O leite de vaca pasteurizado ainda mantém o posto de alimento ingerido em
maior quantidade pelas famílias brasileiras, mas é fato que o consumo da bebida
já não é tão grande como no passado.
Segundo o IBGE, esse consumo caiu cerca de 40% nos últimos 30 anos no país.
Nos Estados Unidos se observa a mesma tendência. O Departamento de
Agricultura do país aponta que tanto a quantidade como a frequência do consumo
de leite caíram desde a década de 70.
Uma das explicações do órgão americano para a queda é a oferta cada vez maior
de outras bebidas, como isotônicos e águas "vitaminadas".
No Brasil, a explicação está na diversificação da alimentação nas últimas
décadas, o que reduziu o consumo de produtos tradicionais como leite, arroz e
feijão, e aumentou a ingestão de iogurte, refrigerante e outros alimentos
industrializados.
A intolerância à lactose, distúrbio que tem se tornado cada vez mais
diagnosticado e comum no mundo, é outro motivo para a menor presença do leite
nas dietas.
Mas há ainda quem acredite em uma associação do consumo da bebida ao aumento
no risco de doenças como problemas intestinais, inflamações e até câncer e
transtornos como autismo.
É o caso da filósofa Sônia Felipe, que lançou no ano passado o livro
"Galactolatria - Mau deleite", no qual aborda os supostos males causados pela
bebida.
"Todos os motivos para abolir o leite concorrem para a sua desmitificação
como alimento saudável, indispensável ou louvável. Ele não é nada disso",
afirma.
Ela conta que estuda o assunto há 13 anos, desde seu pós-doutorado em
bioética e ética animal na Universidade de Lisboa "Meu interesse se fortaleceu
por conta da decisão ética de eliminar da dieta todos os produtos derivados de
sofrimento animal."
Os tais malefícios do leite, porém, são contestados por especialistas. Wagner
Gattaz, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, refuta a
associação do leite com doenças mentais.
Ele lembra de um estudo publicado no "Schizophrenia Research" que aponta que
antígenos do leite podem causar um desequilíbrio metabólico no cérebro de
pessoas com esquizofrenia.
"Mas não há evidências de que o leite agrave a psicose. Provavelmente são
achados sem significado clínico."
Ana Carolina Cantelli, nutricionista oncológica do A.C.Camargo Cancer Center,
diz que os estudos ligando o leite ao risco de câncer são controversos. "Há
pesquisas mostrando que a caseína [proteína do leite] pode até proteger contra
câncer de cólon. Não dá para bater o martelo."
O nutrólogo Celso Cukier engrossa o coro sobre a falta de evidências contra o
leite. "Leite integral em excesso significa gordura em excesso e pode elevar o
risco de doença arterial ou renal. Fora isso, quem não tem alergia ou
intolerância pode consumir leite como um complemento rico em nutrientes e
cálcio."
Recomendar restrição ao consumo do leite de origem animal para quem não tem
alergia ou intolerância, aliás, é proibido pelo Conselho Regional de
Nutricionistas da 3ª Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul), sob pena de
processo disciplinar.
Adriane Antunes, nutricionista, professora da Unicamp e autora do livro
"Leite para Adultos - mitos e fatos frente a ciência", afirma que as principais
consequências negativas de uma dieta pobre em cálcio são relacionadas à saúde
dos ossos e dentes e ao aumento da pressão arterial.
"De qualquer forma, é possível ter uma dieta equilibrada sem laticínios."
Editoria de Arte/Folhapress |
A empresária Ana Victoria Bueno, 39, parou de consumir leite e derivados há cerca de dois anos, como "forma de respeitar a natureza".
"Não sinto falta. Tomo leite de arroz, amêndoas e aveia. Gosto de todos", diz
ela, que toma as bebidas industrializadas (veja receitas de "leites" veganos
acima)
Ela diz que considera o consumo de leite pior que o de carnes, apesar de
também não consumi-las. "Não agrega nada, a não ser gordura. Acho que é benéfico
apenas para os bezerros."
O engenheiro Arno Bollman, também vegano, diz que aboliu o leite a partir de
três razões: a ética animal, a saúde e a questão ambiental.
"Monitoro a saúde regularmente com exames e consultas médicas", conta.
"Depois que soube o quão cruel para com as vacas é a forma de produção do leite
e de seus derivados e que encontramos as proteínas e cálcio nos vegetais, deixei
de consumir o leite e seus derivados e minha saúde só tem melhorado."
Fonte Folhaonline
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