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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Feridas no útero nem sempre são tratadas com cauterização

Ectrópio tem mais chance de contaminação na presença de HPV ou secreção excessiva 

Por Dra. Barbara Murayama  

O colo do útero é a parte do útero que vemos na vagina quando realizamos a coleta de Papanicolau. A parte externa do colo, que é a que vemos quando introduzimos o aparelho espéculo (bico de pato) é revestida por um tipo de tecido mais resistente. A parte interna, que reveste o canal endocervical, vai da vagina até a cavidade do útero (é por esse canal que transitam os espermatozoides) e é coberta por um tecido mais delicado.

 Quando uma parte da pele que reveste o canal endocervical se expõe ao meio vaginal - como se essa pele se invertesse - ocorre o que nós médicos chamamos de ectopia ou ectrópio e alguns ainda insistem em chamar de "feridinha", o que acaba por confundir as mulheres. O ectrópio é saudável, mas tem uma aparência avermelhada. Isso pode acontecer por diversas razões, como a exposição aos próprios hormônios femininos, ou o tecido do canal pode avançar e recobrir parte da porção externa do colo do útero. 

A ectopia é mais susceptível a se contaminar com doenças, caso a mulher se exponha, por ser um tecido mais delicado. Por isso, devemos reforçar orientações como uso de preservativo para essas mulheres e vacinação para HPV.
 
 

O ectrópio é comum em adolescentes. Após a adolescência, podem ser observados em mulheres que usam pílula, mulheres grávidas ou as que tiveram uma laceração do colo do útero durante o trabalho de parto. 

Cauterização nem sempre é necessária
O ectrópio não deve ser tratado de rotina, exceto na ocorrência de secreção excessiva ou lesões causadas por infecções como HPV. Nesses casos, a doença maligna deve ser excluída antes de iniciar qualquer tratamento através de colposcopia e biópsia. Se a mulher apresentar sintomas como sangramento durante ou após as relações sexuais, sangramentos anormais fora do período menstrual e corrimentos recorrentes o risco é maior. Além de alterações nos exames de rotina, como o Papanicolau e colposcopia, talvez haja indicação de cauterização.

A ectopia é um tecido saudável, porém mais delicado e, portanto, tem mais chances de adoecer. Uma indicação precisa de cauterização do colo uterino de acordo com a Sociedade Americana de Colposcopia e Patologia Cervical são os casos em que há a chamada lesão de baixo grau causada por HPV ou NIC 1, que persiste após dois anos de acompanhamento.

Existem diversas técnicas de cauterização do colo do útero. A cauterização é uma queimadura desse tecido com o objetivo de estimular a regeneração deste para melhora dos sintomas. Há diversas técnicas que podem ser utilizadas. Um procedimento usando eletrocautério ou criocauterização é eficaz, mas não deixa de ser invasivo e pode resultar em corrimento vaginal abundante até que a cura seja concluída, o que pode levar semanas.  Também pode resultar em fechamento do canal cervical, o que pode afetar negativamente a fertilidade futura e, se a gravidez for alcançada, o trabalho tem mais chances de ser difícil, uma vez que o colo pode não se dilatar corretamente por conta da cicatrização.

A cauterização a laser parece menos agressiva, por apresentar um melhor controle da quantidade de tecido agredido. Também é possível utilizar a cauterização química ou mesmo tentar tratamento com medicações pela vagina.  Mas a escolha da técnica dependerá de diversos fatores e deve ser individualizada de acordo com a avaliação médica. A maioria das vezes poderá ser feita sem anestesia em caráter ambulatorial.

No geral, as taxas de complicações citadas acima são baixas, cerca de 1 a 2% após terapia de cauterização.

Enquanto a mulher estiver em idade fértil existe risco de o problema voltar e haver a necessidade de nova cauterização. Mulheres com ectopia extensa devem ser orientadas sobre opções de métodos anticoncepcionais não hormonais, já que a pílula piora o quadro.

 A recuperação após uma cauterização se dá em algumas semanas, pode haver sangramento, corrimento, cólica. A mulher deve se manter sem relações sexuais até a liberação médica. Evitar também banhos de mar e piscina nesse período.

O mais importante é manter visitas regulares a ginecologista e esclarecer dúvidas.

Minha Vida

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