Quatro em cada dez portugueses admitem fazer cortes no orçamento familiar para poderem comprar medicamentos em resultado do novo regime de comparticipação dos fármacos, revela o barómetro “Os portugueses e a saúde”, que será divulgado na terça-feira.
O número de portugueses que admite estar a fazer cortes no orçamento devido ao novo regime de comparticipação do medicamento aumentou, no decorrer do último semestre, cerca de oito pontos percentuais (de 39,7 para 47,8 por cento), indica o barómetro bianual BOP Health - “Os Portugueses e a Saúde”.
Relativamente a cortes na compra de medicamentos, o crescimento registado foi ainda mais efetivo, tendo passado de 4,5% para 14,5%.
O regime especial de comparticipação de medicamentos entrou em vigor em agosto de 2010 e estabeleceu que a comparticipação de 100% fosse reduzida para 95%, enquanto se baixou de 95 para 90% a comparticipação do escalão A do regime geral.
Segundo o estudo, 1,2 milhões de portugueses afirmam mesmo que tais cortes implicarão deixar na farmácia alguns dos medicamentos necessários, sendo a população idosa, não ativa, com níveis de instrução mais baixos e residente na zona sul e nas ilhas a mais atingida com tal medida.
A maioria dos inquiridos que admite cortar noutros tipos de despesas para poderem continuar a comprar os fármacos que necessitam está a fazê-lo essencialmente em despesas relacionadas com vestuário e atividades de lazer e bem-estar, enquanto 40% refere cortes em bens alimentares
Em declarações à agência Lusa, Paulo Moreira, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), afirma que “as consequências deste fenómeno podem ser bastante negativas a vários níveis”, principalmente nos doentes crónicos.
“A questão torna-se bastante problemática nos doentes crónicos que têm necessariamente de ter um regime terapêutico continuado e parece que, de facto, também eles põem a hipótese de ter que deixar de comprar alguns medicamentos”, sustentou.
A estratégia dos portugueses para poupar passa também por uma aposta no consumo de genéricos, que tem vindo a registar um crescimento significativo. “No primeiro semestre de 2011, quase 85% da população adulta portuguesa tinha já experimentado este tipo de fármacos. Tal, representa um crescimento de quase 20 pontos percentuais no consumo deste tipo de medicamentos face a período homólogo do ano anterior”, refere o barómetro.
Paulo Moreira, que irá fazer a apresentação do estudo, em Lisboa, adianta que são os mais jovens, “com maior literacia e maior grau de instrução”, que manifestam mais confiança nos genéricos, ao contrário dos idosos com pouca instrução.
“Há uma parte razoável que afirma que não consumiu genéricos porque o médico se recusou a prescrevê-los. Este é um fenómeno curioso que merece ser estudado de uma forma mais aprofundada”, observa.
O estudo indica também que perto de um quarto dos inquiridos (23,5%) está “pouco ou nada” satisfeito com o sistema de saúde em Portugal, sendo o setor público quem reúne mais críticas. Apenas 37,1% dos portugueses apresentam um grau de satisfação elevado com os hospitais públicos, enquanto este valor ascende aos 68,9% em relação aos privados.
Apesar de a maior parte dos inquiridos mostrar maior satisfação com o setor privado, só dois milhões de portugueses têm um seguro de saúde.
O estudo, que decorreu em julho, envolveu a população portuguesa com mais de 18 anos, residente no Continente, tendo sido a amostra de 645 questionários, que foram realizados telefonicamente. O intervalo de confiança é de 95% para uma margem de erro de cerca de 4,0%.
Fonte Desyak
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