A Secretaria de Saúde de Campinas (SP) está investigando um surto de tuberculose em recém-nascidos na ala 3 da maternidade do Hospital Madre Theodora. Três casos foram confirmados de bebês gerados este ano na unidade. Pais de 354 crianças nascidas entre janeiro e junho de 2012 neste setor do hospital já começaram a ser chamados por carta para fazer testes em seus filhos. Numa segunda fase, mais 1,3 mil famílias serão convocadas.
A secretaria informou que, de acordo com a literatura médica, esse é o
segundo caso descrito de transmissão inter-hospitalar de tuberculose em
recém-nascidos no mundo – o primeiro aconteceu na Itália. A origem da
contaminação foi uma técnica em enfermagem que trabalha no hospital e foi
diagnosticada com tuberculose. Ela estava em férias e foi afastada antes de
voltar ao trabalho para tratamento.
A confirmação de contaminação dos recém-nascidos aconteceu em agosto e foi
divulgada na manhã desta quinta-feira, 20, pela Secretaria de Saúde e pela
direção do hospital, que é particular.
As três crianças, nascidas entre fevereiro e maio, receberam o diagnóstico em
atendimento nos hospitais Maternidade Celso Pierro, Hospital Mário Gatti e
Centro Médico, de Campinas. De acordo com a coordenadora do Departamento de
Vigilância em Saúde (Covisa), Brigina Kemp, os bebês já iniciaram o tratamento e
respondem bem. Apenas um continua internado.
“Tivemos dois casos de bebês diagnosticados com tuberculose e fomos atrás de
pessoas próximas com a doença e não achamos. Descobrimos então que, em comum,
elas tinha o fato de terem nascido no mesmo local, num período próximo de tempo.
Foi quando apareceu o terceiro caso, com as mesmas origens”, explicou
Brigina.
Cura
A tuberculose é uma doença infecciosa que tem cura. Em recém-nascidos,
tanto o diagnóstico como o tratamento são mais difíceis. Transmitida pela
bactéria Mycobacterium tuberculosis, o bacilo de Koch, é uma doença conhecida
por afetar principalmente os pulmões, mas também pode atingir ossos, rins e
meninges (membranas que envolvem o cérebro). Transmitida pelo ar, pelas
gotículas de saliva, bebês não são transmissores da bactéria.
Uma das características mais comuns para identificação da tuberculose em
adultos é tosse com duração superior a três semanas. Em bebês, não há tosse.
Sintomas como febre vespertina, sudorese noturna e emagrecimento, comuns nos
adultos, também não aparecem. Geralmente as crianças apresentam problemas
pulmonares, que são tratados e retornam, e dificuldades de ganho de peso.
Para análise das crianças nascidas nesse período no Madre Theodora, foi
montado pela Secretaria de Saúde um protocolo de diagnóstico em parceria com as
universidades de Campinas. Ele prevê, entre outras coisas, análise de curva de
crescimento, desenvolvimento dos bebês, raio X de tórax e testes com
reagentes.
“Não há motivo para pânico. Pode ser considerado um surto porque foi uma
ocorrência inusitada, em um determinado local, que foi o ambiente hospitalar, em
um determinado período de tempo. Não significa que houve grande número de
contaminação, mas sim uma transmissão focal”, explica a coordenadora da
Covisa.
O hospital informou que já começou a enviar cartas para os pais das crianças
nascidas entre janeiro e junho na ala 3 e que tiveram contato direto com a fonte
da doença. Em seguida, outras 1 mil recém-nascidos desse período e da mesma ala
deverão ser chamados para exames. Todos os 730 funcionários e terceirizados do
Madre Theodora estão sendo examinados. “Como se trata de transmissão com foco
definido e já contido, não há motivos para preocupações”, disse Brigina.
O pai de uma recém-nascida em abril na maternidade, que pediu para não ser
identificado, afirmou que , assim que soube da notícia pela mulher, ligou para o
hospital. “Ficamos preocupados, mas a nenê graças a Deus nunca teve nada. Mas
vamos agora ver o que fazer”, afirmou o especialista em informática, que ainda
não recebeu carta do hospital.
A Secretaria Municipal de Saúde emitiu um documento técnico alertando todos
os profissionais de saúde da região de Campinas, como centros médicos e
hospitais, para verificação de crianças que apresentarem sintomas da doença e
que tenham nascido na maternidade do Madre Theodora este ano para que façam o
encaminhamento para a Covisa.
Fonte Estadão
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