Eles estão no meio de nós, em todos os lugares. Mas a onipresença dos
smartphones não é unanimidade: já há quem tenha decidido restringir seu uso como
uma forma de "detox digital".
A expressão virou moda nos Estados Unidos, onde já existem iniciativas
formais: acampamentos de desintoxicação que desafiam usuários a passar alguns
dias off-line.
Por aqui, não há nada parecido, só ações individuais de quem admite ser um
"heavy user", termo que descreve usuários frequentes.
Se a ideia de desligar o aparelho lhe parece absurda e esquecê-lo em casa é
motivo de desespero, você é um deles.
O publicitário Danilo Augusto de Oliveira, 23, depois de ouvir reclamações
dos pais, decidiu ficar uma semana sem usar a internet do aparelho e comprovou:
há, sim, vida sem smartphone.
"Fiquei mais produtivo. Li mais, escrevi e conversei mais com a minha
família."
Por outro lado, as esperas em filas se tornaram maiores. "Eu sempre jogo
nessas horas. Também senti falta de tirar fotos e postar no Instagram. Mas
acabei percebendo que tirava fotos demais."
Hoje, um ano depois do jejum, ele mantém as notificações de redes sociais
desativadas e já recomendou a experiência a alguns amigos, sem sucesso.
Editoria de Arte/Folhapress |
Caminho sem volta
A venda de celulares com internet no Brasil cresceu 110% no segundo trimestre
deste ano em relação ao mesmo período do ano passado (dados da consultoria IDC).
Até o fim deste ano, estima-se que haverá 6,8 bilhões de celulares no mundo,
40% deles ligados à internet, segundo números da União Internacional de
Telecomunicações, órgão ligado à ONU.
A antropóloga Sandra Rubia da Silva, que estuda o impacto dos aparelhos do
cotidiano, diz que muitos têm uma relação afetiva com o smartphone.
"Esse é um fenômeno que se disseminou rapidamente, em pouco mais de dez anos,
e mudou as relações sociais. Tem quem almoce, jante e durma com o celular", diz
Silva, professora da Universidade Federal de Santa Maria.
A conexão 24 horas acabou com a separação entre vida profissional e pessoal,
diz a psicóloga Daniela Romão-Dias, professora da PUC-Rio. "Ter o mundo às mãos
é irresistível, é uma concorrência desleal com a realidade."
As demandas infinitas de e-mails, aplicativos e redes sociais podem gerar
angústia, afirma Dora Sampaio Góes, psicóloga do Grupo de Dependência de
Internet do Hospital das Clínicas.
"No smartphone é tudo para ontem. Mas devemos questionar: é urgente mesmo?
Preciso deixar de interagir com os outros para responder uma mensagem?"
Quem já sente prejuízo causado pela tecnologia, como queda na produtividade,
deve tentar, primeiro, corrigir o problema sozinho, sugere o psiquiatra Aderbal
Vieira Junior, da Unifesp.
Para isso, basta criar algumas regras. Se não funcionar, procure ajuda.
A arquiteta Anne Cuchi, 33, hoje adepta da ideia "menos wi-fi, mais
conversa", já propôs aos amigos, no bar, deixar os smartphones no centro da
mesa: quem pegar primeiro paga a conta.
"Eu resisti bravamente. Meu maior vício é o Instagram. Hoje deixo desligados
os alertas do Facebook e de conversas em grupo."
O diretor comercial Heber Galarce, 32, estava no bar quando um de seus amigos
pediu um "copo off-line" para ele, que se diz viciado.
O copo, servido no bar Salve Jorge, em São Paulo, é uma tulipa que só para em
pé se for apoiada em um celular. "Serviu como puxão de orelha", diz Heber, que,
durante a entrevista, responde a mensagens no Whatsapp.
Essa não é a primeira tentativa de trazer as pessoas de volta à mesa do bar.
No Venga, no Rio, os roteadores de wi-fi foram renomeados com palavras formando
a frase "Ah, largue o celular, curta o momento".
Folhaonline
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