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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Estudo traça paralelo entre música e avanço da surdez de Beethoven

Uma equipe de pesquisadores na Holanda apresentou uma inédita prova da ligação entre os diferentes estilos de composição ao longo da vida do compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827) e a progressiva surdez que afetou o gênio.

O artigo "A surdez de Beethoven e seus três estilos" foi publicado na terça-feira na revista "British Medical Journal" por Edoardo Saccenti e Age Smilde, do Instituto Swammerdam para Ciências da Vida, da Universidade de Amsterdã, e Wim Saris, da Universidade de Maastricht.

"Este exercício-piloto indicou a existência de uma relação entre a progressão da surdez de Beethoven e o uso de notas agudas em sua música", escrevem os autores.

A audição de notas agudas costuma ser afetada primeiro nos casos de surdez progressiva. "Isso é muito comum, basta pensar em pessoas idosas que começam a ter dificuldade em ouvir outros falando. Isso acontece porque as consoantes, que fazem as palavras serem compreensíveis, soam na região de alta frequência", disse Saccenti à Folha.

"Os períodos de composição de Beethoven --os chamados três estilos-- correspondem aos estágios da progressão de sua surdez, embora a correlação não implique causalidade", escreveram os autores na revista médica.

Graves e Agudos
O primeiro período vai até cerca de 1802 e mostra influência de predecessores como Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), a quem ele admirava, e Joseph Haydn (1732-1809), que foi seu professor.

Nessa fase, ele compôs suas duas primeiras sinfonias e os quartetos de corda conhecidos como Opus 18.

A fase intermediária ou "heroica", por conta dos seus esforços em lutar com a surdez, inclui seis sinfonias (3ª a 8ª), uma delas conhecida como "Eroica", dedicada a Napoleão Bonaparte, além de mais quartetos.

O período final começa em 1815, já com a surdez avançada, e contém obras mais maduras e complexas; além de inovações formais, houve o desrespeito a regras consagradas. Por exemplo, ele inseriu um coral na Sinfonia nº 9 pela primeira vez na história da música, uma exaltação da poesia e da música.

Saccenti e colegas analisaram partituras de quatro grupos de quartetos de corda, considerados exemplos perfeitos das diferenças de estilo de composição das três fases, e checaram a frequência de notas agudas (acima de 1.568 Herz) no primeiro violino do primeiro movimento.

A porcentagem dessas notas decresceu no período entre 1798 e 1801, mas voltou a crescer entre 1824-26, os anos da surdez praticamente total.

Com a progressão da surdez, ele passou a usar mais notas com frequências médias e baixas, que ele conseguiria ouvir melhor; mas, quando ficou muito surdo, parou de tentar escutar e passou a compor com seu "ouvido interno" cerebral --com isso, voltando a usar notas mais agudas.

A equipe pretende agora checar as sonatas de piano do compositor para verificar se o efeito descoberto nos quartetos é confirmado ou não.

Fonte Folhaonline

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