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O exame de sangue em bebês deve usar o mínimo possível de sangue
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Exame de bilirrubina, de glicose, do grupo sanguíneo ABO e RH, além do perfil lipídico e dos testes de hipotireoidismo e de coombs (para detectar doença autoimune). A lista faz parte dos cuidados extras e bem custosos oferecidos pelas maternidades particulares. E qual mãe tem coragem de recusar? Afinal, tudo que promete detectar doenças presentes ou futuras parece bom, não é? Mas não é.
“Os bebês têm pouco sangue. Um recém-nascido com três quilos tem entre 280 ml a 300 ml de sangue. É menos que um copão”, explica Magda Carneiro Sampaio presidente do Conselho Diretor do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas FMUSP, em São Paulo. “Vamos supor uma criança que tem 300 ml de sangue no corpo. Se todo dia tirar 20 ml de sangue, dentro de três dias ela vai ter que repor sangue, fazer transfusão. É claro que o organismo repõe o sangue perdido, mas não repõe nesta mesma velocidade", completa.
Magda afirma que os exames de sangue devem ser feitos apenas em casos de grande necessidade. "Exame que colete sangue que seja de praxe em recém-nascido saudável é o teste do pezinho e acabou. Fora isso, apenas um acompanhamento pediátrico muito bom", diz a médica. O teste do pezinho é uma triagem capaz de detectar a possível ocorrência de doenças raras, geralmente metabólicas,e é feito com apenas uma gota de sangue tirada do calcanhar do recém-nascido.
Ilson Enk, pediatra e membro do conselho científico do departamento de neonatalogia da Sociedade Brasileira de Pediatria, concorda. Exames extras, apenas se necessários. Os exames de tipagem sanguínea e o de coombs direto (que faz o diagnóstico de doenças auto-imunes) devem ser feitos apenas se a mãe for Rh negativa. “Mesmo assim, não há a necessidade de puncionar o neném, para esses podemos usar o sangue do cordão umbilical.”
O mesmo se aplica ao exame de bilirrubina, que detecta icterícia. É necessária apenas quando há incompatibilidade sanguínea entre mãe e filho gerando um conflito que pode levar a situações de hemólise, quando ocorre a destruição de glóbulos vermelhos e surgimento de um pigmento chamado de bilirrubina, que deixa o bebê amarelinho.
“Acabo de conferir um exame de bilirrubina importantíssimo de um neném com icterícia muito forte que precisa deste monitoramento, pois talvez necessite de transfusão. Mas isso não é regra. São casos especiais”, explica Enk, que trabalha no hospital das Clínicas de Porto Alegre.
O de glicose é indicado apenas para filhos de mãe diabética ou se o bebê é pequeno demais ou prematuro.
"Concordo que em algumas situações pode se estar exagerando no uso de exames para uma triagem universal. Principalmente se, e eu não estou acusando ninguém, se faz uso comercial disso. Se tiver uso comercial para exames desnecessários, a sociedade de pediatria certamente não respaldaria essa conduta".
Importância da consulta clínica
Ao constatar que cada vez mais “a importância da clínica está se perdendo”, a equipe do Hospital da criança lançou o projeto diagnóstico amigo da criança, com procedimentos para diminuir o impacto negativo dos exames diagnósticos na criança.
O primeiro ponto do projeto é valorizar a clínica. Sabe o que me preocupa? É que a população já está achando que, se não pedir um raio- x e uma bateria de exames, parece que o médico não atendeu bem. E é justamente o contrário”, explica Magda.
O segundo ponto do programa está em usar tubos de coleta menores para os bebês. De acordo com Magda, a quantidade de sangue que se precisa para a análise é uma quantidade muito menor do que a coletada. “A parte analítica já é feita quase toda com quantidades pequenas, de 100 ou 200 microlitros. São frações de mililitro, em muitos casos não precisaria tirar tudo o que é tirado. Precisa adaptar a coleta.”, diz.
No Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, que tem 200 leitos, o uso dos tubos menores custou mais oito mil reais por mês ao orçamento. "O que não é nada se levarmos em conta os ganhos para a saúde e também a economia com interferências e transfusões de sangue", diz Magda.
Magda ressalta que a principal causa de indicação de transfusão hoje para crianças doentes que estão internadas - aquelas que fazem exames todos os dias - é por perda de sangue por coleta. “Uma transfusão é um risco, é um sangue não é dela. Tem que ter uma adaptação metabólica. Só deve ser feita em caso de necessidade. Não é para fazer terrorismo, mas eu acho que as mães precisam saber que se tira sangue demais dos filhos dela.”
iG
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