Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS Anderson Figueiredo teve o sonho de ser jogador profissional de futebol interrompido pelo problema de saúde |
Aumento no número de casos tem preocupado a equipe de oftalmologistas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Ele queria que seus olhos, sempre atentos aos dribles e passes no campinho de futebol, não fossem mais castanho-escuros, mas reluzissem em verde na pele negra. Por seis meses, com as lentes de contato compradas pela internet, Anderson Figueiredo, 22 anos, se achou mais bonito. Mas depois, o desejo de se tornar jogador profissional acabou dando lugar ao pesadelo de, com sequelas no olho direito, não poder mais exercer sua atividade preferida.
Histórias como essa têm preocupado a equipe de oftalmologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Infecções de córnea ocasionadas por uso de lentes de contato sem orientação médica foram mais frequentes que o normal no ano passado. Se o comum era haver um caso a cada três anos, só em 2014 quatro pacientes precisaram de transplante de córnea por este motivo — Anderson entre eles.
Acendeu-se um alerta entre os médicos, embora os números não sejam alarmantes. A incidência de infecção na córnea causada por lentes de contato é ao redor de 1 a cada 500 usuários.
— É um número baixo, mas são casos que costumam ser graves pois os protozoários, bactérias e fungos que contaminam a córnea são resistentes ao tratamento, o que frequentemente leva à cegueira — aponta o médico Sérgio Kwitko, vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.
VÍDEO: Pacientes falam sobre os problemas que tiveram em virtude do uso de lentes coloridas sem indicação médica
— É um número baixo, mas são casos que costumam ser graves pois os protozoários, bactérias e fungos que contaminam a córnea são resistentes ao tratamento, o que frequentemente leva à cegueira — aponta o médico Sérgio Kwitko, vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.
VÍDEO: Pacientes falam sobre os problemas que tiveram em virtude do uso de lentes coloridas sem indicação médica
Com os óculos escuros que viraram um anexo de seu rosto, Anderson se recupera do transplante realizado em dezembro. Apesar da boa evolução da cirurgia, os médicos garantem que ele terá mais fragilidade a traumas, o que pode comprometer seu futuro como jogador.
— Tenho medo que a sorte não bata duas vezes na minha porta — conta ele, que recebeu a convocatória para o teste no Esporte Clube Cruzeiro quando estava no hospital. Não pôde ir.
A facilidade de comprar o produto pela internet é um dos motivos pelos quais o número de infecções vem aumentando, diz a professora da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e preceptora da residência médica do setor de córnea e transplantes do HCPA, Diane Marinho.
— Até pode haver instruções de uso na embalagem, mas você não sabe se seu olho é "candidato" para o uso de lentes. Se você tiver pouca lubrificação nos olhos, por exemplo, não pode usar lentes de jeito nenhum. Outros fatores que desencadeiam essas doenças são a falta de higiene e o desrespeito ao prazo de validade _ comenta a docente.
Anderson não tirava as lentes para dormir, tomar banho ou jogar bola — três comportamentos desaconselhados pelos oftalmologistas.
— Antes, só incomodava quando eu suava. Depois, começou a coçar quase diariamente — lembra ele, que vê no troféu de goleador que recebeu em um campeonato de várzea em 2011 a esperança de voltar a jogar.
Tem que esperar no mínimo seis meses para, com calma, retornar aos campos. Confessa: quando a mãe — que acende velas todos os dias para Santa Luzia, a protetora dos olhos, pedindo saúde ao caçula de cinco filhos — não está vigiando, bate uma bolinha "de leve" com os vizinhos.
— Se me perguntarem se eu quero casar ou jogar, prefiro jogar — diz ele, esperando que a namorada, com quem está há três anos, não leia esta reportagem.
Zero Hora
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