Três hospitais de São Paulo --o HCor (Hospital do Coração), o InCor
(Instituto do Coração do HC da USP) e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz-- vão
testar a cirurgia bariátrica para o tratamento de outras doenças que não a
obesidade e o diabetes, suas indicações primárias.
As pesquisas se concentrarão em problemas circulatórios e cardíacos, e as
três instituições estão recrutando voluntários (veja abaixo).
Ricardo Cohen, ex-presidente da Sociedade de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica, diz que a intervenção atingiu sua fase de maturidade.
"A grande demanda agora são os outros resultados que a operação pode trazer."
No HCor, a redução de estômago será testada para controlar a hipertensão
resistente, condição na qual o paciente não consegue baixar a pressão mesmo
tomando dois ou mais remédios todo dia.
Carlos Schiavon, um dos coordenadores do projeto, diz que estudos apontam que
pacientes submetidos à cirurgia têm melhora na pressão como "efeito colateral"
O estudo vai comparar a cirurgia com o tratamento clínico. Os pacientes devem
ter obesidade grau 1 ou 2 --ou seja, IMC (Índice de Massa Corporal) entre 30 e
40. Esse índice é obtido dividindo o peso, em quilos, pela altura, em metros, ao
quadrado.
"Há pacientes que tomam quatro, cinco remédios e não têm um bom controle. É
uma doença de tratamento difícil", afirma Schiavon.
Para Bruno Geloneze, endocrinologista do Laboratório de Investigação em
Metabolismo e Diabetes da Unicamp, a iniciativa tem um "grau de ousadia e
coragem" por se concentrar no paciente que está sem tratamento.
"Esse é um estudo inédito que pode cobrir uma lacuna importante."
CORAÇÃO
Já o estudo do InCor pretende investigar como a cirugia
bariátrica pode reduzir o risco cardiovascular.
"É difícil dizer que variáveis a cirurgia altera para reduzir o risco.
Investigaremos esses mecanismos", diz Bruno Caramelli, diretor da unidade de
medicina interdisciplinar em cardiologia do InCor e coordenador do estudo.
Os pacientes devem ter diabetes e IMC entre 28 e 35, ou seja, sobrepeso e
obesidade grau 1. Hoje, a cirurgia só é autorizada no país para obesos grau 3 e
grau 2 --neste último caso, quando há doenças associadas.
Geloneze avalia a escolha do perfil dos pacientes como "inadequada". "Já se
sabe que, quanto menor o IMC, pior o resultado da cirurgia."
Mas Caramelli diz que o objetivo é investigar como o diabetes se desenrola
desde o começo. "A ideia é tentar identificar, numa fase precoce, quem são os
caras que amanhã terão IMC de 35 e 40."
DIABETES
No hospital Oswaldo Cruz, o estudo quer comprovar os benefícios do tratamento
cirúrgico para problemas microvasculares decorrentes do diabetes tipo 2, como as
doenças renais e da retina (que pode levar à cegueira).
A cirurgia será comparada ao melhor tratamento clínico disponível para o
diabetes.
Segundo o cirurgião Ricardo Cohen, coordenador da pesquisa, se a cirurgia
levar à redução da incidência dessas complicações, causará também uma diminuição
na mortalidade cardiovascular a longo prazo.
"Acredito que, se comprovarmos a eficácia da cirurgia nesse caso, o paciente
com a doença microvascular terá indicação cirúrgica imediata. Não há razão para
esperar falhar o tratamento clínico."
Os pacientes devem ter obesidade grau 1 (IMC entre 30 e 35), perfil para o
qual a cirurgia não é autorizada fora de protocolos de estudo.
Cohen justifica a escolha porque a média do IMC dos diabéticos no Brasil é
29. "Vamos focar na população que realmente precisa."
O endocrinologista Bruno Geloneze da Unicamp, porém, afirma que um estudo já
mostrou que, depois de cinco anos, a melhora de problemas microvasculares em
pacientes diabéticos com IMC acima de 40 foi variada.
"Essa melhora depende de tempo de doença, fatores genéticos e boa nutrição.
Como há o risco de desnutrição nesses pacientes menos obesos, o balanço tende a
ser desfavorável", diz.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica,
Almino Ramos, diz que os estudos se concentraram no diabetes, doença associada à
obesidade que tinha mais resultados com a cirurgia. "Agora, eles devem focar em
outros fatores, como a apneia do sono."
Mas, para Geloneze, é preciso lembrar que a prioridade é operar quem mais
precisa -- obesos grau 3, com IMC acima de 40.
"Discutir novas indicações é uma forma de excluir os casos mais urgentes. Há
que se pensar sempre no interesse do paciente."
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
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