Por Dr. Danilo Höfling Endocrinologista e Metabologista
A causa mais comum de aumento persistente da glicose no sangue (hiperglicemia) é o diabetes mellitus. Outros fatores, tais como as infecções agudas graves e a ingestão de alguns medicamentos (exemplo: corticoides) podem provocar hiperglicemia temporária.
A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas, a qual facilita a passagem do açúcar (glicose) presente no sangue para o interior dos tecidos, para ser utilizado como fonte de energia. Dessa forma, a insulina é capaz de reduzir a glicose do sangue. Portanto, se houver falta desse hormônio, ou mesmo se ele não agir corretamente (resistência à insulina), haverá aumento sérico de glicose e, consequentemente, diabetes.
Há dois tipos principais de diabetes, a saber: tipo 1 é aquele em que as células-beta do pâncreas, responsáveis pela fabricação da insulina, são destruídas. Isso leva a uma intensa falta desse hormônio que, geralmente, causa um grave aumento da glicose no sangue e necessidade de tratamento imediato com insulina. Esse tipo acomete mais frequentemente os indivíduos jovens, embora, às vezes, possa aparecer também em adultos.
No diabetes tipo 2, que ocorre comumente em pessoas com mais de 40 anos, há uma combinação de dois fatores. Além de haver redução da produção de insulina (falta relativa), este hormônio também não age de maneira adequada. Neste caso, apesar de a insulina estar presente, sua capacidade de fazer a glicose sair da corrente sanguínea e entrar no interior das células é menor. Consequentemente, a glicose no sangue aumenta (hiperglicemia). Em geral, o diabetes tipo 2 pode ser tratado com medicamentos orais ou injetáveis, contudo, com o passar do tempo, a falta de insulina pode se agravar. Se isso acontecer, será necessário, também, o emprego desse hormônio, isolado ou associado com medicamentos.
Há, também, outros tipos de diabetes, incluindo o diabetes gestacional, que pode até necessitar de tratamento com insulina, dependendo de cada gestante. Esse tipo de diabetes tende a desaparecer após a gestação.
Atualmente, o valor de referência normal para a glicemia (concentração de glicose no sangue) após, no mínimo, 8 horas de jejum é de até 99 mg/dL. Valores de 100 a 125 mg/dL são considerados alterados, mas ainda não diabéticos. O indivíduo é considerado diabético nas seguintes situações:
- Duas glicemias de jejum maiores ou iguais a 126 mg/d;Glicemia maior que 200 mg/dL colhida a qualquer hora do dia na presença de sinais e sintomas de diabetes (polidipsia, poliúria e perda de peso)
A curva glicêmica ou teste oral de tolerância à glicose (75 g) pode ser também empregada para o diagnóstico de diabetes. São realizadas glicemias antes e 30, 60, 90 e 120 minutos após a ingestão de glicose. Neste teste, os valores de glicemia entre 140 e 200 mg/dL, duas horas após a ingestão de glicose, são compatíveis com intolerância à glicose (pré-diabetes). O diagnóstico de diabetes é confirmado quando a glicemia for igual ou maior que 200 mg/dL aos 120 minutos.
Todos os indivíduos diabéticos (tipos 1 e 2) apresentam hiperglicemia no momento do diagnóstico, mas a presença das manifestações clínicas (Quadro 1) dependerá da intensidade do aumento da glicose. Por exemplo, uma pessoa que tem diabetes e sua glicose gira em torno de 130 mg/dL, em geral, não apresenta sintomas.
Ainda que as glicemias maiores ou iguais a 126 mg/dL confirmem a presença de diabetes, os sintomas e sinais de hiperglicemia são mais evidentes quando a glicose atinge valores mais altos no soro. Embora possa variar de uma pessoa para outra, a glicose aparece na urina, quando suas concentrações são maiores que 160-180 mg/dL no soro. Quando presente na urina, a glicose atrai mais água (diurese osmótica) que aumenta o volume urinário. Assim sendo, só haverá aumento do volume diário de urina (poliúria) e sede excessiva (polidipsia) quando a glicose estiver maior que esses valores.
No diabetes tipo 1, geralmente ocorre grande falta de insulina, hiperglicemia mais intensa e sintomas mais expressivos. Além das manifestações da hiperglicemia descritas no quadro 1, pode ocorrer, também, perda de peso, aumento do apetite, enurese noturna (perda involuntária de urina durante o sono), tontura postural e fraqueza. Além disso, quando houver acentuada e abrupta redução de insulina pode ocorrer cetoacidose diabética com perda de apetite, náuseas, vômitos, alterações do nível de consciência, coma etc.
Já no tipo 2, habitualmente, não há deficiência grave de insulina e, dessa forma, na maior parte das vezes a glicose sobe menos e, também, de forma mais lenta. Consequentemente, os sinais e sintomas aparecem de maneira gradual, podendo, inclusive, passar despercebidos durante meses ou até anos. As infecções de pele, como os furúnculos são comuns. Sensação de coceira e infecções da vulva e da vagina (como candidíases) são, muitas vezes, as primeiras manifestações de diabetes. A possibilidade de diabetes deve ser descartada nas gestantes que dão a luz a bebês grandes (mais de 4,1 Kg), com pré-eclâmpsia e quando há morte fetal de causa desconhecida.
É importante que as pessoas estejam familiarizadas com as manifestações clínicas da hiperglicemia, pois elas são, frequentemente, o primeiro indício de diabetes. Por exemplo: especial atenção deve ser dada a uma criança que não molhava mais a cama à noite (há no mínimo seis meses) e volta a molhar (enurese noturna secundária). Há várias causas para esse problema, mas uma delas é o aumento do volume de urina provocado pela hiperglicemia em crianças diabéticas.
Já que muitas vezes o diabetes tipo 2 pode passar muito tempo despercebido, a melhor maneira de identificá-lo precocemente é por meio de avaliações periódicas da glicemia (mesmo que seja com a gotinha de sangue obtida da ponta do dedo), especialmente, nos indivíduos obesos e com história familiar de diabetes, que correm maior risco de desenvolver a doença. Esse procedimento certamente contribuirá para a detecção precoce e prevenção das complicações dessa enfermidade.
Quadro 1. Manifestações clínicas comuns no momento do diagnóstico de diabetes
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Aumento do volume urinário (poliúria)
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Sede excessiva (polidipsia)
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Perda de peso
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Aumento do apetite
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Formigamentos (parestesias)
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Visão embaçada (turva)
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Fraqueza, fadiga
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Enurese noturna (perda involuntária de urina durante o sono)
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Infecções de pele, da vulva e da vagina
Minha Vida
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