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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Eles param tudo para salvar uma vida

Evelson de Freitas/AE
'Quem precisa de ajuda, liga, porque confia que vamos salvá-lo', diz Eli Beer
Grupo de socorristas liderado por médico israelense já salvou mais de 190 mil pessoas

De quipá na cabeça e um jaleco laranja de socorrista nas costas, o israelense Eli Beer não costuma passar despercebido. Porém, em sua terra natal, região marcada por conflitos armados, ele parece só mais um no batalhão de 1,7 mil voluntários que trabalham para ajudar pessoas em todo o tipo de tragédia, de acidentes domésticos a ataques terroristas. O que nem todos sabem é que esse exército surgiu há 24 anos por uma iniciativa sua, ao fundar a United Hatzalah, organização sem fins lucrativos que já ajudou a salvar mais de 190 mil vidas.

Assim como em vários lugares do mundo, o órgão já chegou ao Brasil, onde começou a atuar em São Paulo e conta com 23 voluntários desde outubro de 2011. A expansão deve ocorrer em breve.

Foi ainda adolescente, com 16 anos, que Beer decidiu se dedicar a salvar vidas, motivado pelas cenas violentas que presenciou no país onde nasceu e cresceu. Sua primeira lembrança, de quando tinha 5 anos, é a de um ataque a um ônibus, que deixou vários mortos. “Lá, as pessoas precisam crescer logo e você tem de fazer a sua parte”, diz.

Na época, o único jeito de ajudar o próximo era como voluntário em ambulâncias. Mas esse trabalho deixou muitas frustrações: “Sempre que saía para socorrer alguém em choque ou que teve um enfarte, nunca chegava a tempo, era sempre tarde demais”, conta. Sua maior decepção foi quando demoraram preciosos 17 minutos para cuidar de um menino de 7 anos que entrara em choque anafilático após comer um cachorro-quente. Tentaram de tudo por quase uma hora, mas o garoto não resistiu. “Vi a família em desespero e pensei: se alguém soubesse o que fazer ali, antes de chegarmos, teríamos salvado essa criança. Percebi que o sistema de ambulância não funciona, pois não são elas que salvam vidas, são as pessoas.”

Primeiro salvamento
Foi aí que teve a ideia, com outros 15 jovens, de montar uma pequena equipe munida de walkie-talkies para atender emergências na vizinhança. Era 1988. “Éramos um grupo de super-homens”, diz, aos risos. “Para nós, toda pessoa salva era uma vitória, era uma família que tinha sobrevivido.”

Logo na primeira semana, socorreu uma vítima de atropelamento. Em dois minutos estava lá e, mesmo sem equipamento, conseguiu estabilizá-la até que fosse para o hospital. Dois dias depois, recebeu uma ligação do filho do paciente, que fazia questão de conhecê-lo. “Foi a primeira vez que salvei uma pessoa.”

A organização recebeu o nome de Hatzalah, uma palavra do hebraico que significa “salvar vidas”, que já era usada para designar os grupos de ajuda humanitária. Foi somente em 2006 que se tornou oficialmente United Hatzalah of Israel.

Ela funciona assim: equipes interligadas, com agilidade de deslocamento de dois minutos. Para garantir a rapidez, os socorristas adotaram pequenas motos que funcionam como miniambulâncias, capazes de chegar ao local o mais rápido possível.

Todos os voluntários utilizam um aplicativo no celular e, quando o alerta toca, quem estiver mais próximo da ocorrência sinaliza no aparelho e corre para o local. São cerca de 530 chamadas todos os dias. E as pessoas literalmente param o que estão fazendo: fecham lojas, deixam empregos e, em segundos, tornam-se socorristas. “Quem precisa de ajuda, liga, porque confia que vamos salvá-lo”, conta.

Segundo Beer, qualquer pessoa pode se oferecer para atuar como voluntária na organização. Após um treinamento de dois meses, o novo membro está pronto para começar. Ainda assim, terá sempre de participar de outros cursos para aperfeiçoar a capacitação.

Os mais de 20 anos de prática em salvamento serviram para que o valor de suas ações fosse reconhecido. Beer foi premiado, em 2010, pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, como o “Empresário Social do Ano”. O mesmo órgão o elegeu, agora em 2012, Jovem Líder Global de Israel. E esses são apenas alguns dos méritos que o socorrista recebeu e trata com modéstia. “O mais importante é dizer que o mundo pode ser melhor se as pessoas cuidarem umas das outras. Você pode ser judeu, muçulmano, católico, não há problema. Basta querer ajudar.”

Lembranças
O salvamento mais marcante de Beer foi o do próprio pai, que sofreu um ataque do coração e ficou 9 minutos inconsciente. Sobreviveu sem sequelas. Por outro lado, não conseguiu evitar a morte de um primo, muito machucado após a explosão de uma bomba. “Foi um dos momentos mais tristes da minha vida.

Casado e pai de cinco filhos, Beer também relata que uma de suas próprias meninas já foi salva por um voluntário, após uma reação alérgica ocorrida na escola. Ele diz usar esse e outros bons exemplos para ensinar às crianças a importância de fazer o bem pelo próximo.

Fonte Estadão

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