Silenciosamente ela chega. Sem pedir licença, entra na vida de muitas pessoas e provoca uma reviravolta. Vem carregada de desânimo, cansaço, ansiedade, angústia, apatia. O humor não é mais o mesmo e a sensação de insegurança, medo, desespero afloram no mais íntimo do ser humano.
Por muitos anos, a depressão era considerada uma 'doença de rico' e pouco se dava a devida atenção para seus sintomas e consequências. Mas essa definição veio desmoronando e os casos registrados por todo o Brasil apontam dados estatísticos assustadores.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta, de acordo com os levantamentos publicados em julho deste ano, que o Brasil é o país com a maior prevalência da doença. Em 2012, por exemplo, 10,8% da população apresentou o distúrbio mental. A OMS estima que a doença afete 121 milhões de pessoas no mundo e pontua que até 2020 será a doença com maior prevalência no mundo para se ter uma ideia todos passaram por um período ou episodio de depressão em sua vida.
Descoberta da doença
Um casamento cheio de problemas foi o que ocasionou a primeira crise de depressão na microempreendedora Eliane Nascimento. Ela não conhecia a doença, mas foi diagnosticada pela médica após uma junção de sentimentos como tristeza, angústica, desânimo. "Chorava incontrolavelmente e não tinha vontade de fazer nada, nem mesmo de sair de casa. A única coisa que não saia da minha cabeça era a vontade de me matar para acabar com todo aquele sofrimento".
O problema de Eliane estava no casamento, repleto de discussões, desentendimentos e incompreesões, que durou cerca de 30 anos. Criada numa época onde a mulher deveria estar ao lado do marido independente das situações vivenciadas, ela conta que o medo de pedir a separação era um obstáculo para acabar com o sofrimento. "Eu tinha três filhos para criar e achava que não conseguiria sem ele, então nunca me separei. Pensava como seria difícil me manter com três crianças pequenas", comentou.
A sensação de desespero era uma constante e em uma das crises mas intensas, chegou a pegar uma faca e tentar se matar. No entanto, foi com a intervenção do próprio marido que Eliane não atentou contra a própria vida. "Eu pensei muitas vezes em me jogar debaixo do trem, em me matar. Foi quando procurei um médico e fiz um tratamento à base de remédios e com acompanhamento psicológico e fiquei boa".
A microempreendedora teve sua segunda crise após uma cirurgia e precisou retornar o tratamento. "Eu acredito que não estava curada ainda, e quando fiz a cirurgia passei muito tempo em casa e isso me deixou novamente depressiva".
Viúva há três anos, Eliane agora só pensa em viver. "Comecei a me cuidar, o meu problema estava no casamento e hoje, penso em viver todos os dias intensamente porque não sei o dia de amanhÔ.
Doença pode levar a morte
Em Maceió, no conjunto Frei Damião, no bairro do Benedito Bentes, pai e filha foram encontrados mortos por enforcamento dentro de uma residência, no último dia 02 de outubro. Os indícios apontam que o rapaz, identificado como Jorgivaldo da Silva Lopes, 28 anos, matou a filha Yasmin Lopes da Silva, de apenas cinco anos, e em seguida cometeu suicídio. Familiares de Jorgivaldo disseram que há dois meses o rapaz apresentava sintomas de depressão.
No último dia 09 de outubro, a empresária Eliane Gonçalves foi encontrada com um tiro, em uma pousada na Praia do Francês. Socorrida com vida, ela passou por procedimentos cirúrgicos, mas não resistiu e acabou morrendo. A empresária deixou uma carta revelando o motivo pelo qual ela teria atentado contra a própria vida e as investigações da polícia confirmam que ela cometeu suicídio.
Como identificar a doença
O psicólogo Leonardo Naves explica que a depressão é considerada um mal do século. As causam são as mais diversas, como por exemplo, perdas de relacionamento, de emprego, entes queridos, perdas financeiras, além de causas orgânicas envolvendo a tireoide, e doenças terminais como câncer, Aids. Outras causas comuns também são por indução a substâncias psicoativas.
Segundo ele, os sintomas se apresentam em três esferas: emocional com uma tristeza profunda, vazio cronificado, sentimento de culpa. Em segundo sintomas na esfera social isolamento, pessimismo com a vida e também ausência no trabalho ou afastamento. E por último os sintomas físicos dores musculares insônia, choro compulsivo sem motivo.
O especialista em psicopatologia, Franklin Bezerra, revela que a depressão pode ser neurótica ou reativa, que é aquela em que a pessoa apresenta reação a uma perda e a endógena que geralmente está ligada a doenças mentais graves, por isso, é importante identificar qual tipo de depressão que o paciente está passando. "Em casos mais graves, que são as depressões endógenas, o paciente precisa do tratamento psicoterapêutico e também medicamentoso porque nestes casos ele é capaz de cometer atos contra a própria vida".
Franklin explica ainda que muitas vezes o fator que se apresenta como justificativa para uma atitude extrema é apenas o objeto desencadeador da situação estressante. "Hipoteticamente este paciente já vinha sofrendo com outras situações que o levaram a cometer este tipo de atitude. A justificativa não é falsa, mas, ela sozinha não causou a situação estressante".
Alagoas Notícias
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