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A quantidade de informação disponível e a facilidade de acesso à internet transformaram a rede em “consultórios médicos” para inúmeros usuários. Se, por um lado, o conteúdo virtual colabora na partilha de experiências e dicas, por outro, preocupa por causa do volume de conteúdos não confiáveis espalhados em milhares de sites.
Um estudo realizado na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que as iniciativas para tentar ajudar o usuário a escolher fontes de informação são quase inexistentes no Brasil. No exterior, há algumas instituições que criaram sistemas para certificar e qualificar portais de informação em saúde. Mas também não são numerosas.
A pesquisadora Ana Paula Bernardo Mendonça, responsável pelo estudo, que é fruto do mestrado profissional em Política de Gestão de Ciência Tecnologia e Inovação em Saúde, defende a criação de um sistema de certificação brasileiro. A expectativa dela é construir essa ferramenta dentro da Fiocruz, junto com um portal sobre saúde adequado ao público leigo.
“Espero que a pesquisa sirva de alerta para o risco para o qual a população brasileira está exposta sem qualquer órgão que ajude na identificação de sites de saúde confiáveis”, afirma. Após a formação de um banco de dados, um “selo de qualidade” seria criado para facilitar a avaliação da população.
A facilidade de pesquisar sobre uma doença, medicamento ou solução estimula o interesse dos usuários. Diferentes e recentes estudos demonstram que o tema atrai grande parte da população.
Segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil, por exemplo, em 2011, 43% dos usuários de internet afirmam buscar dados de saúde na rede. Nos Estados Unidos, um em cada três adultos informações na internet para diagnosticar a si mesmo ou outra pessoa.
O problema é que as “respostas” encontradas no ambiente virtual nem sempre são confiáveis. Ao contrário: há muitas informações “inconsistentes, divergentes e sem comprovação científica sobre o tratamento de determinada doença”, segundo Ana Paula. Ela lembra ainda que há muitos sites que buscam apenas fazer propaganda de produtos.
“A quantidade de informação online – e sua natureza heterogênea – é preocupante e oferece risco para os usuários, pois não são oferecidas garantias de credibilidade e de qualidade”, diz. Por conta disso, ela conta que muitos estudos têm tentado definir critérios para avaliar, medir e aprimorar a qualidade da informação disponível na rede.
Iniciativas concretas
Durante a pesquisa, Ana Paula encontrou 11 organizações importantes que avaliam sites de saúde e têm seus critérios já consolidados, como o código de conduta HONcode, iniciativa da organização Health On the Net Foundation da Suíça. No Brasil, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) lançou um manual de ética para sites de medicina e saúde na internet em 2001.
“No Brasil, a nossa pesquisa identificou que poucas instituições se preocupam com esta questão”, diz.
Ela lembra que o Centro de Vigilância em Saúde de São Paulo (CVS-SP) traduziu e adaptou para o Brasil um documento da Organização Mundial de Saúde (OMS), o “Guia para encontrar informações seguras”, com orientações ao usuário.
Para ela, as instituições governamentais de saúde deveriam a qualidade e tornar as informações acessíveis a todos. “Além disso, é importante ressaltar que a internet não deve ser utilizada como instrumento para consultas médicas, diagnóstico clínico, prescrição de medicamentos ou tratamento de doenças. O usuário deve sempre consultar um profissional de saúde antes de adquirir qualquer produto ou serviço médico”, afirma.
A confiabilidade da informação, ela lembra, não é a única dificuldade enfrentada pelos usuários na busca de dados sobre saúde na internet. A linguagem utilizada em muitos sites e a falta de uma configuração mais simples de busca são outros impeditivos e dificuldades impostas pelos sites disponíveis.
Com o estudo, Ana Paula propõe a criação de um sistema que avalie a qualidade desses sites. A proposta é conferir 80 itens de três dimensões de avaliação: conteúdo (acurácia, abrangência e legibilidade das informações), técnica (credibilidade, publicidade e patrocínio, segurança e privacidade, ética, interatividade e suporte ao usuário) e design (usabilidade e acessibilidade).
“Chegamos a este modelo após analisar e comparar os principais instrumentos desenvolvidos no mundo, identificando métodos de aplicação como autorregulação e certificação de qualidade de sites de saúde”, conta. Segundo ela, é preciso unir esforços de profissionais de saúde, informação, tecnologia e usuários para criar a ferramenta mais adequada.
Cuidados básicos
Para se prevenir, a pesquisadora sugere que o usuário confira se há indicação de nome e endereço do proprietário da página consultada ou da instituição responsável, se o propósito do site — educativo, informativo ou comercial – está claro e se a proteção e o sigilo das informações do usuário estão garantidos.
iG
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