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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Menino de Joinville que nasceu surdo passa por cirurgia inédita no Brasil e começa a ouvir


Menino de Joinville que nasceu surdo passa por cirurgia inédita no Brasil e começa a ouvir Leo Munhoz/Agencia RBS
Bruno dos Anjos encantado com os novos sons que ouve
Foto: Leo Munhoz / Agencia RBS
Procedimento que fez Bruno dos Anjos finalmente conhecer o som do mundo foi o implante auditivo de tronco encefálico

Basta um barulho diferente para que o pequeno Bruno dos Anjos, três anos, percorra os olhos por toda a sala em busca da origem do som. E sempre que encontra, um largo sorriso se forma no rosto do garoto serelepe.

Se não fosse pelo aparelho colocado ao redor da orelha, camuflado pelos vastos cabelos pretos, ninguém notaria que o menino tem uma singularidade - ele nasceu surdo. Bruno é uma criança como todas as outras. Adora passar horas jogando no computador, vai à creche todos os dias e tem energia de sobra para correr e brincar. Mas ainda não fala. Por enquanto, pronuncia alguns sons.

Foi somente há oito meses que conseguiu ouvir pela primeira vez e ficou encantado com a novidade. O procedimento que fez Bruno finalmente conhecer o som do mundo foi o implante auditivo de tronco encefálico. Trata-se de uma cirurgia feita para a colocação de eletrodos para estimulação elétrica do som, implantados no núcleo coclear, e um receptor por baixo da pele da cabeça.

A prótese tem como objetivo restaurar a função auditiva de crianças como Bruno, que nasceram sem o nervo auditivo. A cirurgia foi realizada pelo neurocirurgião Andrei Koerbel, em junho do ano passado, no Hospital Dona Helena, em Joinville, e foi a primeira realizada em crianças no Brasil.

Após o procedimento, que demorou cerca de 10 horas, o eletrodo permaneceu desligado por dois meses para se adaptar e fixar no local. Segundo o médico, esta prática é comum em países da Europa.

— O implante era usado em pacientes adultos com tumores, mas profissionais italianos descobrirem que podia ser aplicado em crianças, com resultados muito superiores — conta.

Koerbel explica que a cirurgia precisa ser feita antes dos quatro anos, período em que o núcleo auditivo do tronco cerebral ainda pode ser estimulado. O neurocirurgião relata que o percentual de audição de pacientes que receberam este tipo de implante varia de 40% até 100%.

— Depende de cada paciente e é um resultado a longo prazo. Não temos como saber o resultado que ele terá — fala.

A cada dois meses, um especialista vem de São Paulo mudar a programação do aparelho e tentar estimular ainda mais a audição de Bruno. Cabe aos pais fazer essa avaliação.

— Como estimula não apenas a audição, com uma das mudanças, ele começou a piscar muito e ter coceira nos olhos — lembra a mãe, Franciele de Farias, 29 anos.

Depois de identificar a programação ideal para o menino, o acompanhamento deverá ser menor - uma vez por ano.

— A recuperação está nos surpreendendo. Por isso, é importante divulgar, para que pais na mesma situação tenham acesso a essa possibilidade — afirma Koerbel.

Batalha antes de cirurgia durou dois anos
Mas até a cirugia finalmente acontecer, os pais, Giovane dos Anjos e Franciele de Farias, enfrentaram uma longa batalha que durou dois anos. A descoberta de que Bruno não reconhecia os sons aconteceu quando ele tinha seis meses. Foi a avó, mãe de Giovane, que alertou os pais. Mas eles não quiseram acreditar.

— É difícil aceitar que o nosso filho tem algum problema. Eu ficava até braba quando alguém dizia que ele era surdo — conta Franciele.

Foi por meio do BERA (exame que avalia a audição), encaminhado por um otorrinolaringologista, que os pais souberam que ele não ouvia. Com o resultado em mãos, a família foi a São Paulo, onde, após uma ressonância, descobriu que o menino havia nascido sem os nervos auditivos. A avaliação dos médicos era que nada podia ser feito.

— Voltamos sem esperanças, mas mesmo assim não desisti e resolvi pesquisar melhor — lembra a mãe.

Foi quando Franciele descobriu o neurocirurgião Andrei Koerbel, que mudou o futuro de Bruno. A vitória do pequeno é exemplar. Ele não teria conseguido o implante se não fosse a obstinação dos pais. Foram dois anos de luta até o plano de saúde liberar a cirurgia, cujo custo aproximado é de R$ 150 mil.

— Íamos entrar na Justiça para conseguir a cirurgia, mas daí o plano liberou — recorda Giovane. O período de recuperação foi difícil.

— Ele ficou inchado e sentia muita dor. Doía vê-lo naquela situação — conta o pai.

Dor que foi recompensada quando Bruno ouviu pela primeira vez. A vitória aconteceu quando uma equipe vinda de São Paulo realizou os primeiros testes com o menino. Ao ouvir o barulho, os olhos do menino arregalaram.

— Foi um misto de susto e encanto. Ele ficava olhando pra ver de onde vinha — diz.

Cena que levou os pais às lágrimas.

— Ver o sorriso no rostinho dele e lembrar tudo que passamos. Foi uma sensação única.   

"Felipe veio para ensinar o Bruno a falar"
A rotina de incertezas ganhou um novo capítulo quando Franciele descobriu que estava grávida. O medo de ter outro filho com o mesmo problema abalou ainda mais a vida do casal. Mas eles decidiram que não iam se abater. Enfrentaram mais uma luta juntos e tiraram de letra. Felipe, hoje com seis meses, nasceu saudável. Por precaução, fez o exame BERA e não tem nenhum problema de audição.

— A gente diz que o Felipe veio para ensinar o Bruno a falar. Eles já brincam juntos e nos enchem de alegria — relata Giovane.

Desde então, o período difícil ficou para trás. Hoje, cada nova descoberta de Bruno é uma recompensa para os pais. Tudo com a ajuda da fonoaudióloga Mariana Fouad Guirguis, com quem Bruno faz acompanhamento por cerca de uma hora, duas vezes por semana. As consultas são particulares e custam R$ 75 cada sessão.

— Eu digo que o Bruno é uma faculdade. Mas os gastos não são nada, o que importa é ver a evolução dele — garante Giovane.

A consulta é sempre acompanhada pelo pai, que tem a missão de continuar as atividades em casa. A longo prazo, a terapia vai garantir que Bruno aprenda a articular palavras e comece a balbuciar as primeiras palavras. Resultado que já foi observado pelos pais.

— No início notamos uma evolução maior, ele falava 'mama', 'papa'. Agora parece que está mais lento — diz o pai.

Programas de computador vão ajudar Bruno a fazer a leitura labial e identificar os sons das palavras. Por enquanto ele só ouve sons altos. As brincadeiras também são diferentes e funcionam por meio de "recompensas". O menino só pode começar a atividade quando ouvir o barulho do tambor feito pela fonoaudióloga.

— Às vezes tenho que ser dura com ele, se não vira festa. Mas o Bruno é muito concentrado — conta Mariana.

Segundo a fonoaudióloga, a terapia deve seguir, pelo menos, até os 12 anos. E, por enquanto, nada de aprender libras.

— Queremos estimular ele a ouvir. Aprender a linguagem de sinais vai depender muito da evolução dele. Pode ser que ele nem precise — explica.
Fonte Zero Hora

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