O governo federal terá ajuda do Exército e de representantes da agência de saúde dos Estados Unidos para combater e estudar o vírus zika e complicações como a microcefalia, má-formação do cérebro de recém-nascidos
Em um avanço inédito, o país já registra nesta segunda-feira (30) 1.248 casos suspeitos de microcefalia, má-formação do cérebro que pode trazer sequelas ao desenvolvimento cognitivo e motor da criança.
O ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou nesta segunda-feira (30) um plano federal de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e do zika, que contará com a participação de 17 ministérios e do Exército a partir da próxima semana. Dois especialistas do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos também acompanharão de perto os casos de microcefalia no Recife, capital do Estado com o maior número de casos (646).
As novas ações, segundo Castro, se somam à criação de centros de Operações de Emergência da Saúde e o de informações. “Ambos ajudam a formar uma grande rede na qual recebemos constantemente os números registrados nos municípios e repassados aos Estados. Eles têm auxiliado no monitoramento dos casos suspeitos em todos o país”, disse Castro. Os dados são divulgados todas as terças-feiras no site do ministério.
“Reconheço que nos últimos anos nós não vínhamos combatendo o mosquito para vencer e, por isso, estamos perdendo. Mas agora temos que mobilizar todas as nossas forças. Não estamos falando de números, mas de vidas”, afirmou o ministro.
Pressionado pelos prefeitos que participaram da reunião convocada pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), o ministro Marcelo Castro também prometeu rever a portaria 1025, que regulamentou, no ano passado, o piso dos agentes comunitários de saúde para R$ 1.014. De acordo com Câmara, só em Pernambuco o desfalque foi de 4.200 agentes, “pois as prefeituras não conseguiam pagar os salários”.
“Há um receio grande não só nosso, mas de vários países, pois tudo está sendo informado à Organização Mundial da Saúde, especialmente de que o surto do zika vírus se espalhe pelo continente”, declarou Castro. O ministro disse que o governo teme que a epidemia tenha consequências negativas para o turismo.
O ministro voltou a reafirmar que não há recomendação para que as mulheres evitem engravidar. “O que tem que ser feito é redobrar os cuidados para elas não serem picadas. Aconselho o uso de roupas compridas, meias e se possível a instalação de telas em casa”, afirmou.
Pernambuco
Estado com mais casos notificados, Pernambuco vai contar com um plano de enfrentamento a doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. O governador disse que irá destinar R$ 25 milhões para campanhas informativas, a estruturação de 15 centros regionais de atenção a crianças com microcefalia e a aquisição de material para os agentes.
“Temos que unir toda a sociedade para acabar com os criadouros nesses próximos dois meses, pois é a partir de fevereiro que começa a subir a curva de casos. Nas próximas semanas vamos receber os diagnósticos das prefeituras e demandar ao Exército o número de soldados necessários para ajudar nessa luta”, disse Câmara.
Além da falta de informação, Câmara disse acreditar que o crescimento dos casos de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti está ligado à seca. Segundo levantamento da Secretaria da Saúde de Pernambuco, 82,5% dos principais focos estão em baldes, caixas e tonéis que armazenam água.
“Sem água na torneira as pessoas precisam armazená-la e aí mora o perigo. Por isso, é preciso um trabalho intenso de conscientização. Mas também vamos recorrer a casos extremos como intervenção judicial para que os agentes possam entrar nas casas”, disse Câmara. O Comando do Exército do Nordeste disponibilizou seus 25 mil homens e mulheres para auxiliar no combate ao mosquito na região.
Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário