Foto: Wesley Bedrosian / The New York Times A maioria das pessoas ignora a existência da fissura porque não quer tocar no assunto |
Fissuras anais não são exatamente assunto para conversa em festas, e a relutância em discuti-las costuma deixar os sofredores pensando que são os únicos afetados.
Na verdade, esta situação potencialmente dolorosa, debilitante e provocadora de ansiedade é bastante comum. Se a fissura não curar por contra própria, ela pode ser tratada e a recaída impedida por meio do emprego de medidas conservadoras.
"A maioria das pessoas ignora sua existência porque ninguém quer tocar no assunto", escreve Emma Rushton, de Nashville, Tennessee, em um e-mail me pedindo para abordar o tratamento e a prevenção desses pequenos rasgões na abertura anal. "Acredite, quando fui atacada pela minha, não queria nem saber de contar às pessoas".
Da mesma forma que muitas pessoas, ela sofreu em silêncio. "Toda evacuação era dolorosa, e os agonizantes espasmos posteriores duravam horas. Mesmo quando eu não estava sofrendo, era só nisso que eu conseguia pensar. Meu trabalho foi afetado, minha vida ficou em compasso de espera", ela escreveu.
Se você já notou sangue claro no papel higiênico ou no vaso sanitário após uma evacuação, existe uma boa chance de se tratar de uma pequena fissura no ânus. Tais lacerações costumam ser confundidas com hemorroidas que, ao contrário das fissuras, não causam dor à evacuação.
Estima-se que em 90% dos casos, tais rasgões se curem sozinhos. Quando não se curam, toda evacuação posterior — principalmente se as fezes forem grandes, duras e secas — pode reabrir a ferida e resultar em um problema crônico que dura mais de um mês. A fissura não precisa ser muito grande para causar desconforto considerável.
Como no caso de pequenos cortes na almofada do polegar, qualquer uso fere a área machucada e, para piorar, pode agravar a ferida.
Qualquer trauma no canal anal pode provocar uma fissura. Nas mulheres, o parto é uma causa comum. Outros motivos incluem a colocação de um objeto estranho, sexo anal, exame digital do reto, constipação ou diarreia crônicas. As fissuras costumam afetar pessoas com doença inflamatória intestinal e doença de Crohn.
A tensão crônica no esfíncter anal interno — o anel muscular que cerca o canal anal — costuma ser um fator subjacente porque reduz o fluxo sanguíneo à região, tornando a mucosa anal mais suscetível a rasgões e dificultando sua cura.
Se você tiver fissura, a dor aguda, incisiva ou ardente que ocorre durante a evacuação pode ser breve ou duradoura. E, como Rushton experimentou, espasmos debilitantes podem durar horas. A agonia resultante pode levar as pessoas a tentar adiar a evacuação, o que só complica o problema ao tornar as fezes mais duras e difíceis de passar.
Quem já experimentou os sintomas deveria consultar um médico capaz de determinar a causa. Não é sensato presumir que o sangramento retal, por menor que seja, é inócuo. O médico pode examinar o ânus e o canal anal no consultório a olho nu ou usando um pequeno instrumento chamado anuscópio. Se um problema mais grave precisar ser descartado, a colonoscopia pode ser recomendada.
Tratamentos
Quando uma fissura anal não sara rapidamente por conta própria e causa dor repetida, tratamentos conservadores podem acelerar a cura. Na maioria das vezes, o médico vai recomendar banho de assento de duas a três vezes por dia — sentar-se em água morna por cerca de 20 minutos. Sentar sobre uma almofada elétrica ou bolsa de água quente também ajuda porque o calor aumenta a circulação de sangue no ânus e promove a cura.
Limpar a área somente com água; usar sabonete pode ressecar a mucosa anal. Hidratar o esfíncter anal com lubrificante neutro, como óleo de coco, aplicado várias vezes ao dia e na hora de deitar-se. A dor pode ser tratada com analgésico por via oral.
A menos que a diarreia seja uma causa, medidas para amolecer as fezes e promover evacuações regulares costumam ajudar. Entre elas estão a ingestão de um amaciador de fezes como docusato de sódio (Colace) e um suplemento diário de fibras, tais como Metamucil, Konsyl, Citrucel ou Fibercon; ingerir alimentos ricos em fibras como frutas frescas e secas, hortifrútis, farelo de cereais e outros grãos integrais; beber dois ou mais litros de água por dia.
Igualmente evite alimentos que costumam prender o intestino: queijo e outros laticínios, banana, arroz, chocolate, grandes quantidades de carne vermelha, frituras e batata. E substitua os pães brancos de baixa fibra e os cereais pelas versões integrais com elevados teores de fibras.
Bebidas com cafeína, como café e chá, podem ser um faca de dois gumes. Embora possam geralmente estimular a evacuação, eles tendem a provocar prisão de ventre se você estiver desidratado.
Também é útil fazer exercícios físicos regulares, o que promove a regularidade intestinal e aumenta o fluxo sanguíneo no ânus. Atividade moderada como caminhar pelo menos 30 minutos por dia, na maioria dos dias, pode ajudar o sistema digestivo a funcionar normalmente e a promover a saúde como um todo.
Também é importante evitar fazer força durante a evacuação, o que pode reabrir uma fissura anal já curada ou provocar uma nova.
Sintomas persistentes de fissura anal geralmente exigem tratamento médico. Nitroglicerina aplicada externamente, o que finalmente curou a fissura de Rushton, pode promover a circulação e relaxar o esfíncter anal, do mesmo modo que alguns remédios para pressão sanguínea. Um creme a base de esteroides pode reduzir o desconforto. A injeção de Botox pode ser empregada para paralisar temporariamente o esfíncter anal e aliviar os espasmos.
Um conselho de Rushton, que se tornou uma especialista leiga relutante sobre o problema: "Se as primeiras coisas que tentar não funcionarem, continue tentando."
Somente quando essas medidas conservadoras não conseguiram curar a fissura anal é que a cirurgia pode ser necessária. A cirurgia geralmente envolve o corte de uma pequena porção do músculo do esfíncter anal para impedir espasmos. Existe um pequeno risco de que a operação resulte em incontinência fecal.
Nem é preciso dizer, mas prevenir fissuras anais é mais desejável a ter de tratá-las.
The New York Times/Zero Hora
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