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Pais tendem a acreditar que a alegada dor de barriga dos filhos é sempre uma desculpa. “Por alguma razão, as pessoas respeitam a dor de cabeça”, disse o Dr. Carlo Di Lorenzo, gastroenterologista pediátrico e professor de pediatria clínica da Ohio State. “Nunca vi um pai ou pediatra dizer a uma criança que se queixa de dor de cabeça: ‘Você não está com essa dor – não é real’. Mas a dor de barriga é tão real quanto a dor de cabeça”.
De fato. E a dor abdominal recorrente é comum em crianças – algo frustrante e muitas vezes difícil de explicar.
Veja o caso de uma menina que foi trazida à clínica para um exame aos dez anos de idade. Ela sofre de dor de barriga e teve uma crise naquela semana. Mas sua barriga não doía naquele exato momento.
Ela tinha sido tratada para constipação, testada para leptospirose e outros problemas. Mas seus exames de sangue e fezes ao longo de dois anos, desde o início das dores, davam completamente normais. Uma noite ela foi levada até a emergência porque sentia muita dor na barriga – mas seus exames de raio-X abdominais não apontaram problema algum.
O termo diagnóstico para esta condição comum e confusa é “dor abdominal funcional”: dor de barriga recorrente, como enunciou em 2005 a Academia Americana de Pediatria, sem “transtorno anatômico, metabólico, infeccioso, inflamatório ou neoplástico” para explicá-la.
De fato. E a dor abdominal recorrente é comum em crianças – algo frustrante e muitas vezes difícil de explicar.
Veja o caso de uma menina que foi trazida à clínica para um exame aos dez anos de idade. Ela sofre de dor de barriga e teve uma crise naquela semana. Mas sua barriga não doía naquele exato momento.
Ela tinha sido tratada para constipação, testada para leptospirose e outros problemas. Mas seus exames de sangue e fezes ao longo de dois anos, desde o início das dores, davam completamente normais. Uma noite ela foi levada até a emergência porque sentia muita dor na barriga – mas seus exames de raio-X abdominais não apontaram problema algum.
O termo diagnóstico para esta condição comum e confusa é “dor abdominal funcional”: dor de barriga recorrente, como enunciou em 2005 a Academia Americana de Pediatria, sem “transtorno anatômico, metabólico, infeccioso, inflamatório ou neoplástico” para explicá-la.
“Paciente problemático”
Quando era residente, muitas vezes sorríamos quando falávamos de dor abdominal funcional, tratando-a como um código para um paciente problemático, sintomas dúbios ou família ansiosa. No entanto, pesquisas recentes sugerem que tínhamos um pensamento biomedicamente limitado.
Os cientistas agora compreendem que a dor abdominal é transmitida por um sistema nervoso especializado que pode ser hipersensível ou hiperativo em algumas crianças. Estudos nos quais os pesquisadores inflaram balões no intestino nas crianças sugeriram que aquelas com dor abdominal funcional podem ser excepcionalmente sensíveis a qualquer distensão interna.
“Pensamos dentro de um modelo biológico-psicológico-social para a dor”, disse Joel R. Rosh, gastroenterologista pediátrico do Goryeb Children’s Hospital em Morristown, New Jersey, e professor associado de pediatria da New Jersey Medical School. “Quando uma criança diz que dói a barriga, o que me deixa louco é que as pessoas dizem ‘Não, não dói’”.
“Por que as pessoas dizem isso? A criança está sentindo algo! Quanto disso é biológico, quanto disso é psicológico, ou social?”, completou.
Levando a sério
Os cientistas agora compreendem que a dor abdominal é transmitida por um sistema nervoso especializado que pode ser hipersensível ou hiperativo em algumas crianças. Estudos nos quais os pesquisadores inflaram balões no intestino nas crianças sugeriram que aquelas com dor abdominal funcional podem ser excepcionalmente sensíveis a qualquer distensão interna.
“Pensamos dentro de um modelo biológico-psicológico-social para a dor”, disse Joel R. Rosh, gastroenterologista pediátrico do Goryeb Children’s Hospital em Morristown, New Jersey, e professor associado de pediatria da New Jersey Medical School. “Quando uma criança diz que dói a barriga, o que me deixa louco é que as pessoas dizem ‘Não, não dói’”.
“Por que as pessoas dizem isso? A criança está sentindo algo! Quanto disso é biológico, quanto disso é psicológico, ou social?”, completou.
Levando a sério
A compreensão mais clara de como essa dor se desenvolve – e como pode ser tratada – mudou a forma como os pediatras encaram o problema, mas não necessariamente tornou mais fácil o cuidado com essas crianças, a preocupação com elas e seu bem-estar.
O problema pode começar com algum insulto inicial, uma infecção ou inflamação que pode afetar séries de reações químicas relacionadas à dor na criança – e também pode deflagrar padrões psicológicos e ansiedades na criança e padrões de resposta e ansiedade nos pais.
Mas a criança continua a estar extremamente consciente de sensações que vêm do trato gastrointestinal, mesmo quando a doença inicial foi embora. O desafio para os pais – transmitido para o pediatra – é como essas dores devem ser investigadas, com que diligência, a quantos exames uma criança deve se submeter, quanto dinheiro deve ser gasto.
“Uma coisa bem estabelecida é que, quando encaminhamos o paciente a um subespecialista, o custo aumenta em cinco vezes”, disse Di Lorenzo. “Tendemos a realizar muito mais exames”. Quanto mais ansioso estiverem os pais, ele disse, mais exames devem ser feitos para tranquilizá-los.
