Nos bancos de sangue, o aparelho controla a dose recomendada de irradiação de sangue, diminuindo a viabilidade dos linfócitos T
Pequisa de doutorado desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP) possibilitou a criação de um dosímetro químico que pode ser preparado e analisado por profissionais de banco de sangue de maneira mais rápida e simples do que os disponíveis atualmente.
O dosímetro é utilizado para quantificar a dose absorvida, isto é, a energia que certo meio recebeu após ser exposto à radiação ionizante. Nos bancos de sangue, ele ajuda a controlar a dose recomendada de irradiação de sangue, técnica empregada para diminuir a viabilidade dos linfócitos T (células de defesa) no sangue doado, o que reduz no paciente o risco de rejeição do órgão ou do tecido transplantado.
Para obter esse resultado, o pesquisador Lucas Sacchini Del Lama caracterizou e adaptou o dosímetro Fricke Xilenol Gel (FXG). "Usualmente, a dosimetria realizada em equipamentos que irradiam sangue é feita com dosímetros termoluminescentes, filmes radiocrômicos ou com a solução Fricke. Mas, esses métodos são demorados, pois são utilizados diversos dosímetros, os quais devem ser lidos unitariamente. Com o nosso dosímetro e nossas sistemáticas de auferição e aferição, esse processo pode ser realizado em poucos minutos", explica.
De acordo com Del Lama, o FXG é um dosímetro do tipo radiocrômico, ou seja, altera sua coloração de acordo com o que é irradiado, e também interage com a radiação analogamente ao tecido humano. "O princípio físico responsável pela inferência da dose absorvida pelo FXG é a oxidação radio-induzida dos íons ferrosos (Fe+2) presentes na solução em íons férricos (Fe+3), sendo estes últimos pigmentados pelo Alaranjado de Xilenol (XO). Sua análise é realizada principalmente por métodos ópticos, embora outros, como a ressonância magnética e a fotoacústica, também possam ser empregados", detalha o pesquisador.
Os principais métodos utilizados na pesquisa para a caracterização e a adaptação do FXG para a dosimetria associada à irradiação de sangue basearam-se em "curvas de calibração, que relacionavam a resposta óptica do FXG em função da dose absorvida para diferentes alterações na composição do dosímetro; e em comparações teóricas, as quais relacionavam parâmetros de interação da radiação com a matéria entre o dosímetro e o sangue", afirma Del Lama.
Segundo o pesquisador, a irradiação do sangue doado é recomendada para casos específicos, como para a transfusão em pacientes imunocomprometidos, que são pessoas acometidas por algum tipo de deficiência nos mecanismos básicos de defesa, em geral devido a alguma intervenção cirúrgica, como transplante de medula óssea, cirurgia cardíaca, vascular, gastrointestinal e abdominal, transplante de fígado e pancreoesplênico, devido a tratamentos de tumores, como neuroblastoma, carcinoma de pulmão, glioblastoma, carcinoma cervical, adenocarcinoma renal, ou devido a alguma deficiência congênita. Além disso, a irradiação do sangue também é recomendada para casos de doações de sangue entre familiares.
A irradiação do sangue evita uma reação rara, mas fatal, conhecida como Doença Enxerto Contra Hospedeiro Associada à Transfusão (DECH-AT). Os agentes da reação são os linfócitos T, que atuam no sistema imunológico do corpo humano. Quando essas células, presentes no sangue do doador, identificam uma eventual incompatibilidade com o sistema do paciente, começam a se multiplicar e a atacar alguns sistemas no organismo do receptor. Em poucos dias, elas provocam necrose dos tecidos e falência da medula.
O pesquisador Del Lama destaca que as principais organizações regulamentam a irradiação de sangue, como a Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB), a agência americana FDA e o guia europeu de controle de qualidade, recomendam a irradiação de sangue para diversos quadros clínicos, com doses absorvidas que variam de 15 até 50 Gy (Gray, unidade de medida da dose absorvida), dependendo do guia escolhido, sendo essa medição feita por meio de dosímetros.
Isaude.net
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