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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

As novidades de 2012 para tratar a obesidade

Entre elas estão: novos usos para drogas conhecidas, medicamentos em aprovação e mais critérios para fazer a redução de estômago

De acordo com a mais recente pesquisa sobre os fatores de risco para a saúde dos brasileiros, 91,2 milhões de habitantes do País precisam emagrecer em 2012. Esses 48% da população estão com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 25 – um indicativo de que o total de quilos está em desacordo com a altura.

Deste batalhão contabilizado pelo Ministério da Saúde, 15% já são obesos e estão mais próximos de complicações sérias como infarto, diabetes, hipertensão e acidente vascular cerebral (AVC).

A medicina, a indústria e as pesquisas estão empenhadas em encontrar ferramentas que auxiliem obesos e gordinhos a enxugar as medidas. E, para isso, também investigam quais as razões para o mundo ter engordado tanto nos últimos anos. Os cientistas já sabem, por exemplo, que os motivos vão além do sedentarismo e da oferta excessiva de comida, e incluem também a falta de sono adequada, a alimentação da mãe durante a gravidez e, certamente, a genética.

Com a proibição dos medicamentos à base de anfetamina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a consequente retirada de remédios como anfepramona, emproporex e mazindol das prateleiras, muitos endocrinologistas veem dificuldades para o próximo ano.

“Acho que teremos mais comorbidades para tratar. Teremos de readaptar o obeso que já usava essa medicação e estava bem, pensar em alternativas. Hoje temos à nossa disposição apenas a sibutramina e o orlistat (que tem ação periférica) e o impacto deles na perda de peso não é tão bom”, afirma a endocrinologista Maria Edna de Melo, da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

“Além disso, os tratamentos devem ficar mais caros, porque serão poucas as opções. Também acho que o uso ‘off-label’ deve aumentar”, acredita a endocrinologista. "Off-label" é o uso de um medicamento em uma indicação que não está na bula e para a qual ele ainda não tem a aprovação da Anvisa.

Terapia genérica?
Em meio ao cerco aos medicamentos da família “sibutramina”, o presidente da Associação Brasileira de Medicamentos Genéricos, Odnir Finotti avalia que a restrição abre espaço para o aumento do consumo de comprimidos genéricos desta classe terapêutica (são três disponíveis atualmente).

“Os medicamentos genéricos para emagrecer não chegavam nem a 10% da fatia global das vendas, uma porcentagem muito pequena diante do consumo geral”, diz Finotti.

“Agora, com a Anvisa fazendo mais exigências para as vendas, os genéricos podem se beneficiar porque eles são mais prescritos para quem, de fato, precisa da medicação. As vendas atendem mais às exigências do consumo adequado e também fazem parte do arsenal terapêutico do sistema público de saúde.”

Novos critérios para cirurgias
Na guerra contra a obesidade grave, a cirurgia bariátrica tem se mostrado uma arma eficaz, quando bem utilizada. Mas os médicos alertam: a redução de estômago não é procedimento estético e deve ser encarada como um recurso extremo. Atualmente, só podem se submeter à cirurgia pacientes com IMC igual ou superior a 35 que tenham outras doenças como hipertensão ou diabetes ou obesos com IMC igual ou acima de 40. Além disso, devem ter tentado tratamento clínico anterior sem sucesso.

Para o próximo ano, no entanto, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica quer que esse critério seja expandido.

“O IMC é bom para avaliarmos epidemiologicamente a população, mas para definir tratamento, precisamos de mais ferramentas. Queremos que outros indicadores, como circunferência abdominal e pressão arterial, sejam considerados no momento da decisão”, afirma Ricardo Cohen, presidente da entidade.

“O IMC não prediz a gravidade da doença. Os jogadores de futebol americano têm índices elevados e nem por isso precisam ser operados”, exemplifica.

Outra modificação positiva, avalia Cohen, é a inserção da videolaparoscopia no leque de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A medida, que passa a valer a partir de 1º de janeiro de 2012, garante que usuários de convênio sejam submetidos à bariátrica por meio desse método.

“A decisão do tratamento deve ser do médico e do paciente e não das fontes pagadoras”, adverte o médico. A cirurgia por videolaparoscopia é menos invasiva e traz menos complicações no pós-operatório.

Em aprovação
No primeiro semestre de 2012, três remédios deverão ser submetidos ao FDA, órgão que regulamenta os medicamentos nos EUA, para o tratamento da obesidade. Na avaliação da representante da Abeso, o mais promissor é o Qnexa (topiramato associado a fentermine), do laboratório Vivus.

