Cólicas agudas durante a menstruação e dor durante a relação sexual podem ser indícios de uma doença conhecida desde 1960, mas pouco divulgada mundialmente. Embora tenha sintomas pontuais, que permitam um diagnóstico precoce, o tempo médio entre o primeiro sinal e o início do tratamento, no Brasil, é de sete anos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de seis milhões de brasileiras possuem a doença, o equivalente a 15% da população feminina do País.
A causa da demora, segundo o ginecologista do Hospital das Clínicas de São Paulo e presidente da Sociedade Brasileira de Endometriose, Maurício Abraão, é conseqüência da procura tardia da paciente por um especialista, e da falta de instrução e conhecimento dos médicos. “Cólicas menstruais severas não podem ser tratadas como um fator simples, comum a toda mulher. Muitos médicos não investigam as queixas das pacientes. Ginecologista sempre tem de pensar na endometriose”, assevera.
O endométrio é uma camada de tecido que reveste a cavidade do útero. É preparado mensalmente, durante o ciclo menstrual, através da ação de dois hormônios ovarianos, o estrogênio e a progesterona, para receber o óvulo, caso haja fecundação. Se ela não acontece, esse tecido precisa ser descamado e eliminado como sangramento vaginal durante a menstruação. A doença ocorre quando o tecido não é eliminado.
Apesar de exigir uma avaliação profunda, uma consulta ginecológica é o ponto de partida para identificar o problema. “É fundamental que as mulheres procurem pelo ginecologista no mínimo uma vez por ano. Exames tradicionais, e relatos de dor ajudam o médico a identificar o problema mais rapidamente.” Para ter um diagnóstico completo é necessário realizar exames específicos, como o ultrassom transvaginal, a ressonância magnética e um procedimento mais agressivo: a laparoscopia. Nesses casos, alerta Abraão, a paciente já passou pela análise clínica e deve ser submetida a novos testes para identificar o estágio da endometriose e iniciar o tratamento.
Doença da mulher moderna
Segundo o ginecologista do Hospital Sirio Libanês, João Dias, a doença é multifatorial, ou seja, não tem uma causa única e pode ser provocada por motivos variados. Propensão genética, estresse, fluxo menstrual retrogrado (saída de pequenas quantidades de sangue pelas trompas uterinas), baixa imunidade e gravidez tardia listam os prováveis sintomas.
“A mulher moderna menstrua aproximadamente 400 vezes durante a vida. No século passado, esse número era 100 vezes menor: a média de filhos por família era alta e, conseqüentemente, a menstruação não passava de 40. O ciclo menstrual regulado e a gravidez não protegem da doença, mas ajudam a reduzir os riscos", relata Dias.
No Brasil, a endometriose aparece, na maioria dos casos, em mulheres acima dos 30 anos. A faixa etária, porém, não representa um grupo de risco. Ela pode acometer adolescentes e jovens. A constatação da doença ocorre nesse período em função de uma reclamação particular das pacientes: dificuldade para engravidar. Um dos sintomas e também conseqüências da doença é a infertilidade.
“O distúrbio está relacionado ao ciclo menstrual e compromete o sistema imunológico feminino. Ela atinge os ovários, o peritônio, a bexiga ou o intestino e provoca cistos e nódulos, os responsáveis pelas dores fortes e a possível infertilidade.”
Tratamento
Maurício Abraão alerta que a endometriose não tem cura, mas tem solução. O diagnóstico precoce evita métodos mais invasivos e, muitas vezes, pode ser tratada com medicamentos. Em casos mais graves, é necessário realizar a laparoscopia, um procedimento cirúrgico que permite visualizar, a partir de pequenas incisões abdominais, os pontos afetados e fazer a intervenção necessária.
Quando a doença já atingiu um estágio bem avançado, segundo o especialista do HC, além da cirurgia é necessário também bloquear temporariamente, através de remédios, o funcionamento ovariano da paciente, impedindo a ação dos hormônios sobre os focos e o desenvolvimento de novas inflamações.
Prevenção
O uso prolongado de anticoncepcionais ajuda a regular e equilibrar o organismo feminino e protegê-lo. Por atacar o sistema imunológico, fatores externos como qualidade de vida, atividade física, alimentação saudável reduzem o risco do distúrbio aparecer. Abrão comenta que ainda não há um senso que mapeie o índice da doença por região no Brasil, mas alguns estudos mostram que a poluição e o estresse, comum nas grandes metrópoles do País, influenciam o desenvolvimento da doença.
Fonte Delas
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