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Universitário chuta bola de futebol em campo em Pequim, na China
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Xiao Ru passou seu último ano do ensino médio estudando de manhã até a noite. Isso não contribuiu para que ela completasse uma tarefa específica em seu primeiro ano de faculdade: uma corrida de 1,5 mil metros.
Com dois amigos ditando o ritmo ao seu lado, ela por conseguiu terminar a prova de educação física da universidade por pouco. Momentos depois, ela caiu e vomitou. "Estamos no inverno, então eu não tenho treinado muito", ela murmurou. "E, de repente, hoje eu tive que participar desta corrida. Eu simplesmente não aguentei.”
Vestida com um moleton de lã roxo para se proteger do frio da manhã de inverno, a estudante de 18 anos desmaiou nos braços um de seus colegas após a corrida na prestigiada Universidade de Tsinghua de Pequim. Cada um deles a segurou pelos cotovelos enquanto a escoltavam para fora da pista.
Tais ocorrências estão se tornando cada vez mais comuns nas pistas da China, que, apesar de seu desempenho formidável nas últimas olimpíadas, está presenciando o declínio da aptidão de seus jovens.
"Nosso poder econômico cresceu enquanto o físico de nosso povo não apenas parou de melhorar, mas está cada vez pior. Isso é inaceitável", disse Sun Yunxiao, vice-diretor do Centro de Pesquisa de Crianças e Juventude, em Pequim. "Isso é algo que preocupa o país".
O governo pediu para que as escolas reforcem seu currículo em educação física após um protesto desencadeado por uma série de eventos no final do ano passado. Dois estudantes universitários chineses morreram quando estavam treinando para uma corrida anual de 1 mil metros obrigatória no final de novembro.
Outros dois corredores com 20 anos de idade morreram em corridas de 5 mil metros e 10 mil metros durante um evento esportivo na cidade de Guangzhou. As mortes súbitas foram consideradas acidentais, mas foram suficientes para chamarem a atenção para a educação física na China.
Várias universidades chinesas também cancelaram suas corridas de 5 mil metros para os homens e 3 mil metros para as mulheres de seus eventos esportivos, por motivos que incluíam o medo de serem responsáveis por fatalidades e também pela falta de interesse dos estudantes.
Sun atribuiu o declínio da capacidade física a uma obsessão com pontuações de testes acadêmicos diante do ambiente cruelmente competitivo da China para admissões em faculdades, assim como a proliferação de opções de entretenimento como jogos de vídeogame e a internet.
Embora a qualidade do ar em muitas cidades chinesas tenha piorado nos últimos anos, os educadores físicos têm considerado a poluição do ar como um grande empecílio para atividades ao ar livre.
Sun disse que uma grande maioria de jovens estudantes chineses citaram seu desempenho acadêmico como sendo a principal preocupação de seus pais, e uma parte assinalou que essa era a única coisa que importava para seus pais.
Lou Linjun, um ex-professor de educação física em Hangzhou, no leste da China, disse que o cansativo trabalho escolar fazia com que muitos alunos desistissem de fazer exercícios. "Tornou-se uma norma que os pátios escolares estejam vazios no período da tarde em muitas das principais escolas da cidade ", disse Lou que hoje é assistente de diretor.
Os resultados ficam claros com os testes de aptidão anuais obrigatórios para estudantes universitários chineses. Dados do Ministério da Educação mostraram que, em 2010, os estudantes universitários do sexo masculino correram 1 mil metros de 14 a 15 segundos mais devagar, em média, do que os alunos que correram o mesmo percurso na década anterior.
Alunas diminuíram para cerca de 12 segundos na corrida de 800 metros. Os alunos também se saíram pior em outros testes físicos como salto à distância mais curtos e poucos conseguiam completar uma sequência de abdominais.
Enquanto isso, as taxas de obesidade entre os estudantes universitários chineses aumentaram. Em 2010, 13,3 % dos estudantes urbanos do sexo masculino eram obesos, comparado a 8,7 % na década anterior.
Xiao, aluna de Tsinghua, estudava constantemente enquanto ainda frequentava o colegial na província de Shanxi, ao norte da China, acordando às 7h e dormindo depois da meia-noite todos os dias, para se preparar para o vestibular.
"A escola não nos obriga a participar de aulas de educação física no último ano", disse ela, acrescentando que sua atividade física semanal consistia apenas da prática de um pouco de badminton com os amigos.
As longas horas de estudo valeram a pena. Os funcionários da escola concederam a família 20 mil yuans (US $ 3,2 mil) e uma televisão LCD quando ela obteve pontuação alta o suficiente nos exames para entrar na universidade de prestígio.
Educadores de esportes em Tsinghua se dizem obrigados a compensar as oportunidades perdidas pelos estudantes de praticar exercícios na escola. "Nós temos a melhor educação", disse Ma Xindong, reitor de educação física da universidade. "Se você viver mais tempo, pode contribuir mais para a sociedade."
Tsinghua vai além do padrão de exigência de uma corrida de 1 mil metros e faz seus alunos do sexo masculino correrem 3 mil metros para seus testes de aptidão.
Xu Sicheng, estudante do segundo ano, diz que nunca havia corrido uma distância tão longa antes de vir para Tsinghua,. Segundo ele, seus colegas estavam "chocados" ao saber desta exigência da escola. "Para nós isso foi algo muito difícil de se considerar!"
Fonte iG
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