Tribo Huni Kuin, do AC, apresenta plantas medicinais no ‘Livro da cura’
Na entrada da oca de dez metros de altura feita de madeira e palha, uma placa tem os dizeres hanlishli kayanai. É um “espaço de cura” esse lugar erguido em pleno Parque Lage, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, para abrigar uma série de eventos que começa hoje e gira em torno do lançamento de “Una Isi Kayawa — Livro da cura” (Dantes Editora), uma publicação que apresenta informações detalhadas sobre o poder medicinal de plantas usadas há gerações pelo povo indígena Huni Kuin, do Acre.
Na entrada da oca de dez metros de altura feita de madeira e palha, uma placa tem os dizeres hanlishli kayanai. É um “espaço de cura” esse lugar erguido em pleno Parque Lage, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, para abrigar uma série de eventos que começa hoje e gira em torno do lançamento de “Una Isi Kayawa — Livro da cura” (Dantes Editora), uma publicação que apresenta informações detalhadas sobre o poder medicinal de plantas usadas há gerações pelo povo indígena Huni Kuin, do Acre.
Chegada. Canto e prece para agradecer a vinda ao Rio e pedir proteção dos espíritos na oca montada no Parque Lage - Agência O Globo
São 32 tribos com cerca de 7.500 pessoas da etnia em torno do rio
Jordão. Ontem, chegaram alguns de seus representantes e integrantes do
projeto. Com rostos pintados, colares de miçangas e trajes de linhas
coloridas, eles se reuniram para um canto de chegada. De mãos dadas, o
pajé José Matus Itsairu puxava um rito, seguido pelos demais.
— É um canto para agradecer pela nossa vinda, além de chamar as forças dos espíritos para proteger esse lugar — explicou.
Itsairu
é filho do pajé Agostinho Ïka Muru, o idealizador do projeto, que
morreu em 2011 ainda durante a fase de pesquisa. Ele tinha cadernos de
anotações cheios de desenhos de plantas, e seu sonho, conta Itsairu, era
sistematizar e difundir o conhecimento ancestral não só para seus
pares, mas abri-lo à sociedade.
— Agostinho era um cientista da
floresta. Ele vinha há mais de 30 anos registrando informações e tinha
medo de que o saber fosse perdido — comentou o taxonomista Alexandre
Quinet, que se incumbiu da difícil tarefa de fazer a ponte entre o
conhecimento indígena oral e a ciência tradicional. — São lógicas
diferentes, por isso o que fizemos foram transcrições literais das
palestras gravadas. Até porque o livro também é para eles.
Não à toa, os primeiros mil exemplares foram produzidos com papel
feito de garrafas PET para resistir à umidade das florestas. Foram
necessárias várias viagens e oficinas, além de registros fotográficos e
audiovisuais. Das 351 amostras dos cadernos do pajé, 109 estão descritas
no livro, com informações catalogadas por taxonomistas do Instituto de
Pesquisas Jardim Botânico.
Registro da tradição milenar
Há
um mês, a presidente Dilma Rousseff encaminhou ao Congresso um
anteprojeto de lei obrigando empresas interessadas nos conhecimentos de
povos indígenas a obter a autorização deles. Esse livro, diz Quinet, dá
poder às etnias e registra oficialmente sua sabedoria.
A
programação intensa se estende de hoje ao dia 27 e inclui conversas,
cantos, exposição fotográfica e exibição de vídeos de Zezinho Yube,
ativista indígena:
— Eles contam a história do nosso povo, que
vivia em malocas, teve contato com seringueiros no início do século XX,
começou a trabalhar com isso e, depois, recuperou seu território e está
revitalizando sua cultura.
Até o final da estada, o grupo
aproveitará para conhecer o Rio. A primeira atividade do casal Adelino e
Maria Kaxinawá (outro nome dado à tribo) foi ver o mar pela primeira
vez:
— Era exatamente o que imaginava: o som, o movimento. Ficamos gratos com a experiência.
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