Placas de colesterol (amarelo) bloqueando a passagem de sangue |
O remédio, ainda em fase de testes, é um anticorpo feito sob medida para atacar uma proteína chamada PCSK9. Ela destrói os receptores do fígado que retiram o colesterol “ruim” (LDL) de circulação. Com menos PCSK9, mais LDL é retirado de circulação, ajudando a evitar entupimento de artérias e infartos. O foco dos estudos são pacientes com hipercolesterolemia familiar, uma doença hereditária que causa níveis altíssimos de colesterol.
Segundo Raul Santos, diretor da unidade de lípides do Incor (Instituto do Coração do HC de São Paulo), estima-se que haja, no Brasil, de 350 mil a 700 mil pessoas com a forma mais comum de colesterol alto familiar, na qual a pessoa recebe a mutação genética do pai ou da mãe. Outras 600 pessoas teriam a forma mais grave e rara, na qual pai e mãe transmitem a mutação.
Mesmo pacientes com a forma mais branda da doença têm problemas cardíacos muito mais cedo do que a média da população. “Ela adianta de 10 a 15 anos o aparecimento do primeiro evento cardíaco”, afirma Santos, autor de editorial no “Lancet” sobre os novos tratamentos na mesma edição em que estão sendo publicadas as pesquisas.
Hoje, os pacientes com colesterol alto familiar usam doses altas de estatinas (como Lipitor e Crestor) e outras drogas que ajudam a baixar ainda mais os níveis de gorduras no sangue.
Os mais recentes, no entanto, causam efeitos colaterais como aumento da gordura no fígado e dores no corpo e não conseguem colocar os níveis de colesterol dos pacientes dentro da meta para evitar problemas cardíacos.
Os estudos com o novo anticorpo evolocumabe foram feitos com 330 pacientes com a forma “branda” da doença e 50 com a versão mais grave. Todos continuaram seu tratamento com estatinas e receberam injeções mensais do anticorpo ou placebo.
Nos casos mais graves, houve redução de até 41% dos níveis de colesterol além do efeito da estatinas. No estudo com a forma mais comum da doença, a redução do LDL foi de 60%.
Os efeitos colaterais foram brandos e similares entre os grupos que tomaram a injeção de remédio e de placebo, mas Santos pondera que o prazo de acompanhamento dos trabalhos (3 meses) é curto para avaliar eventos adversos. “Ainda precisamos esperar estudos de longo prazo.” O evolocumbe, fabricado pela Amgen, e outras substâncias com mesmo mecanismo de ação produzidas por outras farmacêuticas ainda estão em fase de estudo, mas devem ser aprovadas em breve para os pacientes com colesterol alto familiar.
Além disso, podem vir a ser indicadas também para pessoas sem o problema hereditário mas que não toleram as estatinas, por conta de efeitos colaterais como dores musculares. “Estudos já mostraram que o remédio é altamente eficaz para quem não pode tomar estatina”, afirma Santos.
O problema é o preço. O tratamento com os anticorpos deve custar cerca de R$ 35 mil ao ano, enquanto as estatinas já têm versões genéricas, sendo possível um tratamento gastando em média R$ 600 por ano, a depender da dose do remédio.
Folha de São Paulo
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