direcionamento dos pacientes aos seus serviços próprios. No entanto, apesar do benefício econômico ser o grande impulsionador desta estratégia, as vantagens competitivas também são de alto impacto como barreiras de entrada para novos competidores.
Este fenômeno pode gerar grandes oportunidades para o sistema de saúde e implicações para os seus jogadores e lideranças. O desafio de todos está no desenvolvimento de um modelo que, quando bem administrado, gere grandes benefícios para todos os stakeholders.
O ponto de equilíbrio do mercado está relacionado à manutenção da qualidade do serviço prestado aos beneficiários/pacientes. Com uma cultura focada na redução de custos, podem ser adotados protocolos clínicos muito rígidos e que não atendam às necessidades dos clientes. O Brasil precisa de empresas eficientes e economicamente saudáveis, mas o foco deve ser sempre a saúde e o bem estar do paciente, acima de qualquer coisa. Estes protocolos, também podem interferir na autonomia e remuneração dos médicos, mas o limite deve estar na qualidade do tratamento prestado por eles.
Para o sucesso desta estratégia é necessário que a empresa tenha uma equipe com alto grau de conhecimento sobre todos os segmentos, e seja capaz de encarar este novo desafio de forma criativa, buscando soluções não tradicionais que impactem de forma positiva toda a cadeia. Desta forma, o sinergismo será compensado e a população terá acesso a um sistema de saúde muito mais eficiente.
Rodrigo Araújo
*Rodrigo Araújo: Sócio-Diretor Sênior responsável pela Especialização em Ciências da Vida e Saúde Korn / Ferry
Fonte SaudeWeb
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