Depois de ganhar a fama como a “droga da obediência”
por ser muito receitada para crianças com sintomas de Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o metilfenidato – mais
conhecido pelo nome comercial Ritalina –, vem agora sendo usado de forma
indiscriminada e, na maioria das vezes, sem orientação médica por
estudantes e concurseiros.
Pelas redes sociais
não é difícil encontrar alunos relatando o uso da “pílula da
inteligência” ou a “droga dos concurseiros” para “turbinar” os estudos.
Um exemplo é a estudante de obstetrícia Pollyana Garcia, 18, que usou o
remédio “para se concentrar melhor”. “Eu usei uma vez porque estava
muito nervosa com a prova e passei quase a noite inteira estudando.
Minha mãe falou para eu tomar, mas que seria a única vez porque ela
também tinha medo de causar dependência. Eu consegui fazer a prova sem
ficar muito nervosa”.
Essa prática
perigosamente comum atualmente de fazer uso do medicamento como
aprimoramento cognitivo, ou seja, com a finalidade de melhorar o
desempenho nos estudos e no trabalho, é um dos motivos para o
crescimento de 775% no consumo da droga, entre 2003 (94 kg) e 2012 (875
kg), segundo a psicóloga Denise Barros.
O
número faz parte de sua tese de doutorado pela Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (UERJ), com base em dados da Organização das Nações
Unidas (ONU).
“Ainda não existem muitas
pesquisas clínicas sobre os efeitos e consequências desse uso por
pessoas saudáveis, mas o que já se tem notícia é que a Ritalina é uma
medicação com grande risco de abuso e classificada pela ONU entre os
grupos de maior perigo para a saúde”, alerta.
A
estudante de farmácia, Daniele Santos, 25, também conta que usou a
Ritalina por dois anos sem indicação médica. “O meu objetivo era ter
mais concentração, mas sentia muitos efeitos colaterais, como
irritabilidade, corpo cansado e insônia”, comenta.
Consumo
De 2010 para 2013, o número de caixas de Ritalina vendidas no Brasil
passou de 2,1 milhões para 2,6 milhões, de acordo com os dados da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Para tentar entender o uso do medicamento, Denise entrevistou 11 homens
e cinco mulheres, entre 23 e 48 anos, e percebeu que a maioria dos
entrevistados que usavam a droga tiveram a indicação primeiramente de um
amigo. Por isso, ela acredita ser difícil avaliar até onde os
resultados significavam um efeito do próprio remédio ou como se fosse um
placebo, uma vez que os usuários já sabiam do funcionamento da
Ritalina.
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Além disso, as entrevistas demonstraram que, quando a medicação foi receitada por médicos, as indicações eram para cansaço, falta de concentração e distração nos estudos. “Hoje em dia, as pessoa são muito mais requisitadas para ter uma maior disciplina da atenção e isso torna qualquer falha mais prejudicial, fazendo com que elas se pareçam mais desatentas. O papel do médico e dos remédios na vida das pessoas mudou”, afirma.
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Uso de remédio não melhora concentração de jovens saudáveis
Além disso, as entrevistas demonstraram que, quando a medicação foi receitada por médicos, as indicações eram para cansaço, falta de concentração e distração nos estudos. “Hoje em dia, as pessoa são muito mais requisitadas para ter uma maior disciplina da atenção e isso torna qualquer falha mais prejudicial, fazendo com que elas se pareçam mais desatentas. O papel do médico e dos remédios na vida das pessoas mudou”, afirma.
Para Denise, como o medicamento favorecia que os usuários se
concentrassem em atividades chatas, eles acabavam não avaliando se era
isso mesmo o que eles queriam da própria vida ou não. “O remédio
aumentava o ritmo sem que eles fizessem uma avaliação”, afirma.
Sem efeito
Segundo
Denise Barros, alguns alunos mostraram melhora na concentração e no
rendimento nas primeiras quatro semanas, mas o efeito não continuou
depois.
O Tempo
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