São Paulo - Estudo da Universidade de São Paulo (USP) com 257 mulheres que
deram à luz em um hospital público mostra uma prevalência de 28% de depressão
pós-parto.
O índice é pelo menos duas vezes maior do que o descrito pela
literatura mundial, que varia de 10% a 15%. A pesquisa foi desenvolvida pelo
Instituto de Psicologia e pela Faculdade de Medicina com gestantes que fizeram o
pré-natal em unidades básicas de Saúde, no bairro do Butantã, e o parto no
Hospital Universitário da USP. Foram avaliadas também a ocorrência do transtorno
em 268 mulheres que tiveram filhos em um hospital privado e a taxa ficou abaixo
até mesmo da média mundial, com 8% de prevalência.
A análise das estatísticas dos dois hospitais mostrou um conjunto de fatores
considerados de risco para a depressão pós-parto. Entre eles, estão a ocorrência
de depressões anteriores, qualidade da relação com o parceiro, o apoio social e
os anos de escolaridade.
"Os fatores apontados devem ser interpretados dentro de
um contexto mais amplo e considerados em suas interações. Contudo, as mulheres
atendidas no hospital público apresentaram maior número de fatores de risco",
esclareceram as coordenadoras do projeto Emma Otta, Vera Sílvia Bussab, Maria de
Lima Salum e Morais, em entrevista à Agência Brasil. Nas duas
amostras, os recém-nascidos apresentaram condições de saúde semelhantes. A idade
da mãe, a escolaridade, o número de visitas pré-natal e de cesarianas foram
maiores entre as mães do hospital privado.
As mães e os filhos foram acompanhados nos três anos após o nascimento com
objetivo de identificar as interferências da depressão no desenvolvimento
cognitivo das crianças. A pesquisa mostra que, embora as mulheres com depressão
pós-parto tenham se considerado piores mães, isso não interferiu
significativamente na interação deles. "Elas relatavam que o bebê dava mais
trabalho, que tinham mais dificuldades nos cuidados com a criança, que eram mais
impacientes e que dedicavam menos tempo ao filho", explicam as
pesquisadoras.
Já no quarto mês de vida, observadores externos perceberam que as mães com
sinais de depressão pós-parto conversavam menos com os bebês, especialmente
quando já tinham outros filhos, e também que os filhos procuravam menos o olhar
materno. Nessa fase, no entanto, não houve diferença significativa, contudo, em
outros comportamentos interacionais nem motores.
Aos 12 meses, por outro lado, os filhos de mães depressivas apresentaram pior
desempenho em tarefas de desenvolvimento motor, mas mostraram melhor
desenvolvimento da linguagem oral. Para as pesquisadoras, isso pode ser
justificado pela maior necessidade de as crianças exibirem comportamentos que
chamem a atenção de outras pessoas. Por meio da análise de vídeos, também foi
possível perceber nessa fase que as crianças exploravam menos o ambiente,
manipulavam menos os brinquedos e apresentavam mais movimentos repetitivos na
interação com uma pessoa estranha.
Foram feitas análises ainda aos 24 meses e aos 36 meses. Com 2 anos, foram
avaliados a empatia e os comportamentos sociais do bebê. Em uma situação
experimental, o pesquisador simulou estar desapontado e a maior parte das
crianças, independentemente da condição materna, tentou ajudá-lo. Aos 3 anos,
foram mais frequentes os casos em que filhos de mulheres depressivas ignoraram
as solicitações da mãe.
O estudo mostra que alguns fatores atenuam a influência da depressão materna
sobre o desenvolvimento da criança. Em relação às mães, entre outros fatores,
são importantes o apoio do parceiro e da família. Por parte da criança, "fatores
como temperamento, resistência ao estresse, tempo com a mãe, entre outros, podem
ser responsáveis pela variação comportamental".
As pesquisadoras destacam ainda que medidas simples podem ser úteis para
diminuir o impacto do transtorno. Uma delas seria adotar uma ficha de
atendimento das gestantes com informação sobre ocorrência de episódios
anteriores de depressão. "Esse foi um importante fator de risco na nossa
amostra", justificam.
Outra estratégia é o rastreamento de indicativos do transtorno durante a
gestação ou ainda no primeiro mês após o parto. "Isso permitiria o
encaminhamento dessas mulheres para o tratamento do transtorno e,
adicionalmente, permitiria planejar o acompanhamento delas com mais atenção",
propõem. A capacitação permanente dos profissionais de saúde pública sobre a
depressão pós-parto também é considerada uma medida fundamental.
Agência Brasil
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