Com preços salgados e marcação cerrada nos pacientes, médico argentino diz já ter "secado" 50 mil pessoas em todo o mundo
Danielle emagreceu 15kg em três meses, Tatiana perdeu 27kg em seis meses e Amélia se livrou de 43kg em nove meses. Nenhuma delas se submeteu à cirurgia bariátrica, ou tomou remédios. O que espanta em suas histórias, além do emagrecimento rápido e significativo, é a ausência de qualquer outro aparato, químico ou físico, que possa ter levado essas mulheres a perderem tanto peso em tão pouco tempo. Em comum, a gerente de marketing, a estilista e a pedagoga dividiam o objetivo – perder peso – e o sentimento de que esta seria a última tentativa em busca de um corpo mais magro e saudável.
Pílulas, academia, dietas, consultas ao endocrinologista, ao nutricionista e receitas “infalíveis” já haviam sido tentadas, sem sucesso. O que mudou a vida das três, segundo elas, foi o método criado pelo terapeuta argentino Máximo Ravenna, que alia psicologia, psiquiatria, restrição e reeducação alimentar com exercícios físicos controlados.
Os resultados obtidos com esses quatro pilares são o maior chamariz do centro terapêutico, que funciona como um spa. Com três unidades no País (Salvador, Brasília e São Paulo), desde que se instalou por aqui, calculam os diretores, já foram atendidas mais de 14 mil pessoas. Em todo o mundo, o número soma 50 mil.
O principal diferencial, diz Ravenna, é levar em consideração a subjetividade de cada indivíduo e tratar também o psicológico.
“Além de seguir uma dieta, realizar atividades físicas e acompanhar a saúde, a pessoa participa de grupos terapêuticos em que é possível falar sobre seu vínculo alimentar, dificuldades e conquistas, reconhecendo a obesidade como um problema que não é só seu”, afirma.
Ao conversar com seus pacientes, Ravenna tem uma postura dura e assertiva. Em seu livro "Entre abrir e fechar a boca" o médico relata o caso da paciente Natália, desgostosa com a própria aparência:
Ao conversar com seus pacientes, Ravenna tem uma postura dura e assertiva. Em seu livro "Entre abrir e fechar a boca" o médico relata o caso da paciente Natália, desgostosa com a própria aparência:
"Aparentemente existem muitas coisas que você não sabe, Natália: não sabe do que você tem medo, não sabe se quer ter filhos, não sabe que vida teria gostado de levar, não sabe por que não pode emagrecer... Não são questões pouco imporantes. No entanto, parece que obedecer é a única coisa que, sim, você sabe fazer."
Em um encontro com pacientes durante o lançamento do mesmo livro, em São Paulo, disparou após ser perguntado sobre o efeito sanfona: "É um efeito ligado à mudança de comportamento, a pessoa não é um gordo feliz e nem um magro tranquilo. Falta certeza sobre qual lugar você pertence e ainda existe o sentimento de querer ser invisível, ou melhor, de não querer ser visto assim, gordo."
No livro, "A Teia de Aranha Alimentar" o médico defende que todos estão presos a algum tipo de compulsão – seja por cegueira, distração, ignorância, angústia, ou simplesmente por acaso – o que impede de encontrar o caminho para o emagrecimento. Descobrir o que está levando a pessoa a comer e porque a comida tornou-se uma grande fonte de prazer é um dos focos.
Na prática, são três os objetivos que norteiam o projeto: corte (de calorias e de atitudes e pensamentos que possam levar à compulsão), medida (diminuir as porções e encontrar a medida adequada) e distância (ações para não voltar a comer em excesso).
Comprometimento também é uma peça fundamental. Ao manifestar interesse no método, não basta se inscrever e pagar a salgada mensalidade – são R$1300 no plano básico, incluindo todos os acompanhamentos médicos, menos a alimentação.
Estar disposto a seguir as orientações nutricionais e comparecer aos grupos terapêuticos é essencial. Alegar falta de tempo, trânsito pesado ou horas extras não é permitido. A marcação é cerrada e faltar não é uma opção. É preciso ajustar o horário de trabalho com a agenda da clínica: na sexta-feira, por exemplo, o único grupo terapêutico do dia começa às 8h15, inviável para quem precisa entrar às 9h.
