Pesquisadores da área de saúde querem saber se amarrar dados geográficos de um grande grupo de pacientes com bancos de dados clínicos pode revelar padrões de saúde ainda ocultos
Especialistas de TI em saúde, em breve, começarão os debates sobre uma tendência chamada geomedicina, que combina sistema de informação geográfica (GIS, as sigla em inglês) com bancos de dados clínicos para prover ideias de algo que possa melhorar o estado de saúde de uma população ou indivíduo. Embora boa parte da atividade ainda esteja concentrada na academia, empresas de GIS já começam a explorar o potencial comercial da ferramenta.
De acordo com Esri, fabricante de GIS baseada na Califórnia (EUA), “um sistema de informação geográfica integra hardware, software e dados para captura, gestão, análise e apresentação de informações geograficamente referenciadas em todos os formatos”. Uma aplicação de GIS permite ao usuário inserir dados em mapas eletrônicos para encontrar onde estão determinadas coisas, mensurar quantidade ou densidade para certos comportamentos em áreas geográficas definidas ou encontrar o que está ocorrendo em uma área particular ou sua vizinhança.
Em saúde, pesquisadores poderiam usar essa abordagem para encontrar correlações entre condições de saúde e áreas geográficas onde os pacientes vivem. Em 2010, em um estudo do Journal of the American Board of Family Medicine, por exemplo, estudiosos da Universidade da Califórnia/Davis usaram uma solução de GIS para investigar disparidades entre pacientes com diabetes tipo 2 e hiperlipidemia.
Ao combinar dados eletrônicos de saúde de clínicas de cuidados primários com os endereços dos pacientes e dados socioeconômicos de algumas áreas, os pesquisadores encontraram uma associação entre os status social e o nível de HbA1c (teste que mede o nível de açúcar no sangue ou hemoglobina glicada), mas não encontraram nenhuma ligação entre a questão socioeconômica e o nível de colesterol LDL.
O Centro Médico Universitário Loma Linda, no sul da Califórnia, também tem pesquisado o uso da geomedicina, de acordo com artigo publicado no The Atlantic Cities. Dora Borilla, professora-assistente da Escola da Saúde Pública do centro, afirmou que sua equipe está com um trabalho de geocodificar os endereços dos pacientes para usar com um software de GIS, assim, eles poderão mostrar como “onde você vive pode impactar sua saúde”. Ela enxerga nesta iniciativa um passo para melhorar a qualidade da saúde da população atendida pelo hospital onde ela trabalha.
O gerente de healthcare na Esri, Bill Davenhall, contou ao The Atlantic Cities que os clientes podem usar o GIS para correlacionar as condições de saúde aos fatores ambientais em áreas onde eles vivem agora ou onde cresceram. A companhia do executivo oferece um aplicativo gratuito para iPhone (em breve a versão para Android estará disponível) que permite ao indivíduo ligar a informação de saúde pública à experiência ambiental. Chamado de My Place History, o aplicativo utiliza dados do Dartmouth Atlas of Health Care, da Agência de Proteção Ambiental e da Biblioteca Nacional de Medicina.
Estella Geraghty, professora-assistente de medicina clínica na Universidade da Califórnia/Davis, afirmou à InformationWeek Healthcare que vê um crescente interesse pelo uso de GIS em saúde e atribui essa mudança ao aumento dos aplicativos para smartphones. “A maioria das pessoas que possui um celular inteligente tem uma aplicação que envolve informação geográfica. Isso mostra a importância desse tipo de dados.”
A especialista, entretanto, reserva o termo geomedicina para aplicações que médicos podem usar no local de atenção à saúde. “O paciente está no consultório e o médico fará uma recomendação ou providenciará recursos com base no local onde o paciente vive.”
A geomedicina pode até se tornar parte do resumo que muitos médicos com prontuário eletrônicos imprimem para os pacientes antes de eles deixarem os consultórios. Se o paciente for obeso, por exemplo, a prática médica poderia programar esse impresso com recursos para tratar a obesidade.
Estella pede, no entanto, um pouco de cuidado com as informações que serão postas neste tipo de informativo. É preciso que seja algo relevante, alerta a especialista. No início, sugere, não faz sentido olhar o paciente pela exposição a substâncias que podem causar câncer de pulmão, já que não existem testes de triagem para esse tipo de doença.
A professora-assistente reconhece ainda que o GIS é mais relevante para a saúde pública que para a prática clínica comum. “Isso é muito útil na saúde pública. Trata-se de uma grande ferramenta para o estudo da sobrevivência e para o entendimento da epidemiologia de doenças ou exposição ambiental. Mas o desafio está em usar alguns dos dados da área de saúde.”
Fonte SaudeWeb
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