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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Portugal: 40% dos portugueses admitem cortar no orçamento familiar para poderem comprar medicamentos

Quatro em cada dez portugueses admitem fazer cortes no orçamento familiar para poderem comprar medicamentos em resultado do novo regime de comparticipação dos fármacos, revela o barómetro “Os portugueses e a saúde”, que será divulgado na terça-feira.

O número de portugueses que admite estar a fazer cortes no orçamento devido ao novo regime de comparticipação do medicamento aumentou, no decorrer do último semestre, cerca de oito pontos percentuais (de 39,7 para 47,8 por cento), indica o barómetro bianual BOP Health - “Os Portugueses e a Saúde”.

Relativamente a cortes na compra de medicamentos, o crescimento registado foi ainda mais efetivo, tendo passado de 4,5% para 14,5%.

O regime especial de comparticipação de medicamentos entrou em vigor em agosto de 2010 e estabeleceu que a comparticipação de 100% fosse reduzida para 95%, enquanto se baixou de 95 para 90% a comparticipação do escalão A do regime geral.

Segundo o estudo, 1,2 milhões de portugueses afirmam mesmo que tais cortes implicarão deixar na farmácia alguns dos medicamentos necessários, sendo a população idosa, não ativa, com níveis de instrução mais baixos e residente na zona sul e nas ilhas a mais atingida com tal medida.

A maioria dos inquiridos que admite cortar noutros tipos de despesas para poderem continuar a comprar os fármacos que necessitam está a fazê-lo essencialmente em despesas relacionadas com vestuário e atividades de lazer e bem-estar, enquanto 40% refere cortes em bens alimentares

Em declarações à agência Lusa, Paulo Moreira, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), afirma que “as consequências deste fenómeno podem ser bastante negativas a vários níveis”, principalmente nos doentes crónicos.

“A questão torna-se bastante problemática nos doentes crónicos que têm necessariamente de ter um regime terapêutico continuado e parece que, de facto, também eles põem a hipótese de ter que deixar de comprar alguns medicamentos”, sustentou.

A estratégia dos portugueses para poupar passa também por uma aposta no consumo de genéricos, que tem vindo a registar um crescimento significativo. “No primeiro semestre de 2011, quase 85% da população adulta portuguesa tinha já experimentado este tipo de fármacos. Tal, representa um crescimento de quase 20 pontos percentuais no consumo deste tipo de medicamentos face a período homólogo do ano anterior”, refere o barómetro.

Paulo Moreira, que irá fazer a apresentação do estudo, em Lisboa, adianta que são os mais jovens, “com maior literacia e maior grau de instrução”, que manifestam mais confiança nos genéricos, ao contrário dos idosos com pouca instrução.

“Há uma parte razoável que afirma que não consumiu genéricos porque o médico se recusou a prescrevê-los. Este é um fenómeno curioso que merece ser estudado de uma forma mais aprofundada”, observa.

O estudo indica também que perto de um quarto dos inquiridos (23,5%) está “pouco ou nada” satisfeito com o sistema de saúde em Portugal, sendo o setor público quem reúne mais críticas. Apenas 37,1% dos portugueses apresentam um grau de satisfação elevado com os hospitais públicos, enquanto este valor ascende aos 68,9% em relação aos privados.

Apesar de a maior parte dos inquiridos mostrar maior satisfação com o setor privado, só dois milhões de portugueses têm um seguro de saúde.

O estudo, que decorreu em julho, envolveu a população portuguesa com mais de 18 anos, residente no Continente, tendo sido a amostra de 645 questionários, que foram realizados telefonicamente. O intervalo de confiança é de 95% para uma margem de erro de cerca de 4,0%.

Fonte Desyak

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