Nossa Senhora das Graças, em Canoas (RS), testa solução da Totvs e da
Microsoft. Objetivo: melhorar ‘relacionamento’ de médicos e enfermeiros
com os dispositivos
Se ainda soa um pouco pretencioso discutir o impacto da adoção massiva
do prontuário eletrônico do paciente (PEP) nas instituições brasileiras
de saúde, incluir o fator mobilidade quase empurra a equação para o
terreno da fantasia. Isso porque, mais do que vencer questões como custo
de implantação e capacidade técnica dos hospitais de agregar
dispositivos móveis à infraestrutura de TI, trata-se de superar uma
barreira bem mais importante: a da usabilidade.
“Mais importante” porque, até aqui, a maioria das tentativas de colocar dispositivos móveis na rotina de médicos e enfermeiros encontrou uma resistência compreensível: alimentar o prontuário eletrônico nestas soluções é considerado uma tarefa que atrasa o atendimento. A digitação é incômoda, lenta, travada por interfaces que muitas vezes desconsideram os processos internos de cada instituição – o que, dada sua variabilidade e aliviando a barra dos fabricantes, não é mesmo uma tarefa das mais fáceis.
Por isso é interessante observar projetos-piloto como o que a Totvs e a Microsoft vem desenvolvendo no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. O produto implantado é o PEP Mobile 5 Certos - referindo aos “cinco certos da enfermagem”, ou seja, medicamento certo para o paciente certo, na dosagem e horário certos e pela via de administração certa.
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Trata-se de usar tablets a beira de leito para que o corpo clínico e assistencial faça todos os registros do atendimento enquanto ele acontece – e não depois, na sala de enfermagem ou consultório médico, quando o profissional vai precisar contar com a memória para descrever a condição de cada pessoa atendida. É possível, entre outras rotinas, fazer a leitura do código de barras na pulseira do paciente e identificar e cadastrar informações, ou solicitar exames de forma mais ágil.
Até aí falamos de recursos que qualquer projeto de mobilidade hospitalar pode reivindicar. No caso deste em particular, a diferença está na forma de encarar os dados. “Nos últimos 10 anos a gente vem em uma caminhada em que o desafio era entender a estrutura dos dados no prontuário eletrônico. Pode-se dizer que o PEP de hoje é de segunda geração”, explica Nelson Pires, diretor da área de saúde da Totvs, referindo-se à migração das tabelas tradicionais para os metadados em estruturas não cíclicas.
Traduzindo o tecniquês: os bancos de dados atuais, mais livres, permitem coletar informação de forma descolada da interface. O PEP, explica Nelson, passa a ser um cubo de dados que se adequa às circunstâncias de atendimento, ou seja, a tela muda conforme o estágio em que se encontra o paciente no fluxo assistencial. Assim os dados podem ser visualizados de várias formas.
“Mas a gente sabe que o profissional de saúde, no encontro com o software, é diferente. Estamos estudando variações. O tablet é uma delas, o reconhecimento de voz é outra”, conta o executivo, quando pergunto sobre outro projeto piloto, também com participação da Totvs, no Hospital Israelita Albert Einstein, que utiliza tecnologia de reconhecimento de voz para preencher os prontuários sem necessidade de digitação. “A gente acredita que ainda vai haver evolução. O reconhecimento de voz é um passo largo”, diz.
Desempenho
A solução de mobilidade, já inclusa no portfólio da Totvs, é produto da Aliança Estratégica em Saúde, que inclui, além da desenvolvedora brasileira de softwares e a Microsoft, o Hospital Israelita Albert Einstein e a Intel. Embora seja uma tecnologia nova, a base para a implantação no Hospital Nossa Senhora das Graças é antiga: o hospital utiliza um ERP específico para Saúde a no mínimo dez anos, tendo a cerca de cinco unificado o ambiente na plataforma da Totvs.
“De 2009 pra cá a gente melhorou muito a performance, com crescimento de 10% ao ano. O software da Totvs tem um BI que oportuniza colher a informação que a gente quiser e montar relatórios com nossa própria infraestrutura de TI”, explica Marlis Bergmann, superintendente do hospital gaúcho. “[O BI] Nos levou a levar decisões mais assertivas, pois hoje a gente consegue analisar o processo de custos em detalhes, agulha a agulha, seringa a seringa.”
Segundo a gestora, essa riqueza de dados e relatórios permitiu melhorar as condições de negociação com o gestor do Sistema Único de Saúde (SUS). “Conseguimos negociar contratos que hoje pagam os custos do hospital”, explica Marlis. Filantrópico, o HNSG atende uma série de convênios, mas a maior parte da receita ainda vem do sistema público.
Assim, a opção por participar do piloto da solução móvel representa uma tentativa de melhorar a governança clínica de uma casa já “em ordem”. “O benefício que a gente tem em participar deste projeto é contribuir para que a solução venha pro mercado em um tablet de fácil manuseio e contemple a prática diária da enfermagem de forma a facilitar a vida do pessoal e com isso garantir a segurança do processo assistencial”, conta Marlis.
Nelson explica que Totvs e Microsoft estão fazendo uma coleta de dados minuciosa para medir o impacto da PEP Mobile 5 Certos na rotina do atendimento hospitalar, e que para o HNSG servir de referência futura de mobilidade à beira do leito alguns ajustes serão necessários. “Isto está dentro do roadmap de desenvolvimento do produto”, diz.
Instituição e fabricante, no entanto, parecem otimistas de que os tablets trarão a performance clínica e o custo benefício necessário. “A comunicação é um fator determinante pra atingir melhores resultados. A TI tem que estar a serviço dos processos de comunicação para melhorar, facilitar”, sentencia Marlis. “No caso do hospital é o paciente sair melhor do que chegou.”
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