Aumento da operação indica parceria de marcas que apostam em excelência e rentabilidade
“É um movimento basicamente de busca de escala e de rentabilidade”, resume o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Carlos Alberto Ballarati sobre o fato de grandes laboratórios atualmente buscarem crescimento com serviços prestados aos hospitais. Para ele, chama a atenção as redes atuando no segmento que há pouco tempo não era considerado um bom mercado a ser explorado. “Talvez na política de expansão das empresas, os laboratórios passaram a ser extremamente interessantes. Provavelmente porque são rentáveis.”
A competição no mercado de medicina diagnóstica entre os dois grandes laboratórios, o Dasa e o grupo Fleury, justifica, em parte, a alta demanda por hospitais, já que ambos possuem capital aberto e têm planos de expansão, com recursos para comprar e crescer. “Obviamente em um hospital com 300, 400 leitos está o maior número de clientes para patologia clínica”, diz o superintendente administrativo do Hospital Moinhos de Vento, Fernando Andreatta Torelly. Além disso, ele ressalta a competência, a marca forte e o grande poder de escala destes gigantes na realização de exames.
Os hospitais também buscam parceiros estratégicos, pois acabam se beneficiando da escala dos laboratórios. “Eles buscam o histórico de qualidade e de preços mais baixos”, avalia Gustavo Campana, consultor da empresa Formato Clínico.
Segundo o diretor executivo da Planis Consultoria, Eduardo Regonha, muitos hospitais possuíam laboratórios próprios, mas a baixa remuneração oferecida para os serviços tornou-se um problema. “As instituições especializadas em serviços de laboratórios clínicos começaram a oferecer a terceirização, pois perceberam que a pequena produção não gerava retorno, mas quando há grandes produções (unidades de análises centralizadas) ocorre considerável ganho de escala.”
Isto viabiliza o serviço, o torna rentável e gera retorno satisfatório ao investidor, de acordo com o consultor. “Além disso, permite à instituição hospitalar dedicar-se mais à sua função principal transferindo o serviço para o terceirizado. E ainda muitas vezes desenvolve parcerias que acabam gerando ganhos adicionais para o hospital.”
Mas o laboratório bem administrado por um hospital também pode ser uma área de boa rentabilidade. “É uma questão de o hospital saber se vai incorporar isto e ter uma receita maior para ele ou se terceiriza e pega só parte dela. Cada um deve entender o melhor modelo e negócio. Sem dúvida, o segmento hospitalar no Brasil cresce e, com isso, a demanda por serviço de laboratório também”, diz Ballarati da SBPC/ML.
Competitivo
O perfil e política de precificação têm atraído hospitais ao modelo de negócio do Grupo Fleury. Questionado sobre a parceria crescente – o segmento já representa 11,2% da receita do grupo – o diretor executivo de Negócios do Grupo Fleury, Wilson Pedreira, destaca que os laboratórios têm uma limitação relacionada ao volume. Mais do que isto, o controle de qualidade e capacidade de colocar produtos novos e mais desenvolvidos também é dependente dessa escala. “Podemos trabalhar em parceria com os hospitais e oferecer um serviço de muita qualidade a um custo muito melhor.”
Segundo o diretor de Negócios Hospitalares do grupo, Fernando Lopes Alberto, outro aspecto é o aumento do portfólio de serviços oferecidos. “Por trás disso está o reposicionamento do hospital que passa a fazer procedimentos de maior complexidade. Isto dá maior segurança ao corpo clínico que interna mais pacientes de maior complexidade”. Para ele, a escala favorece, mas é a excelência do grupo que proporciona isto ao mercado.
O diretor reconhece que o trabalho na área hospitalar é muito diferente daquele desenvolvido na área ambulatorial ou nas unidades de atendimento. Assim, é o hospital quem define suas necessidades.
Sobre novos parceiros, não exclui ninguém, mas o executivo afirma que geralmente são hospitais que procuram um segmento de diferenciação de mercado atuando em áreas de maior complexidade.
O poder da marca
Há um ano, o Fleury passou a atuar no laboratório Weinmann que operou no Hospital Moinhos de Vento por cerca de 20 anos. Portanto, a operação continua sob a marca Weinmann, mas a gestão e direção são do Fleury. Todos os serviços do hospital são próprios, com exceção do laboratório. A parceria é na área de patologia clínica e banco de sangue. A área de imagem, que representa cerca de 15% da receita do hospital, por exemplo, é própria. “Os hospitais não devem entregar esta área para um terceiro”, avalia Torelly.
A central de processamento do laboratório está dentro do HMV. O laboratório tem todo o atendimento hospitalar e uma unidade ambulatorial que é aberta ao cliente externo. “O grande benefício do grupo Fleury é trabalhar com nível de escala alto, com isto, otimizam e certamente passam a ter um poder de negociação com os fornecedores dos equipamentos de laboratório. Muito maior do que um hospital isoladamente”.
O número de exames aumentou, mas em consequência do crescimento do número de leitos que passou de 333 para 400 no início do ano. “Fora isso, não há nenhum incremento na parte hospitalar onde há um contrato de relacionamento mais próximo com o laboratório”.
Ele explica que a parte ambulatorial é um aluguel. Assim, a receita que vem para o hospital do laboratório é um percentual da produção dos exames de internação, o aluguel da área que ocupam e um valor correspondente ao ponto comercial.
Após 20 anos de parceria, o superintendente analisa os prós e contras. “Diria que não vimos um bom motivo para mudar, mas também não ampliamos isto para mais nada. Estamos satisfeitos, mas também sabemos que se fossemos desenvolver um laboratório próprio existiram competências no hospital e no mercado para isto.”
Questionado sobre quais são os principais benefícios de um laboratório próprio, destaca a possibilidade de uma gestão customizada aos interesses do hospital. Além disso, uma boa gestão do laboratório talvez gere retorno superior ao terceirizado. A grande questão é que o hospital tem de abrir uma nova área de negócio. Ele ressalta que a escala é uma barreira, porém construir uma marca de credibilidade como a Weinmann é um desafio ainda maior.
Fonte SaudeWeb
Nenhum comentário:
Postar um comentário