Foto: Carlos Pontalti / Divulgação A queratina reflete a ingestão alimentar dos últimos quatro a seis meses |
O Laboratório de Ecologia Isotópica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, testou uma nova e inusitada forma para se avaliar a nutrição humana.
Uma pesquisa coordenada pelo professor Luiz Antonio Martinelli analisou a composição isotópica contida nas unhas de 273 pessoas, pertencentes a seis classes sociais distintas.
O estudo, que foi veiculado no Journal of Human Nutrition and Dietetics, publicação oficial da associação dietética britânica (The British Dietetic Association), abre as portas para que novas ferramentas sejam incorporadas aos métodos de se fazer avaliações nutricionais, pois, apesar de atingir um número grande de pessoas de uma determinada região, não fica restrita a levantamentos socioeconômicos ou a dados estatísticos.
Estudo sugere novas ferramentas aos métodos de avaliações nutricionais
— O estudo se valeu das unhas devido sua estrutura física, que é composta de queratina, proteína rígida que a forma e reflete a ingestão alimentar dos últimos quatro a seis meses de uma pessoa — explica Martinelli.
— Então, a partir da utilização dos isótopos de carbono, foi possível decodificar o tipo de dieta praticado por cada uma das classes pesquisadas — conta.
Para os participantes dos grupos de classe com maior poder aquisitivo (A, B e C), a pesquisa se utilizou de alunos e funcionários do campus da USP em Piracicaba.
Já os participantes das classes D, E e F foram selecionados com a colaboração de um programa de distribuição de leite do município e tiveram que ser entrevistados para que fossem identificados e separados por classe.
— Há vários exemplos de estudos que ilustram as diferenças de padrões alimentares como resultado dos diferentes níveis socioeconômicos de uma população específica. A análise aqui realizada tem a vantagem de observar os diferentes padrões de alimentação por meio de método científico preciso, comprovando que as diferenças na composição alimentar estão ligadas ao status socioeconômico — afirmou o professor.
Para o pesquisador do Cena, a avalição comprovou que não há diferença entre as classes de menor poder aquisitivo com as de alto poder aquisitivo, pois substancialmente consomem os mesmos produtos.
— Podemos ter vários tipos de biscoito ou refrigerante no supermercado, uns mais baratos e outros mais caros, mas se avaliarmos esses produtos por seus constituintes básicos serão os mesmo, ou seja, a composição de isótopos estáveis será similar.
Segundo Martinelli, provavelmente, a falta de diferença estatística entre a maioria das classes sociais, com exceção da F, pode ser atribuída ao fato de que todos os participantes da pesquisa são residentes urbanos, expostos a uma dieta de supermercado, na qual todo item alimentício é de fácil acesso e a única restrição ao consumo é econômica, não um problema de acessibilidade.
As diferenciações apresentadas no estudo indicam alto consumo de carne bovina, pão, refrigerantes e derivados de leite pelas classes de maior poder econômico, bem como um alto consumo de óleo de soja, arroz e açúcar pelas classes de poder aquisitivo menor.
— Porém, a maior discrepância encontrada entre as classes se deu entre os integrantes da F, que concluímos não consumir carne e laticínios, tendo uma alimentação composta basicamente por arroz e feijão — conclui.
Agência USP/Zero Hora
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