Modelagem em três dimensões do rosto de um paciente com necessidade de transplante facial: detalhes |
Se Hollywood é capaz de dar vida a personagens que, de rascunhos, passam a circular pelas salas de cinema, a fábrica de efeitos especiais também pode ajudar a imprimir realidade aos humanos. Com a mesma tecnologia de modelagem tridimensional usada em filmes e animações, cirurgiões norte-americanos propõem um novo método de transplante facial, procedimento utilizado em casos gravíssimos, no qual o rosto foi parcial ou totalmente danificado, seja por acidente ou por doença.
Desde 2005, quando a francesa Isabelle Dinoire tornou-se a primeira pessoa a receber tecidos e órgãos faciais de um cadáver (veja quadro), já foram realizadas cerca de 20 cirurgias na Europa, na China e nos Estados Unidos. O problema é que, além dos desafios inerentes ao procedimento, que exige a ligação de nervos e vasos sanguíneos, por exemplo, a aparência final do paciente está longe de alcançar a perfeição.
“Mais importante que isso, porém, é conseguir um encaixe anatômico muito preciso, para que o paciente consiga mastigar, ter olfato; enfim, usufruir das sensações e funções normais de cada órgão do rosto”, diz ao Correio o cirurgião plástico Darren M. Smith. O residente do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh (UPMC), nos EUA, apresentou a ideia na semana passada, durante o encontro anual da Sociedade Radiológica Norte-Americana.
Um transplante facial requer a realização de diversos exames por imagem, que mostrem em todos os detalhes o formato dos rostos do receptor e do doador. Geralmente, os cirurgiões fabricam os moldes com base em imagens obtidas por tomografia computadorizada tridimensional, que, aliada à ressonância magnética funcional, fornece informações importantes sobre a anatomia do paciente e do cadáver.
Segundo Smith, contudo, um programa de computador como os usados em Hollywood para dar três dimensões aos personagens do cinema e que combine, sozinho, os dados de todos os exames realizados consegue ser muito mais preciso do que apenas a análise visual dos médicos. Por isso, ele defende a aplicação da modelagem 3D computadorizada para pacientes que vão receber um novo rosto.
“Atualmente, as técnicas disponíveis para transplante facial em termos de imagens são usadas de forma isolada”, explica Vijay S. Gorantla, diretor do Programa de Transplante Reconstrutivo da UPMC. “O que se fez aqui foi combinar as imagens, o que nos ajudará não só a reproduzir com mais precisão a complexidade dos traços do rosto, mas a ter um melhor resultado funcional para o paciente”, diz. O cirurgião lembra que, em um transplante de face, seja parcial ou integral, cada estrutura e contorno de ossos, músculos, nervos e veias precisa ser previamente conhecido pela equipe que fará a reconstituição.
Transformação
Smith e Gorantla apresentaram seus resultados em uma semana na qual esse tipo de cirurgia voltou a ser assunto mundial. A emissora BBC contou, em 27 de novembro, a história do soldado americano Mitch Hunter, 30 anos, que há uma década ficou desfigurado, depois de salvar uma mulher e levar uma forte descarga elétrica. No início do ano, 30 médicos do Brigham and Women’s Hospital, em Boston, levaram mais de 14 horas para reconstituir todo o rosto de Hunter, fortemente comprometido por queimaduras. O ex-soldado, que agora exibe uma aparência completamente diferente, disse à emissora que seu sonho havia sido realizado. Hunter, geralmente alvo dos gritos de crianças desesperadas nas ruas, tornou-se pai e não gostaria de assustar o próprio filho.
Passados seis meses da cirurgia, o americano afirma que as sensações começam a voltar. Ele consegue levantar a sobrancelha, controlar os movimentos dos lábios e sorrir. “Ainda há alguma pele extra em alguns lugares, mas acho que, quando tudo for finalizado, vou parecer com o que eu era antes do acidente”, disse Hunter à BBC. Apesar de ser uma história bem-sucedida, o site da emissora recebeu dezenas de e-mails de pessoas que são contra o transplante facial, alegando os problemas éticos inerentes ao procedimento.
O principal deles, alegam, é que esse tipo de cirurgia exige que o paciente tome imunossupressores para o resto da vida. Os medicamentos são necessários para evitar a rejeição, mas, em longo prazo, podem provocar o aparecimento de tumores malignos. Além disso, as substâncias deixam o organismo mais vulnerável a infecções e doenças autoimunes. Um ano antes do primeiro transplante de face, o Colégio de Cirurgiões Reais Britânicos publicou um artigo controverso, afirmando que haveria muitas complicações associadas ao procedimento. A ponderação de uma instituição tão renomada fez com que diversos especialistas se declarassem contra o transplante.
