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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

"Prostitutas podem atuar em favor da saúde pública"

Trabalhando há duas décadas com profissionais do sexo, psicólogo acredita que elas podem ajudar na prevenção de doenças como hipertensão, diabetes e AVC

Por conta da paternidade recente, Roberto Domingues, 40 anos, até deu um tempo nas visitas aos bordéis, mas não conseguiu ficar afastado muito tempo.

Frequentador assíduo das zonas de prostituição de todo o Brasil há 23 anos, ele voltou a fazer peregrinações constantes pelas áreas marcadas pelo sexo pago e pela exclusão total dos programas de saúde pública.

Robertinho – assim ele é conhecido pelas “tias” e “primas” das esquinas brasileiras –, é psicólogo, casado e pai de uma menina de 2 anos. Advogado recém-formado, ele mora em Belo Horizonte (MG) e escolheu as prostitutas como bandeira pessoal.

Desde 1989 – quando foi contaminado pelo ativismo da luta contra aids – Robertinho defende os direitos deste grupo populacional, constantemente acusado de ter sido (e ainda ser) o grande transmissor do vírus HIV “aos homens de bem”.

“Quando você se aproxima delas, percebe que a realidade é totalmente diferente”, defende o psicólogo.

“As prostitutas sempre fizeram fila para pegar as camisinhas que distribuíamos, em uma época que ninguém sabia que precisava ou queria usar. Foram as grandes professoras dos homens sobre como colocar o preservativo que eles usariam depois com as namoradas.”

Apesar da cautela que as prostitutas sempre tiveram com o sexo, “elas ainda são vistas só como uma ‘grande vagina’ pelos serviços de saúde e pelos programas governamentais”, compara o psicólogo.

“Quando o sistema pensa nelas, lembra apenas das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Elas ficam à margem de qualquer outro programa de saúde. É isso que queremos mudar”.

Mulheres antes
Roberto Domingues afirma que as prostitutas, antes de qualquer julgamento sobre como ganham a vida, são mulheres. Por este motivo, “estão vulneráveis aos problemas que passaram a ameaçar o cenário feminino de forma global”.

Aaids está, de fato, mais presente no universo delas, em especial entre as que passaram dos 50 anos , mostrou o último levantamento do Programa Nacional de DST e Aids. Porém, o inquérito feito pelo Ministério da Saúde indica que os casos de hipertensão , colesterol alto , obesidade, infarto e acidente vascular cerebral (AVC) estão mais numerosos entre as mulheres de todas as profissões e representam perigo ainda maior do que o HIV para a mortalidade.

Maria da Paz, conhecida por Diana, é prostituta no Rio Grande do Norte, e confirma a ameaça destes vilões da saúde às colegas de profissão. Ela assumiu a presidência da Associação das Profissionais do Sexo e Congeneres do RN depois que a antiga líder, Marinalva Ferreira, morreu em decorrência de um AVC com apenas 46 anos.

“Marinalva teve de lutar muito para conseguir um atendimento sem burocracia, para toda a classe. Mas nunca conseguimos ultrapassar a prevenção, diagnóstico e tratamento das Dst/Aids”, diz Diana.

“É como se o nosso corpo fosse constituído apenas por órgãos sexuais. O AVC, que tirou a vida dela, é doença muito comum entre nós.”

Por todos nós
O caso de Marinalva é emblemático, avalia Roberto, e não é único.

“O preconceito contra as prostitutas também faz parte do atendimento médico, elas enfretam dificuldades para fazer pré-natal, cuidar da alimentação ou ser encaminhadas ao cardiologista”, diz.

Por isso, no ano passado quando assumiu a presidência da Rede Brasileira de Prostitutas, o psicólogo estabeleceu como uma das metas mudar o olhar sobre a saúde destas brasileiras. Um benefício, acredita, que seria estendido à população em geral.

“Uma das nossas reivindicações é o funcionamento 24 horas das unidades básicas de saúde, que beneficiaria, além dos profissionais do sexo, todos os trabalhadores noturnos, como caminhoneiros, garçons e DJs, por exemplo”, cita o psicólogo.

Dos encontros para discutir a saúde das prostitutas, Roberto pinçou um dado curioso: 30% dos clientes procuram prostitutas só para conversar.

"Elas podem ser grandes disseminadoras de bons hábitos de saúde, caso recebam informações sobre isso. As políticas públicas não priorizam a saúde delas de forma integral, como deveriam – e como é direito delas – mas podiam ao menos levar isso em conta”, diz.

“Se lá no passado elas ensinaram os homens a colocar a camisinha. Podem muito bem informá-los sobre como controlar o colesterol ou prevenir a hipertensão”, questiona.

Fonte iG

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