Observando o modo de vida dos caboclos de sua propriedade, o consagrado escritor Monteiro Lobato (1882-1948),
transporta para a literatura as suas inquietações, insatisfações e
dissabores com relação a preguiça e vagabundagem do homem do campo
Assim, para representar fielmente o caboclo do Vale da Paraíba, – “homem amarelo, franzinho, inerte, que provoca a morte dos animais, queimadas, e possui baixa produção”,
Monteiro semeia, na obra “Urupês”, o personagem Jeca Tatu, onde,
desfazendo-se da imagem do caboclo romântico, constrói o anti-herói, o
caboclo preguiçoso, piolho da terra, que vive de cócoras, sem aptidões.
Participando ativamente dos debates em torno da campanha pelo saneamento nas áreas rurais, Lobato se depara com os problemas causados pelas péssimas condições de higiene e fraqueza do homem do campo. Assim o escritor, percebendo que sua criaturinha possuía mais problemas que a preguiça, curvou-se a realidade, e para desculpar-se do erro cometido, verificou que “os caipiras eram barrigudos e preguiçosos por motivo de doenças”. O homem do campo era vítima da falta de higiene e saneamento básico, tendo as suas entranhas corroídas por um parasito adquirido.
Consciente das angústias e fatos que acometem os “Jecas da vida”,
Monteiro resolve dar uma nova direção para a história, criando o Jeca
Tatuzindo, que segundo ele: “padecia dos
mesmos males, no entanto,após entrar em contato com a ciência médica,
curava-se das moléstias que o levavam a ser indolente; tornava-se
trabalhador, enriquecia e transformava-se em exemplo para os vizinhos.”
A nova história a ser contada faz parte de uma campanha objetivando esclarecer a população brasileira sobre a ancilostomíase.
O parasito, Ancylostoma duodenale, é agora o causador do “caboclo amarelo e franzinho”, e deve ser combatido para livrar o sertanejo do “mal” de seu corpo. Assim, Monteiro Lobato libera o personagem Jeca Tatu para a participar da campanha nacional contra o amarelão. Lobato, a fim de esclarecer sua nova posição, afirmou no jornal O Estado de São Paulo que “O Jeca não é assim, está assim., .(...) a saúde pública brasileira vai mal e a apatia do caipira é decorrente de suas enfermidades, destacando-se a anciosmose, a leishmaniose, a tuberculose e a subnutrição., em particular, o incômodo causado pelo verme Ancylostoma duodenale.”
O parasito, Ancylostoma duodenale, é agora o causador do “caboclo amarelo e franzinho”, e deve ser combatido para livrar o sertanejo do “mal” de seu corpo. Assim, Monteiro Lobato libera o personagem Jeca Tatu para a participar da campanha nacional contra o amarelão. Lobato, a fim de esclarecer sua nova posição, afirmou no jornal O Estado de São Paulo que “O Jeca não é assim, está assim., .(...) a saúde pública brasileira vai mal e a apatia do caipira é decorrente de suas enfermidades, destacando-se a anciosmose, a leishmaniose, a tuberculose e a subnutrição., em particular, o incômodo causado pelo verme Ancylostoma duodenale.”
O “amarelão” é conhecido desde tempos imemoriais, e caracteriza-se no homem por parasitismo intenso e considerável anemia; Avicena,
o mais famoso médico persa, que viveu no século X da nossa Era, foi o
primeiro a encontrar os vermes nos intestinos dos pacientes, e
responsabilizá-los pela anemia espoliativa, de evolução lenta e
progressiva, acompanhadas de perturbações gastrointestinais, depressão
mental e física, por serem os mesmos hematófagos (sugadores de sangue).
