Pensar pequeno não faz parte da cartilha de Omilton Visconde Júnior. Tradicional empresário do setor farmacêutico, ele tem um talento nato para transformar seus negócios em grandes fortunas. Assim foi com a Biosintética, laboratório criado por seu pai nos anos 80 e vendido em 2005 para o grupo Aché.
O mesmo aconteceu quando ele próprio criou a Segmenta, uma pequena empresa produtora de soros, que depois foi vendida a peso de ouro para a Eurofarma, e a Prevsaúde, companhia de gestão de benefícios de medicamentos, uma das pioneiras no País, que foi parar nas mãos da Orizon, do grupo Visanet.
Agora, a nova aposta do empresário é a MIP Brasil Farma. A recém-criada farmacêutica está em operação desde a semana passada para atuar no segmento de medicamentos isentos de prescrição, um polpudo mercado que movimentou quase R$ 15 bilhões no ano passado. Para comandar a companhia, Visconde Jr. chamou Wolney Alonso, executivo com 20 anos de experiência no setor e seu sócio de longa data em alguns de seus empreendimentos, como a Segmenta e a Entregga, consultoria voltada para a área de saúde.
A MIP Brasil Farma começa com um investimento relativamente baixo para os padrões farmacêuticos. São cerca de R$ 20 milhões, o que inclui uma fábrica que deverá ser instalada em Ribeirão Preto (SP). Mas a meta é ambiciosa: brigar com gigantes desse setor, como a nacional Hypermarcas, a americana Johnson & Johnson e a francesa Sanofi, que estão entre as cinco maiores do País em medicamentos isentos de prescrição. Não vamos entrar na disputa por genéricos nem vamos vender analgésicos e antigripais, por exemplo, pois há mil concorrentes nesse segmento. Vamos trazer produtos diferenciados?, diz Visconde Jr.
Leia-se por diferenciados produtos com margens atraentes e demanda crescente. O setor de medicamentos isentos de prescrição, também conhecido como OTC (over the counter, na sigla em inglês), cresceu 15% nos últimos anos e deverá manter expansão acima de dois dígitos daqui para frente. A indústria precisa buscar produtos inovadores, acrescenta.
A nova empresa de Visconde Jr. já fez sua estreia com um dermocosmético, o Footner, voltado para o tratamento dos pés. A empresa fez contrato de licenciamento com a holandesa YouMedical. Outro lançamento, o Spotner, produto indicado para antienvelhecimento das mãos e do rosto, será colocado à venda até maio de 2014. No mês que vem entra no mercado o Livina, um alimento funcional que foi desenvolvido no País pela MIP com um parceiro local.
A farmacêutica recém-chegada tem em seu pipeline, jargão que no segmento farmacêutico significa a lista de produtos em desenvolvimento, oito marcas - de dermocosméticos voltados para tratamento de micose, verrugas, pé de atleta e cicatrização, além de antiácidos e multivitamínicos.
A meta para o primeiro ano de operação é faturar cerca de R$ 30 milhões. Em três anos, Alonso projeta receita de até R$ 70 milhões. Conhecido como bom farejador de negócios, a pergunta que fica no ar é se a MIP Brasil Farma poderá mudar de mãos futuramente. Alonso garante que não. O executivo não descarta, no entanto, a entrada de investidores estratégicos. Mas nem estamos pensando nisso agora.
Como uma marca forte é o principal ingrediente de sucesso de um medicamento isento de prescrição (uma vez que é escolhido pelo consumidor na prateleira de uma farmácia), o investimento do grupo em mídia será pesado. A MIP já está com inserções no SBT para atrair um público mais família, explica Alonso. Mídias sociais e blogueiras também estão no radar da nova farmacêutica.
Os produtos já começaram a ser distribuídos nas redes da Drogaria São Paulo e Pacheco nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, do Rio de Janeiro e norte da Bahia. O próximo passo será a Região Sul do País. O projeto é nacionalizar logo a distribuição, diz Alonso. A Netfarma, empresa criada por Visconde Jr. com outros quatro sócios, entre eles o dono da Netshoes, o empresário Márcio Kumrian, também vai distribuir online os produtos da companhia.
Projeto do zero Construir uma farmacêutica do zero, como é o caso da MIP Brasil Farma, não é um processo simples. Não basta apenas ter uma boa ideia e dinheiro na mão. A empresa foi constituída em março do ano passado. O processo mais demorado é a submissão e aprovação dos registros de medicamentos e produtos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa é uma etapa que costuma demorar cerca de dois anos - a agência do governo pretende reduzir esse prazo pela metade.
Quando estiver com a fábrica em plena operação, a MIP pretende exportar os produtos para América Latina.
Temos o licenciamento dos produtos da YouMedical e acordo de exclusividade de distribuição para a região, afirma Alonso. No mercado, empresários e consultores ouvidos pelo Estado dizem que uma empresa sob o comando de Visconde Jr. tem tudo para dar certo. A fama de midas não foi atribuída a ele à toa.
O Estado de São Paulo
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