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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Cada vez mais ocidentais recorrem a tratamentos chineses tradicionais

Médico tradicional chinês manipula insumos para preparações
David Gray/Reuters
Médico tradicional chinês manipula insumos para preparações
Durante uma visita a Pequim, há alguns anos, o professor de filosofia e autor americano Stephen P. Asma teve uma gripe. Com sua mulher, que é chinesa, ele foi a um restaurante em busca de um remédio. Dois garçons cortaram o pescoço de uma tartaruga viva, despejaram seu sangue em um copo com uma dose de álcool de cereais e mandaram Asma beber. Ele bebeu.
 
Naquela noite, ele se sentiu melhor. Seria efeito da poção, um remédio popular chinês? Ele não tinha certeza. Mas Asma, treinado nos princípios da prova e da lógica, se dispôs a explorar a fronteira das ciências médicas oriental e ocidental.
 
"Muitos ocidentais zombam da própria ideia de que o sangue de tartaruga possa ter efeitos medicinais", escreveu no "NYT".
 
"Mas essas mesmas pessoas podem beber uma tintura de casca de árvore ou colocar uma compressa de berinjela recomendada pelo doutor Oz para tratar câncer de pele. Estamos vivendo na vasta área cinzenta entre as sangrias e os antibióticos."
 
Mais ocidentais estão recorrendo à medicina chinesa tradicional e a outras práticas de saúde alternativas. Os americanos gastam cerca de US$ 5 bilhões por ano em suplementos fitoterápicos, muitas vezes consumidos sem aconselhamento médico. Mas, escreve Asma, "buscamos alguma validação científica para essas práticas antigas". Distinguir entre ciência e "pseudociência" é o que os filósofos chamam de "problema de demarcação".
 
Enquanto muitas pessoas confirmam a eficácia das terapias alternativas, evidências reais de que elas funcionam são raras.
 
Então que mal há em acreditar em remédios não testados, se eles parecem ajudar?
 
"Ceder um pouco à pseudociência em alguns casos pode ser relativamente inócuo, mas o problema é que fazer isso diminui suas defesas contra ilusões mais perigosas que se baseiam em confusões e falácias semelhantes", segundo Massimo Pigliucci, professor de filosofia na City University de Nova York, e Maarten Boudry, bolsista de pós-doutorado.
 
"Você pode se expor e expor outras pessoas porque suas inclinações pseudocientíficas o levam a aceitar ideias que foram cientificamente reprovadas, como a ideia popular (e preocupante) de que as vacinas causam autismo."
 
Então em quem podemos confiar? Os que acreditam nos rigores da medicina e pesquisa ocidentais foram recentemente lembrados de que nenhuma ciência é perfeita. Um grande estudo que durou cinco anos revisou radicalmente as diretrizes para se tomar estatinas, classe popular de remédios para reduzir o colesterol. Ele foi recebido com grande interesse. As estatinas, concluíram os pesquisadores, beneficiariam um grupo muito maior de pessoas do que se pensava antes, revelação que certamente impulsionou milhões de prescrições das drogas.
 
Apenas alguns dias depois, essas conclusões foram contestadas e a credibilidade das diretrizes ficou arruinada.
 
"Foi uma incompreensão catastrófica de como enfrentar esse tipo de mudança na política pública", disse ao "NYT" o doutor Steven Nissen, cardiologista da Cleveland Clinic. "Haverá uma grande reação."
 
Sobre sua própria saúde, Asma diz que é um "devoto da verdade pragmática falível".
"Apostamos em tratamentos de saúde", escreveu.
 
"Apostamos no maior número possível de opções; um pouco de acupuntura, um pouco de ibuprofeno, um pouco de sangue de tartaruga. Jogue cartas (ou remédios) suficientes e um dia a sorte cruzará o seu caminho."
 
The New York Times

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