Com a garota de dez anos, me esforcei para não encaminhá-la a um subespecialista. Ela estava bem e não apresentava nenhum dos sinais de necessidade de mais cuidados médicos.
Sugerimos que ela aprendesse técnicas para lidar com a dor abdominal e talvez consultar um psicólogo para falar sobre ansiedade. A mãe pensou que tivéssemos dito que a dor era imaginária.
“A maioria esmagadora dos dados sugere que o que ajuda as crianças é trabalhar o cérebro, mais que o intestino”, disse Di Lorenzo. “A hipnose é claramente mais eficaz do que a medicação”.
E as medicações que funcionam são muitas vezes as que agem no sistema nervoso entérico (que usa serotonina como neurotransmissor), então doses baixas de antidepressivos muitas vezes ajudam a aliviar a dor abdominal funcional.
Sugestões terapêuticas
O problema pode começar com algum insulto inicial, uma infecção ou inflamação que pode afetar séries de reações químicas relacionadas à dor na criança – e também pode deflagrar padrões psicológicos e ansiedades na criança e padrões de resposta e ansiedade nos pais.
Mas a criança continua a estar extremamente consciente de sensações que vêm do trato gastrointestinal, mesmo quando a doença inicial foi embora. O desafio para os pais – transmitido para o pediatra – é como essas dores devem ser investigadas, com que diligência, a quantos exames uma criança deve se submeter, quanto dinheiro deve ser gasto.
“Uma coisa bem estabelecida é que, quando encaminhamos o paciente a um subespecialista, o custo aumenta em cinco vezes”, disse Di Lorenzo. “Tendemos a realizar muito mais exames”. Quanto mais ansioso estiverem os pais, ele disse, mais exames devem ser feitos para tranquilizá-los.
Com a garota de dez anos, me esforcei para não encaminhá-la a um subespecialista. Ela estava bem e não apresentava nenhum dos sinais de necessidade de mais cuidados médicos.
Sugerimos que ela aprendesse técnicas para lidar com a dor abdominal e talvez consultar um psicólogo para falar sobre ansiedade. A mãe pensou que tivéssemos dito que a dor era imaginária.
“A maioria esmagadora dos dados sugere que o que ajuda as crianças é trabalhar o cérebro, mais que o intestino”, disse Di Lorenzo. “A hipnose é claramente mais eficaz do que a medicação”.
E as medicações que funcionam são muitas vezes as que agem no sistema nervoso entérico (que usa serotonina como neurotransmissor), então doses baixas de antidepressivos muitas vezes ajudam a aliviar a dor abdominal funcional.
Sugestões terapêuticas
Miranda A. L. van Tilburg, psicóloga e professora assistente de medicina da Universidade da Carolina do Norte, é a principal autora de um estudo publicado há um ano na “Pediatrics”, que mostrou bons efeitos de um tratamento chamado “imagens guiadas”.
Dávamos aos pacientes sugestões terapêuticas”, disse Van Tilburg, “como imaginar algo na mão que se derrete, como manteiga, e então colocá-lo na barriga para fazê-la melhorar, ou imaginar estar bebendo sua bebida favorita e sua barriga sendo revestida por dentro por essa camada especial”, explicou. As crianças foram mandadas para casa com CDs e instruções para praticar esse exercício regularmente como estratégia de prevenção.
Nossa paciente disse que não queria mais ver nenhum médico. Ela não queria mais exames de sangue, nem fazer exames que, conforme tinha ouvido, envolviam tubos pela garganta. Nem a mãe queria esses exames, já que, como ela disse, eles nunca encontravam nada de errado. Nenhuma das duas ficou muito animada em consultar um psicólogo, mas depois acabaram concordando.
É uma estratégia apropriada. “É muito frustrante ter esse ser alienígena na barriga”, supôs o gastroenterologista pediátrico Rosh. “E se a criança aprender que a barriga não controla a vida dela?”
E como ajudar médicos, pais e crianças a superar a ideia de que a dor abdominal funcional não é “real”, que uma criança encolhida de dor está fingindo, que tudo não passa de imaginação?
“Se tudo estivesse na cabeça da criança, ela teria cefaleia”, disse Rosh. “Claramente há algo acontecendo em sua barriguinha”.
* Perri Klass é pediatra, mãe e escritora
Nossa paciente disse que não queria mais ver nenhum médico. Ela não queria mais exames de sangue, nem fazer exames que, conforme tinha ouvido, envolviam tubos pela garganta. Nem a mãe queria esses exames, já que, como ela disse, eles nunca encontravam nada de errado. Nenhuma das duas ficou muito animada em consultar um psicólogo, mas depois acabaram concordando.
É uma estratégia apropriada. “É muito frustrante ter esse ser alienígena na barriga”, supôs o gastroenterologista pediátrico Rosh. “E se a criança aprender que a barriga não controla a vida dela?”
E como ajudar médicos, pais e crianças a superar a ideia de que a dor abdominal funcional não é “real”, que uma criança encolhida de dor está fingindo, que tudo não passa de imaginação?
“Se tudo estivesse na cabeça da criança, ela teria cefaleia”, disse Rosh. “Claramente há algo acontecendo em sua barriguinha”.
* Perri Klass é pediatra, mãe e escritora
Delas
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