Estimuladas pelo calor da pele de seus futuros hospedeiros, as larvas atravessam a superfície da mesma, por entre as fissuras ou poros, valendo-se das bordas desses poros como suporte auxiliar de seu caminho posterior, e penetram através das fissuras horizontais, folículos ou aberturas das glândulas sudoríparas, conforme a natureza da pele exposta. No caminho de sua penetração na epiderme, a cápsula, se ainda não inteiramente expulsa, é deixada; o maior número delas e encontrado nos capilares linfáticos do derma, e pequeno número penetram diretamente nos capilares sanguíneos; algumas ficam vagando, muitas vezes, nas camadas superficiais da pele, penetrando no tecido gorduroso e não raro no muscular. As lavas que caem nos linfáticos, são levadas primeiro aos gânglios linfáticos, onde muitas vezes são destruídas, atacadas pelas próprias células linfáticas de defesa, que se fixam firmemente á cutícula das lavas e as matam; Muitas delas, não sendo vítimas dessas células de defesa natural do organismo paralisado, atravessam os gânglios, e caindo no ducto torácico e na corrente circulatória, sendo conduzidas pelos vasos sanguíneos, vão ter ao coração direito, de onde são levadas pela artéria pulmonar até o próprio pulmão; neste órgão, caem nos alvéolos pulmonares, possivelmente atraídas pela presença do oxigênio. Uma vez nos alvéolos, tendo caminhado a curta distância até os brônquios, o epitélio ciliado empurra as larvas pelo caminho restante até a boca do animal hospedeiro. Esse último caminho é apenas mecânico, estimulando a secreção de muco que embebe as larvas, provocando tosse. Tal tosse, chamada tosse chistosa, característica do parasitismo por vermes que efetuam o chamado Ciclo de Looss, acabado de ser descrito, é sintoma que serve para caracterização clinica do parasitismo. A tosse que ocorre por irritação da mucosa das vias aéreas, provocada pela própria larva embebida em muco, serve como meio de ser a mesma deglutida, caindo então no estômago, e daí, para os intestinos, para completarem assim todo o caminho para se estabelecerem definitivamente neste último órgão, agora então como parasitas plenamente desenvolvidos, aptos a sugarem sangue de suas vítimas, e causando todos os malefícios decorrentes.
Estimuladas pelo calor da pele de seus futuros hospedeiros, as larvas atravessam a superfície da mesma, por entre as fissuras ou poros, valendo-se das bordas desses poros como suporte auxiliar de seu caminho posterior, e penetram através das fissuras horizontais, folículos ou aberturas das glândulas sudoríparas, conforme a natureza da pele exposta. No caminho de sua penetração na epiderme, a cápsula, se ainda não inteiramente expulsa, é deixada; o maior número delas e encontrado nos capilares linfáticos do derma, e pequeno número penetram diretamente nos capilares sanguíneos; algumas ficam vagando, muitas vezes, nas camadas superficiais da pele, penetrando no tecido gorduroso e não raro no muscular. As lavas que caem nos linfáticos, são levadas primeiro aos gânglios linfáticos, onde muitas vezes são destruídas, atacadas pelas próprias células linfáticas de defesa, que se fixam firmemente á cutícula das lavas e as matam; Muitas delas, não sendo vítimas dessas células de defesa natural do organismo paralisado, atravessam os gânglios, e caindo no ducto torácico e na corrente circulatória, sendo conduzidas pelos vasos sanguíneos, vão ter ao coração direito, de onde são levadas pela artéria pulmonar até o próprio pulmão; neste órgão, caem nos alvéolos pulmonares, possivelmente atraídas pela presença do oxigênio. Uma vez nos alvéolos, tendo caminhado a curta distância até os brônquios, o epitélio ciliado empurra as larvas pelo caminho restante até a boca do animal hospedeiro. Esse último caminho é apenas mecânico, estimulando a secreção de muco que embebe as larvas, provocando tosse. Tal tosse, chamada tosse chistosa, característica do parasitismo por vermes que efetuam o chamado Ciclo de Looss, acabado de ser descrito, é sintoma que serve para caracterização clinica do parasitismo. A tosse que ocorre por irritação da mucosa das vias aéreas, provocada pela própria larva embebida em muco, serve como meio de ser a mesma deglutida, caindo então no estômago, e daí, para os intestinos, para completarem assim todo o caminho para se estabelecerem definitivamente neste último órgão, agora então como parasitas plenamente desenvolvidos, aptos a sugarem sangue de suas vítimas, e causando todos os malefícios decorrentes.
Yokogawa (1926), através de experiências, descobriu que a maioria das
lavas se desenvolve diretamente, sem migrações através da pele,e que
poucas penetram nas paredes do canal alimentar.
O tratamento na época era feito pela utilização de um vermífugo por via
oral. No Brasil, o parasito, Ancylostoma duodenale, recebeu vários
nomes, tais quais: Opilação, Amarelão ou Anemia Tropical.
