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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Americana se adapta a novo rosto após transplante

Carmen Tarleton, que passou por cirurgia de transplante de rosto, toca banjo em um festival nos EUA
Leslye Davis/The New York Times
Carmen Tarleton, que passou por cirurgia de transplante de rosto,
toca banjo em um festival nos EUA
Carmen Tarleton deixou sua casa em Thetford na noite gelada de 14 de fevereiro e dirigiu até o Women's Hospital, em Boston. Seu médico tinha telefonado para lhe dar a notícia pela qual ela esperava: tinha surgido uma doadora apropriada. Carmen ia receber um rosto novo.

Quase seis anos tinham se passado desde que seu marido, de quem ela estava separada, havia invadido sua casa, a espancado e a encharcado em soda cáustica. O ataque quase cegou Tarleton, que é enfermeira e mãe de duas filhas. Ela perdeu as pálpebras, o lábio superior e a orelha esquerda. Seu rosto e boa parte de seu corpo viraram uma colcha de retalhos de cicatrizes e enxertos de pele.
 
Após uma operação de transplante que durou 15 horas, Tarleton, 45, saiu da sala de cirurgia com o que pareceu a sua mãe, Joan Van Norden, ser uma máscara inchada e surreal. Num primeiro momento, quando olhou para o rosto novo, liso e sardento, costurado sobre o couro cabeludo pálido de sua filha, Van Norden quase desmaiou. Mas relaxou quanto Tarleton começou a falar em sua voz normal.
 
 
"Pensei: 'Esta é Carmen agora'", recordou Van Norden. "Não se parecia em nada com minha filha, mas era o rosto dela."
 
Os transplantes de rosto ainda são um procedimento experimental. O primeiro foi feito há apenas oito anos, na França.
 
Desde então, cerca de 24 transplantes completos ou parciais foram concluídos em todo o mundo, cinco dos quais no hospital Brigham and Women's.
 
Artérias, veias, nervos e músculos do rosto doado precisam ser conectados aos da receptora, num processo extremamente trabalhoso.
 
A aparência de Carmen Tarleton ainda está evoluindo. Seu couro cabeludo sofreu queimaduras tão graves que os cabelos nunca voltarão a crescer em partes de sua cabeça, mas os cabelos de sua doadora estão crescendo em volta de sua testa e têmporas. Seu olho direito continua fechado, e o esquerdo pende para baixo. Seu rosto às vezes lembra uma máscara, traindo poucas emoções, porque os músculos ainda estão se religando. E a máscara não se parece nem com Tarleton nem com a doadora do rosto.
 
Mas, mais de oito meses após a cirurgia, há indicativos de que o novo rosto de Tarleton já não é apenas tecido doado, mas está se tornando parte de quem ela é. "Quando alguém no trabalho me pergunta: 'Como está Carmen?', a imagem que vem à minha mente, mais e mais, é o rosto novo", contou sua irmã, Kesstan Blandin.

O processo de aceitação tem sido mais difícil para a própria Carmen Tarleton. Para começar, sua visão prejudicada a impede de se enxergar com clareza, a não ser que segure um espelho bem perto do rosto. "Ainda não sinto que é 'meu rosto'", escreveu recentemente num blog. "Ainda tenho a sensação de que é emprestado."
 
Seu ex-marido, Herbert Rodgers, 58, está cumprindo pena de pelo menos 30 anos de prisão.
 
Depois do ataque, Carleton passou por várias cirurgias reconstrutivas, com pouco êxito. Quando, em maio de 2011, o médico Bohdan Pomahac lhe propôs o transplante de rosto, a primeira coisa em que ela pensou foi em um episódio de "Além da Imaginação" que a tinha incomodado quando era criança, sobre um homem que conseguia mudar sua aparência para ficar parecendo outras pessoas.
 
"Num primeiro momento, achei uma coisa de ficção científica", explicou. Mas, depois de pesar os prós e contras --ela provavelmente terá que tomar imunossupresores pelo resto da vida, elevando seu risco de contrair infecções e câncer--, decidiu seguir em frente.
 
Ela escreveu um livro e fez palestras sobre o que viveu. Pareceu não estar preocupada com sua aparência enquanto aguardava uma doadora.
 
Mas, em dezembro de 2012, Tarleton começou a querer um rosto novo. Tinha começado a fazer aulas de piano. Seu professor era Sheldon Stein. Os dois dizem estar apaixonados.
 
"Depois de conhecer Sheldon, passei a me olhar no espelho a toda hora", contou Tarleton. "Antes eu não sentia insegurança. Mas agora... agora tenho sentimentos por alguém e tenho algo a perder. Antes, uma das razões pelas quais me virei tão bem era que eu não tinha nada a perder."
 
Após a cirurgia, seu sistema imunológico rejeitou o novo rosto. Mas os medicamentos a ajudaram a aceitar o novo tecido. Em pouco tempo, suas dores de pescoço desapareceram, e seu olho esquerdo, imóvel havia anos, voltou a piscar. Ela passou a babar menos.
 
O transplante não fez Tarleton se parecer com a doadora, Cheryl Denelli Righter, de North Adams, Massachusetts, que morreu aos 56 anos após sofrer um AVC. Isso é normal nos transplantes de rosto, em parte porque as estruturas ósseas de doador e receptor são diferentes.
 
Tarleton já passou por quase 60 cirurgias. Uma fonoaudióloga a está ajudando a aprender a mover seus lábios novos.
 
"Um dia destes, no futuro próximo", disse, "quando eu começar a chorar ou rir, as pessoas vão poder perceber como estou me sentindo, só de olhar para mim."
 
Folhaonline

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