Foto: UERJ Policlínica Piquet Carneiro |
O anúncio foi feito na manhã de ontem (27), durante a cerimônia de posse do
grupo de trabalho que vai elaborar o projeto para a criação do Centro Integral
de Saúde. Apenas quatro hospitais fazem a cirurgia de mudança de sexo atualmente
no Brasil: no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Rio Grande do Sul e em Goiás.
O coordenador do programa estadual Rio sem Homofobia e superintendente da
Secretaria de estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Cláudio
Nascimento, informou que a meta é que o Centro Integral atenda todas as
necessidades da comunidade homoafetiva.
“Iremos nos reunir nos próximos dois ou três meses para produzir um conjunto
de diretrizes que vão orientar a produção do projeto de implantação do centro.
Vamos trabalhar para ver as questões de estrutura física, aspectos de protocolo
de atendimento, rotina de atendimentos, como integrar as diversas áreas da saúde
e também incluir as perspectivas de cidadania porque é uma população totalmente
discriminada”, disse.
Segundo Nascimento, o grupo de trabalho ainda vai buscar recursos para a
adaptação da Policlínica Piquet Carneiro para atender às necessidades de
transexuais e travestis. “A gente está buscando parcerias. O governo do estado
vai entrar com uma parte, vamos buscar no governo federal, vamos buscar em
agências internacionais de cooperação”, ressaltou.
O reitor da Uerj, Ricardo Vieiralves, disse que o Hospital Universitário
Pedro Ernesto, em Vila Isabel, na zona norte, já faz cirurgia de mudança de
sexo, porém não consegue dá conta de toda a demanda.
“É um processo longo. Tem uma avaliação clínica, uma avaliação psicológica.
Não é uma cirurgia que deve ser feita sem cuidado. Mas já estamos com uma fila
de pessoas autorizadas, que já passaram por isso, de 850 pessoas. Quer dizer, a
demanda é gigantesca”, disse o reitor.
Ricardo Vieralves declarou ainda que, por causa do tratamento hormonal
irregular, os transexuais e travestis desenvolvem várias doenças. “Vários
transexuais e travestis usam produtos inadequados. Isso significa, derivação de
câncer, derivação de outros tipos de doença. Tem problema de ordem psicológica.
Tem problema de reinserção no mercado de trabalho”.
A ideia de criação do Centro Integral de Saúde de Travestis e Mulheres e
Homens Transexuais surgiu durante uma audiência pública no dia 8 de agosto deste
ano, quando foi discutida a dificuldade enfrentada pela comunidade homoafetiva
para ter acesso aos serviços públicos de saúde. O grupo foi criado por meio de
uma publicação no Diário Oficial do Estado no dia 11 de novembro.
O primeiro homem transexual no Brasil, operado na época da ditadura militar,
João W. Nery, de 63 anos, integrante do grupo de trabalho, explicou que teve de
mudar totalmente a sua vida após a cirurgia para mudança de sexo.
“Passei 30 anos no armário porque eu era considerado criminoso. Porque depois
da cirurgia eu não podia entrar na Justiça para trocar meu nome. Tirei uma nova
identidade em um cartório, me registrei como um nome para poder trabalhar. Com
isso me tornei um analfabeto, perdi meu diploma, minha carreira toda. Hoje eu
não tenho aposentadoria”, disse.
Agência Brasil
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