Também para alívio de sua consciência, em 1910 Monteiro Lobato deixa a imagem de seu personagem caipira assumir o papel de garoto propaganda do laboratório paulista fundado por Cândido Fontoura. Supostamente, o antianêmico (ferro para o sangue e fósforo para os nervos e músculos) veio mudar a situação do Jeca, que tornou-se robusto após combater a vermifucação.
Também para alívio de sua consciência, em 1910 Monteiro Lobato deixa a imagem de seu personagem caipira assumir o papel de garoto propaganda do laboratório paulista fundado por Cândido Fontoura. Supostamente, o antianêmico (ferro para o sangue e fósforo para os nervos e músculos) veio mudar a situação do Jeca, que tornou-se robusto após combater a vermifucação.
Sem perda de tempo, o escritor idealiza e coloca em pratica o novo personagem, o Jeca
Tatuzinho, que após tomar o biotônico, teve suas forças refeitas. Assim surgiu o Almanaque do Jeca Tatu, idealizado por Monteiro e editado e distribuído pelo Laboratório Fontoura.
O almanaque explicava com simples palavras ao povo brasileiro, através de Jeca, como o parasito se apropriava de seus corpos através da pele, qual era o ciclo e como os ovos eliminados pelas fezes permaneciam no solo e que para seu bem o caboclo não deveria mais utilizar as bananeiras para as suas necessidades fisiológicas. Deveriam sim andar calçado com suas botinas, na época feitas de couro cru e fabricado de forma artesanal, para evitar a contaminação. Neste período, mais de noventa por cento da população andava descalça e não tinham noções básicas de higiene pessoal, com o almanaque, a população ficou ciente de que os ovos do parasito no solo produziriam as lavas que retornaria através da sola dos pés, e para completar o ciclo as lavas cairiam na circulação; desenvolveriam-se; fixavam-se nas paredes intestinais; aptos a sugarem sangue de suas vítimas e botarem novos ovos para ser expelidos pelas fezes.
O almanaque explicava com simples palavras ao povo brasileiro, através de Jeca, como o parasito se apropriava de seus corpos através da pele, qual era o ciclo e como os ovos eliminados pelas fezes permaneciam no solo e que para seu bem o caboclo não deveria mais utilizar as bananeiras para as suas necessidades fisiológicas. Deveriam sim andar calçado com suas botinas, na época feitas de couro cru e fabricado de forma artesanal, para evitar a contaminação. Neste período, mais de noventa por cento da população andava descalça e não tinham noções básicas de higiene pessoal, com o almanaque, a população ficou ciente de que os ovos do parasito no solo produziriam as lavas que retornaria através da sola dos pés, e para completar o ciclo as lavas cairiam na circulação; desenvolveriam-se; fixavam-se nas paredes intestinais; aptos a sugarem sangue de suas vítimas e botarem novos ovos para ser expelidos pelas fezes.
Examinando a história do progresso rural, percebemos a incrível
contribuição que representou o personagem Jeca Tatu para o
desenvolvimento da medicina nacional, em tempos em que era escassa a
preocupação com a saúde do povo brasileiro.
Mais que um escritor brasileiro, Lobato é o próprio guia da nacionalidade; com sua literatura, ele tencionou salvar o caboclo dos males da terra, e levando o conhecimento sobre a importância do saneamento e das condições de higiene, inegavelmente obteve resultados positivos.
Referências:
1.LOBATO, Monteiro. Urupês. In: Obras completas de Monteiro Lobato. São Paulo: Brasiliense, 1957.
Mais que um escritor brasileiro, Lobato é o próprio guia da nacionalidade; com sua literatura, ele tencionou salvar o caboclo dos males da terra, e levando o conhecimento sobre a importância do saneamento e das condições de higiene, inegavelmente obteve resultados positivos.
Referências:
1.LOBATO, Monteiro. Urupês. In: Obras completas de Monteiro Lobato. São Paulo: Brasiliense, 1957.
2.PACHECO, RE. "Jeca Tatu: A medicina de Monteiro Lobato." Disponível em: http://encipecom.metodista.br/mediawiki/index.php/Jeca_Tatu:_a_medicina_de_Monteiro_Lobato 3.REY, L. “Um século de experiência no controle da ancilostomíase”. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 34(1):61-67, jan-fev, 2001.
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