Em 47% dos centros havia problema na calibragem dos equipamentos e em 25% foram encontradas falhas nos procedimentos de desinfecção e esterilização do material; para agência, qualidade não piorou - os inspetores é que estão mais bem capacitados
Quase metade dos serviços de hemoterapia do País foi classificada como de alto e médio risco em levantamento feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O trabalho mostra que, dos 419 centros analisados, 47% apresentavam problemas na calibração e aferição dos equipamentos e 46% operavam com aparelhos sem manutenção adequada. Além disso, em 25% foram encontradas falhas nos procedimentos de desinfecção, lavagem e esterilização do material.
Centros que apresentam condições inadequadas de funcionamento podem trazer risco principalmente para o paciente que recebe o sangue. Uma bolsa armazenada numa temperatura acima do adequado, por exemplo, pode favorecer o crescimento de bactérias. "Se usada, o paciente pode ter uma infecção bacteriana, o que pode agravar ainda mais o seu quadro", avalia o professor titular de hematologia e hemoterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Dalton Chamone.
Os dados, referentes a inspeções feitas em 2010, indicam que somente 17,72% dos serviços reuniam condições consideradas ideais de funcionamento.
O retrato é ainda mais preocupante quando se faz a comparação histórica. O porcentual de serviços considerados de alto risco (mais informações nesta pág.) subiu de 5% para 14% entre 2007 e 2010. Os de médio alto risco passaram de 10% para 11%.
Apesar dos números, o gerente de sangue e componentes da Anvisa, João Paulo Baccara Araújo, assegura que a qualidade dos serviços não piorou. "A qualificação dos inspetores é que melhorou. Hoje eles conseguem identificar pontos críticos com maior facilidade." A visão de Baccara, no entanto, não se repete no boletim da Anvisa. O documento afirma haver duas outras possibilidades, além da melhora na capacidade do diagnóstico: o aumento da amostra analisada e a efetiva piora dos serviços.
Otimismo. O coordenador nacional da Política de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez, também tem uma visão otimista do setor, apesar dos resultados do trabalho. "A cadeia como um todo melhorou ao longo dos últimos quatro anos. A qualidade do sangue no Brasil é boa e dos grandes centros de hemoterapia também."
Para ele, os baixos resultados gerais do levantamento são provocados pelo desempenho ruim em unidades de coleta e transfusão. "É muito difícil controlar o que está sendo realizado na ponta, no banco de sangue ligado ao hospital com 60 leitos, numa pequeno município do interior."
O boletim observa que, dos hemocentros coordenadores (HC) da rede, 85% apresentam risco baixo ou baixo médio. Mas o texto ressalva: "Médio risco para HC é uma classificação que implica necessidade de melhorias importantes, ainda mais considerando sua função coordenadora". Do grupo de HCs avaliados, um é considerado de risco.
Genovez não descarta o risco de pacientes que se submetem a transfusões de sangue em locais onde a qualidade está fora dos padrões. "Não há indicadores. Mas transfusão, assim como outros procedimentos de saúde, tem um risco potencial."
Fonte Estadão
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