Kuni Takahashi/ The New York Times A síndrome de encefalite aguda foi relatada pela primeira vez em 1995; a doença atinge crianças pequenas, como Sanam Kumari, 2 |
Os médicos procuram acalmar as convulsões e manter as crianças hidratadas,
mas são obrigados a assistir, impotentes, ao lado dos pais angustiados, a morte
de um terço de seus pequenos pacientes, muitas vezes em questão de horas. Então,
tão repentinamente quanto chegou, a doença misteriosa desaparece com as chuvas
das monções, no mês de julho. Ninguém sabe o porquê.
Os casebres de barro e bambu desta parte da Índia abrigam mais crianças
moribundas que qualquer outra parte do mundo. A diarreia e a desnutrição são, há
muito tempo, os grandes flagelos da região. Mas agora há também essa doença
desconhecida.
Embora as estatísticas de saúde pública sejam pouco confiáveis por aqui,
acredita-se que dezenas de milhares de pessoas por ano sejam infectadas por essa
doença -e que milhares delas morram. Os médicos sabem apenas que a doença é uma
forma de edema cerebral, ou encefalite, mas essa descrição cobre um largo
espectro de enfermidades.
Os médicos já realizaram exames para averiguar a presença de causas
conhecidas de edema cerebral, incluindo meningite e encefalite japonesa, mas os
resultados são quase sempre negativos. As autoridades de saúde da Índia dizem
que desconhecem as causas da doença.
"Esse surto acontece todos os anos, e ainda não conseguimos identificar a
causa nem um único fator responsável por ela", disse L. S. Chauhan, diretor do
Centro Nacional de Controle de Doenças da Índia. Com a ajuda dos Centros de
Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, Chauhan lançou neste ano um programa
para formar um contingente de pesquisadores da doença.
Os primeiros relatos sobre a enfermidade misteriosa datam de 1995, quando
quase mil crianças adoeceram e 300 morreram nos três hospitais de Muzaffarpur.
Desde então, houve epidemias menores quase todos os anos.
As autoridades dizem não saber se a doença surgiu em 1995 ou se simplesmente
não tinha sido detectada antes. Não apenas ela já se espalhou para áreas
próximas, como, recentemente, os pesquisadores identificaram casos semelhantes
no vizinho Nepal.
"A Índia tem um problema enorme com a encefalite", comentou Rajesh Pandey, um
dos epidemiologistas que trabalham em Muzaffarpur.
Os membros da equipe de Chauhan trabalham 14 horas por dia. Quase todas as
noites, eles se reúnem numa salinha para atualizar cartazes improvisados com
informações sobre cada caso e para debater suas teorias.
No hospital vizinho, pais comentam em tom de medo que um fantasma deve estar
irado. Alguns pintam pontos pretos sobre a testa dos irmãos dos filhos doentes,
para afastar mau olhado.
Os pesquisadores colheram amostras de sangue, urina e fluido cerebrospinal de
todas as crianças doentes deste ano -houve 133, 59 das quais morreram- e fizeram
aos pais delas mais de 150 perguntas sobre a alimentação e a água consumidas
pela criança, sobre onde e como elas dormiam e sobre seus vilarejos.
Recentemente, o Dr. Pandey visitou o vilarejo de Chotta Sindhwari e a casa de
Mohammad Nasir, conhecido apenas como Nasir, que tem dez anos e estava internado
com edema cerebral.
Pandey pediu para ver onde Nasir dormia. Os pais do garoto lhe mostraram um
quartinho numa casa de tijolos com chão de terra, telhado de bambu e uma
plataforma de madeira para dormir. Moscas voavam por toda parte, e um bode
entrou no quarto. Perto da cama, estavam empilhados sacos de milho e arroz, que
atraem ratos.
A água vinha de uma bomba nas proximidades, e havia água parada. Pandey
colheu amostras.
Ele também foi olhar um agrupamento de lichias nas proximidades. Uma teoria é
que morcegos infectados contaminem os frutos das árvores, que amadurecem de maio
a junho. Pandey comentou: "Ficarei aqui até terminarmos o trabalho".
Fonte Folhaonline
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