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Três meses para agendar uma consulta. Duas horas de espera no pronto-socorro.
Dois meses para marcar um exame. Falta de leitos para internação. Esse é o
retrato do atendimento aos pacientes de planos de saúde no Brasil - uma
realidade que cada dia mais se aproxima do serviço da rede pública, também em
crise. Pagar mensalidades caras, muitas vezes superiores a R$ 1 mil, não
assegura mais rapidez nem qualidade no atendimento.
Atualmente, 47,9 milhões de brasileiros têm planos de saúde - um milhão a
mais do que em 2011. O problema é que a oferta de consultórios, leitos,
laboratórios e hospitais vem sofrendo uma redução. Dados da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS) apontam queda de 10,2% no número de clínicas ou
ambulatórios no Estado de São Paulo e redução de 10% no de prontos-socorros
gerais de um ano para o outro.
Não à toa, reclamações contra planos de saúde estão entre as dez principais
queixas dos consumidores no Procon-SP. "Houve um crescimento muito rápido da
demanda, porque mais pessoas têm acesso aos planos de saúde. Mas o mercado não é
capaz de absorver todo mundo", avalia o médico Gonzalo Vecina, professor da
Faculdade de Saúde Pública da USP.
A mesma opinião tem o professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Oswaldo
Yoshimi Tanaka. "Observamos um aumento nos planos, criado pelo crescimento dos
empregos formais e pela ascensão da classe D à C. Da mesma maneira que as
pessoas têm desejo de consumir carro e celular, elas querem planos de saúde,
que, por sua vez, aumentaram a clientela, mas não a oferta."
Demanda e custo
Um dos principais entraves nesse cenário é a baixa remuneração dos médicos. Situação exemplificada pelo clínico Geraldo (nome fictício), de Sapopemba, na zona leste. Ele conta que o gasto mensal de seu consultório é de R$ 6 mil, e os planos pagam cerca de R$ 45 por consulta - ele precisaria fazer mais de 130 consultas por mês para arcar com os custos. Por uma consulta particular, ele recebe R$ 300.
Um dos principais entraves nesse cenário é a baixa remuneração dos médicos. Situação exemplificada pelo clínico Geraldo (nome fictício), de Sapopemba, na zona leste. Ele conta que o gasto mensal de seu consultório é de R$ 6 mil, e os planos pagam cerca de R$ 45 por consulta - ele precisaria fazer mais de 130 consultas por mês para arcar com os custos. Por uma consulta particular, ele recebe R$ 300.
A baixa remuneração leva médicos a reduzir horários em suas agendas para
pacientes de planos - ou até deixar de atendê-los. Como consequência, esses
clientes acabam buscando o pronto-socorro, sobrecarregando o sistema com idas
desnecessárias aos hospitais.
"Em geral, o paciente que está no pronto-socorro está no meio de uma crise de
um problema crônico, como diabete e hipertensão. Ele vai tratar a crise e não o
problema real. E vai voltar lá, porque não consegue agendar a consulta. É um
círculo vicioso", afirma Vecina.
É o caso da arquiteta Silmara (nome fictício), de 37 anos. No início do mês,
ela foi com o marido no pronto-socorro do Hospital Oswaldo Cruz. Marcelo sentia
uma forte dor de cabeça havia 5 dias e tentara agendar uma consulta com um
neurologista do plano, mas só havia data no fim do mês. "A dor não passava com
nenhum remédio. Com medo de que fosse um aneurisma, fomos ao
pronto-socorro."
Anteontem, a reportagem visitou cinco prontos-socorros: São Luiz do
Itaim-Bibi, São Camilo, Nove de Julho, Santa Catarina e Samaritano. O tempo
médio de espera para o primeiro atendimento era de 40 minutos. Mas de acordo com
o tipo de medicação necessária, a demora passava de três horas.
Os hospitais disseram que o tempo de espera varia segundo o horário, o dia da
semana e a época do ano. No inverno, é comum que a demora seja maior por causa
do aumento de casos de problemas respiratórios. Segundo eles, a ordem de
atendimento prioriza casos urgentes e não quem chegou primeiro.
Vaquinha
Além da demora no agendamento de consultas, a falta de leitos de
internação também tem se tornado uma pedra no sapato dos usuários de planos. Em
maio, a microempresária Raquel da Silva Moreira, de 44 anos, teve de pedir R$
130 mil emprestados ao irmão para internar o filho Gabriel, de três meses, na
UTI pediátrica em um hospital de ponta da capital.
O bebê estava com problemas respiratórios e podia morrer. Raquel procurou um
pronto-socorro, mas não havia leito disponível. Acionou o convênio e ligou para
três hospitais, todos sem vagas. "Havia vaga só no Einstein, mas era preciso
depositar R$ 130 mil antecipadamente. Não tinha o dinheiro e envolvi a família."
Ela fez uma vaquinha. O bebê foi transferido e ficou três dias internado. O
custo total: R$ 21 mil, sem contar os R$ 2 mil da ambulância. A diferença do
valor da internação foi devolvida pelo hospital.
O Hospital Albert Einstein informou que o tratamento emergencial ocorreu em
outro hospital. "O que foi feito foi uma transferência eletiva." Nesse caso,
segundo o hospital, o pagamento parcial antecipado é legal. Raquel vai à Justiça
pedir o ressarcimento, já que o plano se recusou a reembolsá-la.
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