A população branca tem duas vezes mais acesso a planos de saúde em comparação aos negros no Brasil.Os dados são do Instituto Data Popular, em uma pesquisa feita parceria com o Fundo Baobá.
Segundo a pesquisa, 15,2% dos negros possuem plano de saúde, contra 31,3%, dos brancos.
"O acesso aos serviço é, em geral, pior para os negros, que vivem em locais mais distantes, onde o tratamento não é de qualidade", comenta Athayde Motta, diretor do fundo, que levanta recursos para projetos voltados à população negra.
"Se você ganha um pouquinho mais, a primeira coisa que faz é ter um plano de saúde privado e pagar escola particular para o filho. O sistema público de saúde e educação no Brasil ainda é muito ruim."
O dado sobre acesso a plano de saúde reflete a desigualdade racial no país. De acordo com dados do Censo 2010 divulgados em maio, o número de pobres pardos ou pretos é 2,7 vezes o número de pobres brancos.
Dados do Instituto Data Popular indicam ainda que os negros continuam sendo minoria nos estratos mais ricos.
A classe A, por exemplo, é formada por 82,3% de brancos e 17,7% de negros. Já na classe E, os negros são 76,3% do total e os brancos 23,7%.
A classe C é a camada social onde há menos desigualdade entre brancos (56,9%) e negros (43,1%).
MÉDICO PARTICULAR
A cabeleireira Dulcinéia Luz, 32, nunca teve um plano de saúde. Para o marido, a filha e os cinco irmãos, todos residentes em Araçoiaba da Serra (a 120 km de SP), o SUS é a primeira opção quando precisam de atendimento médico.
"Penso em ter um plano de saúde no futuro. Você nunca sabe quando pode precisar. Mas acho também que o SUS poderia melhorar. Se o SUS fosse bom, eu nem pensaria em ter um plano de saúde", diz.
Assim como outros milhões de integrantes da classe C, Dulcinéia viu a vida melhorar nos últimos anos. Sua filha hoje tem um computador, luxo impensável há alguns anos, assim como o acesso a um médico particular.
Sem plano de saúde, e descontente com os serviços do SUS, ela recorre a consultórios particulares se "a necessidade for grande".
"Quando acho que dá para ser atendida no SUS, vou ao SUS. Se for mais grave, eu pago", diz.
A pesquisa mostra que, quando precisam de tratamento médico, apenas 10,9% dos negros e 27,3% dos brancos recorrem a um médico particular.
AMBULATÓRIO
A primeira opção, para a maioria dos negros (64,5% deles), é o ambulatório de empresas e sindicatos. O índice entre os brancos com esse perfil é de 49,2%.
Esse é o caso de Marcelo Antonio de Jesus, 36, residente na Penha (zona leste de SP).
Jesus teve, por cinco anos, plano de saúde pago pela empresa para a qual trabalhava. "Hoje os planos de saúde mais baratos têm pouca qualidade, o atendimento é demorado. Já os planos bons são muito caros", explica.
Educador de uma ONG, Jesus conta que gostaria de voltar a ter acesso a um plano privado, "com atendimento mais rápido".
Fonte Folhaonline
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