Técnica adotada em centro de referência quer minimizar efeito colateral de uma das principais armas contra o câncer
Uma das armas mais eficientes contra o câncer também pode provocar efeitos colaterais importantes, como complicações cardíacas, dificuldade para respirar e comprometimento de outras áreas do corpo sem o tumor. A medicina agora está focada em ajustar a dose da radioterapia e assim reduzir as seqüelas do tratamento.
A técnica chamada de Radioterapia de Intensidade Modulada foi desenvolvida em 2004 em um centro oncológico da Nova Zelândia. No ano seguinte, o tratamento foi importado pelo Hospital A.C Camargo, em São Paulo – uma das referências nacionais em câncer – e mês passado a unidade completou mil pacientes atendidos com as doses personalizadas de radioterapia. Os tipos de câncer mais contemplados pelo tratamento são o de mama, cabeça e pescoço, tumores ginecológicos e câncer infantil.
A individualização do atendimento – respeitando não apenas o tamanho do tumor e a região acometida como questões genéticas e a presença de outras doenças associadas – é uma meta de todas as sociedades mundiais de câncer. Os resultados conseguidos com os pacientes do A.C Camargo beneficiados mostram que este é mesmo o caminho a ser seguido.
“Comprovamos na prática o que a literatura já indicava como resultados possíveis. Os pacientes que recebem a radioterapia modulada apresentam menos efeitos colaterais e mais qualidade de vida, duas consequências que juntas só potencializam a evolução do quadro clínico”, afirma a diretora do departamento de radioterapia do Hospital A.C Camargo, Maria Aparecida Conte Maia.
A diferença principal entre a radioterapia individualizada e a tradicional é que a primeira é mais evoluída. “É possível 'esculpir' qual órgão vai receber o feixe de radiação, respeitando o contorno do tumor. Na técnica mais antiga, uma área maior do organismo é atingida, tornando os efeitos colaterais mais recorrentes”, explica a médica.
Danos e limitações
Um trabalho que acaba de ser realizado no Instituto do Coração de São Paulo (Incor) mostra como o cobertor da radioterapia pode ser curto. Foram acompanhadas 41 mulheres com câncer de mama submetidas à radioterapia. Três meses após o tratamento, os exames de tomografia mostram que quase todas tiveram a capacidade pulmonar e a função respiratória comprometidas, apesar do câncer ter melhorado.
As evidências de que a radioterapia personalizada reduz os danos extras trazidos pelo tratamento esbarram, no entanto, em outras limitações. O tratamento sob medida é mais caro e não pode ser usado em todos os pacientes, já que ainda não é autorizado pelos convênios e não está disseminado no Sistema Único de Saúde.
No próprio A.C Camargo, por exemplo, é feita uma seleção minuciosa de quem vai receber a técnica modulada. Ficam de fora pacientes com metástase ou que apresentam tumores em áreas não próximas de órgãos vitais como coração e pulmão. “Não fosse a questão financeira, a radioterapia modulada sempre seria a melhor opção”, afirma Maria Aparecida.
Novos e velhos
Na área de câncer, o desenvolvimento de novas tecnologias – mais eficientes – servem de esperança para a doença do futuro que já é a segunda causa de morte da população, conforme mostrou a última edição do estudo do IBGE. O câncer tende a ser cada vez mais comum por causa do envelhecimento populacional.
Ainda assim, mesmo com o aumento da doença– só para este ano o Instituto Nacional do Câncer (Inca) projeta quase 500 mil casos novos – problemas antigos permanecem no cenário terapêutico e dificultam o acesso da população às técnicas mais simples de combate aos tumores.
No caso da radioterapia mesmo, atesta a Sociedade Brasileira de Radioterapia, estão acumulados na fila de espera 100 mil pacientes. São pessoas que não conseguem ser tratadas com a técnica mais simples de tratamento. Por este motivo, a radioterapia personalizada é comemorada pelos especialistas mas ainda considerada um privilégio para poucos.
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