O remédio, de consumo diário promete trazer mais saciedade e reduzir o apetite. O fentermine está aprovado desde 1959 e é indicado geralmente para o tratamento a curto prazo da perda de peso. O topiramato é utilizado para crises de enxaqueca desde 1996.

“A redução de peso fica em torno de 12 kg por ano”, afirma a endocrinologista Maria Edna de Melo.

Na fila, estão também o Contrave (bupropiona associada a naltrexone), desenvolvido pelo Orexigen Therapeutics, e o Locarserin , da empresa Arena Pharmaceuticals. Ambos prometem reduzir o apetite e acelerar o metabolismo.

As substâncias encontradas no Contrave já são utilizadas há 20 anos, a bupropiona como antidepressivo e a naltrexone para alcoólatras e viciados em opioideis como heroína ou morfina. Já o Locarserin é uma substância nova, que atua nos receptores de serotonina 2C, localizados no hipotálamo, área envolvida no controle do apetite e do metabolismo.

Os dois já foram anteriormente avaliados pelo FDA e rejeitados com o pedido de que fossem feitas mais pesquisas de eficácia e segurança.

De olho no futuro
As pesquisas para entender o funcionamento do corpo na queima de gorduras têm avançado e um dos caminhos mais desbravados remete ao sistema nervoso central. Um estudo com 42 pessoas obesas ou com sobrepeso, realizado pelo IDI Heart & Baker Institute Diabetes, em Melbourne, na Austrália, identificou que aqueles com altos níveis de atividade no sistema nervoso simpático têm mais facilidade para emagrecer.

Os autores da pesquisa acreditam que a descoberta pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos para perda de peso por meio do estímulo dessa região específica.

Mas a pesquisa que realmente movimenta a comunidade científica está sendo realizada na Universidade do Texas, nos EUA, e é coordenada pela brasileira Renata Pasqualini. Diferente das drogas existentes hoje, que atuam na regulação do apetite ou na aceleração do metabolismo, o novo medicamento reduz a vascularização da gordura que se acumula sob a pele. Sem sangue o suficiente, as células da região são reabsorvidas.

Por enquanto, os testes só foram feitos em macacos, que perderam 11% do seu peso em quatro semanas. As projeções dos especialistas é que, se continuar tendo resultados bem sucedidos, a nova droga esteja no mercado nos próximos 10 anos.

Todos contra ela
Além do arsenal de pesquisas, os médicos finalmente estão acordando para uma triste realidade: o sobrepeso e a obesidade não estão mais limitados aos consultórios dos endocrinologistas, cardiologistas e nutricionistas. Estão batendo nas portas das mais diversas especialidades da área da saúde.

A dentista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Vera Kloger, por exemplo, já detectou que os obesos têm mais cáries e problemas nas gengivas. O ortopedista Luis Eduardo Munhoz também associa o ganho de peso ao aumento de dores nas costas e problemas nos joelhos e o oftalmologista Rubens Belfort Júnior também diz que os obesos são mais vítimas de problemas oculares, principalmente os ligados ao diabetes.

Para a ginecologista Albertina Duarte – uma das pioneiras na criação de um programa de saúde da mulher – todos os médicos precisam aprender a tratar a obesidade dentro de suas especialidades.

“A orientação para perder peso já faz parte da recomendação de todos os colegas, mas a minha projeção é que em breve todos terão como prioridade na prática clínica ajudar seus pacientes a encontrarem formas de emagrecer”, diz a médica, que nos últimos quatro anos, perdeu nada menos que 23 quilos.

“Emagrecer, na minha avaliação, é mais difícil do que parar de fumar. Portanto, é preciso criar estruturas em prol do emagrecimento. É uma batalha que deve ser de todos.”

A endocrinologista Maria Edna de Melo, da Abeso, vai ainda mais longe na avaliação: além de políticas de incentivo às atividades físicas e ao consumo de alimentos menos calóricos, é preciso mudar a maneira como a obesidade é vista pelos médicos e pela sociedade.

“A obesidade deve ser encarada como uma doença grave. Ninguém é gordo porque quer ou por falta de vontade ou por preguiça. Não é um ‘visual escolhido’”, ressalta.

Segundo a endocrinologista, a obesidade é essencialmente uma alteração química do corpo, que vai precisar de remédios para voltar a funcionar corretamente.

“É como quem tem hipertensão. Se parar a medicação, a doença volta. O obeso, os médicos e a sociedade precisam entender que quem emagrece tem uma doença controlada, mas não ‘foi curado’”, diz.

Fonte IG

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