“É preciso dar prioridade ao emagrecimento, decidir e se entregar”, frisa Camila Nunes, gerente da clínica paulista e ela mesma uma ex-obesa.
O passo seguinte é identificar, por meio de um exame de bioinpedância, a quantidade de água, gordura e músculo presente no corpo para então definir a meta de emagrecimento. O tempo é curto e o resultado aparece rápido. As mulheres perdem de 5% a 7% do peso logo no primeiro mês, enquanto os homens podem chegar a até 10% do próprio peso. Mas esse resultado varia também de pessoa para pessoa.
Até chegar ao peso ideal, não é possível tirar folga da rotina de dieta hipocalórica e hipossódica, exercícios de resistência e terapias individuais e em grupo. São indicadas quatro refeições por dia, num total de apenas 800 calorias. No cardápio, cortam-se carboidratos complexos, açúcares, gordura e o álcool.
“São retirados os alimentos com alto índice glicêmico, que se transformam em glicose e energia. O corpo precisa aprender a gastar a gordura”, explica Camila.
“Tudo isso contribui para estabilizar o comportamento da secreção de insulina, geradora da sensação de fome, evitando picos e, dessa forma, ativando mecanismos de saciedade. Assim, o paciente adquire tranquilidade para realizar a dieta, o que viabiliza a decisão de emagrecer a cada momento”, diz o médico.
Nesse período, a abstinência química e emocional é grande e são comuns sintomas como dor de cabeça, sonolência, irritação e falta de concentração.
“A comida tem uma grande força química, ou seja, nosso organismo fica viciado. Um estudo recente de um pesquisador norte-americano prova que alimentos como pão e milk-shake de chocolate, por exemplo, atuam no cérebro humano sob os mesmos critérios de dependência química de usuários de cocaína. Acreditamos que mantê-los distantes, na etapa de eliminação de peso, é mais eficaz e confortável do que permiti-los em pequenas porções”, completa Ravenna.
Com medo de cair em tentação, é normal que os pacientes se afastem do convívio social. Festas de família, aniversário, happy-hour com os amigos e outras situações em que o apelo da comida seja muito intenso costumam ser evitados.
A atitude não é recomendada pelo médico, mas ele admite que essa pode ser uma saída enquanto a pessoa não se sentir confortável para dizer não à extravagância alimentar. Com o tempo, relata Ravenna, diante dos resultados e com a confiança fortalecida, a decisão de se manter no processo torna-se mais fácil, num movimento em que o paciente decide pelo projeto de ser magro, sem mais o jogar na caixa das frustrações e insucessos.
Por esse mesmo motivo, muitos almoçam e jantam na própria clínica, onde os pratos são preparados de acordo com as orientações das nutricionistas. Cada refeição custa, em média, R$40.
A malhação, embora indicada, não é pesada. Os exercícios são apenas os de resistência, como musculação, ou alongamento, como pilates e ioga. Correr ou caminhar de forma intensa são desaconselhados.
“Porque o organismo deixa de gastar a gordura e procura outras formas de obter energia”, explica Camila Nunes. A ideia é apenas tonificar os músculos para que não haja a temida flacidez, comum em métodos de emagrecimento rápido.
Manutenção
Ao alcançar o peso ideal, a dieta deverá ser readequada. É a fase de maior insegurança: depois de emagrecer muito retirando alguns ingredientes, é natural que a reinserção dos mesmos no cardápio traga um pouco de ansiedade e medo, sentimentos tratados na terapia. A reintrodução destes alimentos é feita aos poucos e acompanhada. O objetivo é identificar qualquer possível alteração de conduta provocada por alimentos que tendem a ser "gatilhos" alimentares.
Atente-se
Dietas muito restritivas, como a recomendada pelo método, pode gerar o famoso efeito rebote, ou seja, ao voltar à alimentação, o organismo responde acumulando ainda mais gordura do que o necessário. O corpo entende como se aquele momento fosse um período atípico de doença ou escassez de alimento e tenta se recuperar para “voltar ao normal”.
Fonte iG
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