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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Exame promete detectar Síndrome de Down com análise do sangue, mas há temor pelo aumento de abortos

Federação Internacional das Organizações de Síndrome de Down tenta proibir o exame

Uma pesquisa anunciada recentemente na Suíça revelou que, com um simples exame de sangue, será possível detectar a Síndrome de Down (ou trissomia do 21) no feto. O aval ao novo teste pré-natal foi dado recentemente pela Agência Nacional de Produtos Terapêuticos da Suíça em meio à controvérsia de que o exame poderia levar a um aumento no número de abortos. Os testes estarão disponíveis no mercado ainda neste mês.

Atualmente, no Brasil, a principal forma de detecção da alteração genética que garante certeza é o cariótipo fetal, método invasivo ao corpo feminino feito pela coleta de líquido amniótico. Outras medidas para o diagnóstico da síndrome são a triagem no soro materno e o rastreamento ultrassonográfico.

Apesar de a legislação de países europeus como Espanha, Itália e Alemanha garantir autonomia à mulher na escolha sobre o aborto, o tema não passou isento de discussão. A Federação Internacional das Organizações de Síndrome de Down, que reúne 30 associações de 16 países, entrou com uma representação na Corte Europeia de Direitos Humanos pedindo a proibição do teste.

A médica Maria Teresa Vieira Sanseverino, do Serviço de Genética Médica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica o porquê de tanta polêmica. Segundo ela, se por um lado, há risco de aumentar a interrupção da gestação, por outro, a disponibilidade do novo teste irá prevenir as perdas gestacionais de fetos normais relacionada aos procedimentos invasivos, que têm um risco de 0,5% a 1% de aborto. A especialista aponta, ainda, que o teste pode ajudar na preparação dos pais:

— Mesmo em países em que o casal pode decidir pelo aborto, existem famílias que fazem o teste a fim de se preparar para o nascimento de um bebê sindrômico e optam pela continuidade da gestação.

Chefe do Serviço de Obstetrícia do Hospital São Lucas, o médico Breno José Acauan Filho destaca que, apesar do aumento de abortos em casos que bebês com Síndrome de Down ter sido identificado nos países em que a prática é legalizada, o exemplo estrangeiro não serve de parâmetro para afirmar que o mesmo poderá ocorrer no Brasil, onde o aborto é ilegal, exceto em caso de violência e risco de vida.

O debate passa, sobretudo, por uma questão cultural e ética. Segundo a coordenadora científica do Instituto de Bioética da PUCRS, Jussara de Azambuja Loch, um questionamento a ser feito é se a malformação genética seria critério moralmente aceitável para interromper uma vida. Embora defenda a autonomia da mulher em relação ao seu corpo, Jussara entende que uma alteração genética como a trissomia do 21 não justifica o aborto.

De acordo com reportagem publicada no jornal francês Le Figaro, o teste será comercializado na Suíça sob o nome PraenaTest. A empresa LifeCodexx alega que o exame tem 95% de efetividade se realizado durante o primeiro trimestre da gravidez.

Desafios e recompensas
Integrante da Associação dos Familiares e Amigos do Down, a aposentada Vera Ione Scholz Rodrigues sabia que tinha risco de ter um filho portador da Síndrome de Down quando decidiu engravidar aos 39 anos. Mesmo assim, optou por não realizar o teste de diagnóstico pré-natal e esperar o dia do parto para saber o diagnóstico. Sua reação diante do nascimento do filho João Vicente, portador da trissomia do 21, foi de naturalidade.

— Ao contrário da maioria dos pais, eu e meu marido não vivemos a chegada dele como um período de luto. Quando o João nasceu, sentimos que precisávamos ter paciência e dar a melhor criação possível a ele — afirma Vera.

Hoje, com 16 anos, o filho cursa a 7ª série de uma escola regular e divide seu turno livre entre atividades como pilates, fisioterapia e taekwondo. Há pouco tempo, ainda fazia vôlei e teatro. Quanto às diferenças na criação em relação à primeira filha, Giovanna, dois anos mais velha, Vera explica que, no dia a dia, o processo de educação demora um pouco mais.

— Mas não se trata apenas de desafio. Há também muitas alegrias e recompensas — afirma a mãe.

Métodos utilizados para identificar a síndrome

:: Cariótipo fetal — realizado com procedimentos invasivos guiados por ecografia, como a coleta de líquido amniótico (amniocentese, realizada entre 15/16 semanas de gestação) ou biópsia de vilosidades coriônicas (entre 12/13 semanas de gestação).

:: Triagem no soro materno — mede proteínas no soro materno e calcula a probabilidade de o bebê apresentar a síndrome. Apresenta muitos resultados falso-positivos e acaba resultando em um número elevado de amniocenteses desnecessárias.

:: Rastreamento ultrassonográfico — mede a translucência nucal, osso nasal, frequência cardíaca e estima o risco de trissomia 21, 13 e 18 em relação à idade materna no primeiro trimestre da gestação. É mais sensível, mas também está sujeito a falso-negativos e a falso-positivos.

Fonte: Maria Teresa Vieira Sanseverino, do Serviço de Genética Médica da UFRGS

Por Zero Hora

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