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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Nobel de Medicina vincula tamanho de trechos de DNA à prevenção de doenças

Elizabeth H. Blackburn, ganhadora do Nobel de Medicina
Thor Swift/The New York Times
Elizabeth H. Blackburn, ganhadora do Nobel de Medicina
Elizabeth H. Blackburn se considera cética. Mas admite que às vezes se impacienta com as dúvidas levantadas por alguns cientistas em relação aos seus empreendimentos.
 
O que está em discussão é um exame laboratorial que mede os telômeros, trechos de DNA nas extremidades dos cromossomos que impedem o envelhecimento precoce das células.
 
Telômeros anormalmente curtos podem assinalar uma predisposição a doenças.
 
Blackburn, Nobel de Medicina em 2009 por seu trabalho sobre telômeros, acha que a medição dos telômeros traz a oportunidade de intervenção precoce ou até mesmo de prevenção de doenças. Uma empresa que ela cofundou prevê oferecer os exames de medição de telômeros ainda neste ano.
 
Mas outros cientistas questionaram a utilidade da medição, que não diagnostica doenças específicas. Apesar disso, Blackburn, 64, professora de biologia e fisiologia na Universidade da Califórnia em San Francisco, diz estar convencida.
 
Uma década de dados obtidos por sua equipe e outros pesquisadores indica um vínculo entre telômeros curtos e doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e outros males, incluindo estresse crônico e transtorno de estresse pós-traumático. Blackburn também pesquisou as ligações entre estresse emocional, saúde e telômeros curtos.
 
Os telômeros frequentemente são comparados às pontas de plástico dos cordões de sapatos, que não deixam os cordões se esfiaparem. Há muito tempo, cientistas já imaginavam que os telômeros protegessem as extremidades dos cromossomos, mas ninguém sabia como.
 
Cada vez que uma célula se divide, seus telômeros se encurtam. Se eles ficam curtos demais, a célula não pode mais se dividir. Mas, nas células saudáveis, os telômeros são reconstruídos.
 
Na Universidade Yale, no final dos anos 1970, Blackburn descobriu que os telômeros são feitos de seis unidades de DNA repetidas muitas vezes. Ela e um pesquisador da Universidade Harvard, Jack W. Szostak, determinaram que uma enzima deve restaurar os telômeros. Em 1978, Blackburn foi para a Universidade da Califórnia em Berkeley, e, em 1984, Carol W. Greider, estudante de pós-graduação em seu laboratório, identificou a enzima: a telomerase.
 
Blackburn, Szostak e Greider dividiram o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2009.
Dez anos atrás, Blackburn iniciou uma colaboração com Elissa Epel, psicóloga da Universidade da Califórnia em San Francisco que estuda o estresse crônico. Um dos projetos delas envolveu mães que eram as cuidadoras principais de filhos com doenças crônicas.
 
"Com as mães, o tema realmente me tocou", disse Blackburn. "Senti muito por essas mulheres. "
 
Comparadas às mães de filhos saudáveis, as mães de filhos doentes apresentavam telômeros mais curtos e menos telomerase. Quanto mais tempo elas vinham cuidando de seus filhos, mais curtos eram seus telômeros. O mesmo fenômeno foi constatado com pessoas que cuidavam de cônjuges com demência. Outros estudos sugeriram que acontecimentos traumáticos da infância podem ter efeitos que persistem por décadas sobre os telômeros e a saúde.
 
Pessoas começaram a indagar se seus telômeros poderiam ser medidos. Blackburn achou que seria razoável oferecer ao público um exame de medição de telômeros, e, em maio de 2010, cofundou uma empresa, a Telome Health.
 
O plano consiste em começar a oferecer neste ano os exames de telômeros, que terão que ser receitados por um médico. De acordo com o presidente e executivo-chefe científico da empresa, Calvin Harley, o preço será competitivo. Outras companhias que fornecem exames semelhantes cobram entre US$ 300 e US$ 700.
 
O exame não diagnostica doenças específicas. Harley o compara a uma "luz de aviso" de um carro --o indicativo de um problema possível que necessitará de mais exames. "Não é uma bola de cristal que dirá quantos anos de vida nos restam", comentou Blackburn.
 
Segundo ela, existem maneiras de proteger os telômeros e possivelmente de alongar os telômeros curtos. Exercícios físicos, uma dieta nutritiva, perder peso em excesso e reduzir o estresse emocional podem ajudar.
 
Alguns pesquisadores são céticos, argumentando que as ligações entre telômeros curtos e doenças não constituem prova de causa e efeito. Entre os que questionam o exame está Carol Greider, que dividiu o Nobel com Blackburn.
 
Mas a esperança de Blackburn é que a medição de telômeros faça parte de uma nova direção na medicina, voltada a interceptar doenças. Telômeros anormalmente curtos podem indicar um problema de saúde, segundo ela. "Se você estiver entre o percentual mais baixo para a sua faixa etária, pode se interessar em saber a razão disso."
 
Fonte The New York Times
 
Por iG

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