“Sinceramente, acho que sempre devemos debater questões éticas”, afirma o cirurgião plástico Vijay S. Gorantla. “Os benefícios do transplante, entretanto, são muito maiores que seus riscos. Os pacientes são informados sobre esses riscos, passam por avaliações para determinar se realmente podem passar pela cirurgia. Estamos falando de pessoas gravemente deformadas, que querem e têm o direito de se sentirem humanas novamente”, defende.
Desde 2005, quando a francesa Isabelle Dinoire tornou-se a primeira pessoa a receber tecidos e órgãos faciais de um cadáver (veja quadro), já foram realizadas cerca de 20 cirurgias na Europa, na China e nos Estados Unidos. O problema é que, além dos desafios inerentes ao procedimento, que exige a ligação de nervos e vasos sanguíneos, por exemplo, a aparência final do paciente está longe de alcançar a perfeição.
“Mais importante que isso, porém, é conseguir um encaixe anatômico muito preciso, para que o paciente consiga mastigar, ter olfato; enfim, usufruir das sensações e funções normais de cada órgão do rosto”, diz ao Correio o cirurgião plástico Darren M. Smith. O residente do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh (UPMC), nos EUA, apresentou a ideia na semana passada, durante o encontro anual da Sociedade Radiológica Norte-Americana.
Um transplante facial requer a realização de diversos exames por imagem, que mostrem em todos os detalhes o formato dos rostos do receptor e do doador. Geralmente, os cirurgiões fabricam os moldes com base em imagens obtidas por tomografia computadorizada tridimensional, que, aliada à ressonância magnética funcional, fornece informações importantes sobre a anatomia do paciente e do cadáver.
Segundo Smith, contudo, um programa de computador como os usados em Hollywood para dar três dimensões aos personagens do cinema e que combine, sozinho, os dados de todos os exames realizados consegue ser muito mais preciso do que apenas a análise visual dos médicos. Por isso, ele defende a aplicação da modelagem 3D computadorizada para pacientes que vão receber um novo rosto.
“Atualmente, as técnicas disponíveis para transplante facial em termos de imagens são usadas de forma isolada”, explica Vijay S. Gorantla, diretor do Programa de Transplante Reconstrutivo da UPMC. “O que se fez aqui foi combinar as imagens, o que nos ajudará não só a reproduzir com mais precisão a complexidade dos traços do rosto, mas a ter um melhor resultado funcional para o paciente”, diz. O cirurgião lembra que, em um transplante de face, seja parcial ou integral, cada estrutura e contorno de ossos, músculos, nervos e veias precisa ser previamente conhecido pela equipe que fará a reconstituição.
Transformação
Smith e Gorantla apresentaram seus resultados em uma semana na qual esse tipo de cirurgia voltou a ser assunto mundial. A emissora BBC contou, em 27 de novembro, a história do soldado americano Mitch Hunter, 30 anos, que há uma década ficou desfigurado, depois de salvar uma mulher e levar uma forte descarga elétrica. No início do ano, 30 médicos do Brigham and Women’s Hospital, em Boston, levaram mais de 14 horas para reconstituir todo o rosto de Hunter, fortemente comprometido por queimaduras. O ex-soldado, que agora exibe uma aparência completamente diferente, disse à emissora que seu sonho havia sido realizado. Hunter, geralmente alvo dos gritos de crianças desesperadas nas ruas, tornou-se pai e não gostaria de assustar o próprio filho.
Passados seis meses da cirurgia, o americano afirma que as sensações começam a voltar. Ele consegue levantar a sobrancelha, controlar os movimentos dos lábios e sorrir. “Ainda há alguma pele extra em alguns lugares, mas acho que, quando tudo for finalizado, vou parecer com o que eu era antes do acidente”, disse Hunter à BBC. Apesar de ser uma história bem-sucedida, o site da emissora recebeu dezenas de e-mails de pessoas que são contra o transplante facial, alegando os problemas éticos inerentes ao procedimento.
O principal deles, alegam, é que esse tipo de cirurgia exige que o paciente tome imunossupressores para o resto da vida. Os medicamentos são necessários para evitar a rejeição, mas, em longo prazo, podem provocar o aparecimento de tumores malignos. Além disso, as substâncias deixam o organismo mais vulnerável a infecções e doenças autoimunes. Um ano antes do primeiro transplante de face, o Colégio de Cirurgiões Reais Britânicos publicou um artigo controverso, afirmando que haveria muitas complicações associadas ao procedimento. A ponderação de uma instituição tão renomada fez com que diversos especialistas se declarassem contra o transplante.
“Sinceramente, acho que sempre devemos debater questões éticas”, afirma o cirurgião plástico Vijay S. Gorantla. “Os benefícios do transplante, entretanto, são muito maiores que seus riscos. Os pacientes são informados sobre esses riscos, passam por avaliações para determinar se realmente podem passar pela cirurgia. Estamos falando de pessoas gravemente deformadas, que querem e têm o direito de se sentirem humanas novamente”, defende.
Fonte Correio Braziliense
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