Foto: BBC - Natalie precisou ser levada às pressas ao hospital após parar de respirar |
Nos EUA, cresce a popularidade de cirurgias arriscadas para aumento dos glúteos; em muitos casos, corpo fica desfigurado
As cirurgias plásticas para aumento de bumbum estão em alta nos
Estados Unidos - mas muitas mulheres estão se submetendo a procedimentos
e técnicas ilegais e arriscados para baratear os preços, que podem
chegar a milhares de dólares.
Natalie
Johnson, de Miami, na Flórida, tomou injeções para aumentar o tamanho
dos glúteos. Ela trabalhava de dançarina e acreditava que um traseiro
maior lhe traria rendimentos financeiros.
Acabou com cicatrizes e
sofreu com as dores. Em sua casa, Natalie mostrou à BBC as fotos de seu
corpo com manchas escuras e sinais de decomposição do tecido após o
procedimento.
"Eu não precisava, eu era perfeita sem
isso. Eu tinha um estilo de vida no qual eu sentia que, se tivesse um
traseiro grande, poderia ganhar mais dinheiro", disse.
'Profissional'
A decisão de se submeter ao procedimento veio depois que ela encontrou uma pessoa que alegava ser médico. O homem ofereceu o serviço por um preço que era apenas uma fração do que normalmente é cobrado em clínicas.
A decisão de se submeter ao procedimento veio depois que ela encontrou uma pessoa que alegava ser médico. O homem ofereceu o serviço por um preço que era apenas uma fração do que normalmente é cobrado em clínicas.
Segundo Natalie,
O’Neal Morris foi até a casa dela usando um jaleco branco e "parecendo
profissional", e injetou uma substância em suas nádegas usando uma
seringa.
Inicialmente os resultados foram bons: os glúteos ficaram
mais redondos e firmes, perto do objetivo dela, de ter um "corpo com o
formato de uma garrafa de Coca-Cola".
Os problemas começaram
depois de duas sessões. "Comecei a ficar muito, muito doente. Notei que
(o implante) estava começando a desintegrar e meu traseiro ficou
enrugado", disse.
A dor que ela ainda enfrenta é tão forte que é
difícil para Natalie ficar sentada por muito tempo. Ela precisa da ajuda
da filha de nove anos para fazer as tarefas mais básicas.
Em uma ocasião, Natalie foi levada às pressas para o hospital após parar de respirar.
Em janeiro, Morris começou a cumprir pena de um ano de prisão por prática de medicina sem licença.
As mulheres que testemunharam durante o julgamento disseram que Morris, que não é formado, havia injetado uma variedade de substâncias incluindo cimento, supercola e selante de pneu.
As mulheres que testemunharam durante o julgamento disseram que Morris, que não é formado, havia injetado uma variedade de substâncias incluindo cimento, supercola e selante de pneu.
O FBI diz que o número de
casos de pessoas que se apresentam como médicos falsos para realizar
cirurgias desse tipo está em alta, especialmente na Flórida, em Nova
York, na Califórnia e no Texas.
Consertando o estrago
Em sua clínica em um subúrbio de Miami, o cirurgião plástico Alberto Gallerani mostra frascos contendo materiais retirados das nádegas de pacientes. Entre eles, azeite e supercola.
Em sua clínica em um subúrbio de Miami, o cirurgião plástico Alberto Gallerani mostra frascos contendo materiais retirados das nádegas de pacientes. Entre eles, azeite e supercola.
Gallerani vem tratando
Natalie e centenas de outras mulheres e homens interessados em cirurgia
corretiva após procedimentos errôneos.
Ele exibe fotos do que pode
dar errado. Elas são fortes demais para serem publicadas. As cicatrizes
são horríveis e em alguns casos a pele mudou de cor. Outras imagens
mais extremas mostram o corpo totalmente desfigurado.
Gallerani diz que, em muitos casos, os sintomas podem levar vários anos para aparecer.
"O que muitas das pessoas que fazem isso não percebem é que elas estão colocando uma bomba-relógio em seus corpos", compara.
Ele diz receber cem chamadas por semana de pessoas pedindo ajuda.
Cirurgias
nas nádegas são cada vez mais comuns nos EUA. Em 2013, o número destes
procedimentos dobrou em relação ao ano anterior, de acordo com a
Associação Americana de Cirurgiões Plásticos Estéticos.
O custo
chega a milhares de dólares, o que explica os motivos de muitas mulheres
estarem optando por intervenções não regulamentadas e métodos mais
baratos.
Pressão do meio
A cultura hip-hop celebra um traseiro maior, e a pressão sobre as mulheres é enorme, diz Tee Ali, um agente de artistas em Londres.
A cultura hip-hop celebra um traseiro maior, e a pressão sobre as mulheres é enorme, diz Tee Ali, um agente de artistas em Londres.
Sua cliente e amiga,
Claudia Aderotimi, de 20 anos, morreu em 2011, depois de voar de Londres
para a Filadélfia para receber injeções de uma mulher que conheceu na
internet.
Os médicos acreditam que as próteses de silicone ilegais
se espalharam por seus órgãos, matando-a. A pessoa acusada de realizar o
procedimento deve ser julgada no ano que vem.
Ali diz que Claudia acreditava que ter nádegas maiores a ajudaria a ter sucesso na indústria da música.
"Quando
as meninas saem e uma delas tem um bumbum grande, ela recebe toda a
atenção. Ela vai ter tudo, elevadores exclusivos, bebidas gratuitas",
diz ele.
"Todo mundo sabe, as meninas com bumbuns maiores recebem mais atenção, grandes ofertas de trabalho e demanda maior".
Tragicamente,
Claudia não está viva para alertar outras pessoas sobre os perigos de
procedimentos ilegais. Mas Natalie acredita que através de sua história,
outras mulheres podem ser salvas.
"Fique com o que Deus lhe deu", diz. "Eu digo a garotas: se não está quebrado não conserte. Você é linda do jeito que você é."
BBC Brasil / iG
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