Mudanças recomendam atenção especial às fases iniciais da enfermidade, antes da demência, e estímulo a pesquisas clínicas de biomarcadores e fármacos. Brasil realizará revisão até junho
Changes recommended special attention to the early stages of the disease, before dementia, and fostering clinical research of biomarkers and drugs. Brazil held to review in June
Changes recommended special attention to the early stages of the disease, before dementia, and fostering clinical research of biomarkers and drugs. Brazil held to review in June
Alexandre Gonçalves, Fernanda Bassette e Karina Toledo - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Depois de 27 anos, as diretrizes para diagnóstico de Alzheimer foram revisadas. Quatro artigos publicados hoje na revista científica Alzheimer’s and Dementia recolhem os avanços das últimas décadas no conhecimento da doença.
As principais mudanças foram a diferenciação do Alzheimer em três estágios, que vão da ausência completa de sintomas à demência, passando por comprometimentos cognitivos leves. Os novos critérios também pretendem impulsionar as pesquisas clínicas de medicamentos, especialmente para as fases iniciais da doença.
Segundo William Thies, da Associação Americana de Alzheimer, responsável pela revisão das diretrizes, as mudanças não impactarão a prática clínica no curto prazo. "Não existe nenhum teste novo que deva ser solicitado por enquanto", afirmou Thies ao Estado. "No entanto, vai ajudar um grande número de estudos clínicos promissores que são realizados atualmente."
Até agora, as terapias disponíveis no mercado estavam voltadas apenas para a fase da demência, quando a doença já se estabeleceu. E, mesmo assim, apresentam resultados tímidos, diminuindo a velocidade das perdas cognitivas sem impedir seu progresso inevitável.
Um dos artigos trata exclusivamente do uso de biomarcadores no diagnóstico da doença: a procura por substâncias no organismo que denunciem a evolução silenciosa do Alzheimer. Alguns exames, por exemplo, identificam os níveis das proteínas beta-amiloide e tau, associadas à doença, no liquor - líquido extraído da medula do paciente.
No Brasil, por exemplo, há laboratórios que cobram de R$ 2 mil a R$ 3 mil por um exame desse tipo. Contudo, os autores do estudo sublinham que, por enquanto, tais testes não são úteis para orientar condutas clínicas.
Ivan Okamoto, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) e coordenador do Instituto da Memória da Unifesp, compara os biomarcadores de Alzheimer ao exame de colesterol para aferir risco cardiovascular. "No colesterol, você sabe exatamente quais os níveis aceitáveis da substância no sangue. No caso dos biomarcadores de Alzheimer, ainda não sabemos", afirma Okamoto.
Por enquanto, um diagnóstico precoce da doença - antes de aparecerem os sintomas - não serviria para nada, pois não há uma terapia adequada. "Você pode criar um monstro. Além da angústia para o paciente, surge um dilema ético clínico: vou fazer o que com esse novo dado?", diz o médico da Unifesp.
O psiquiatra e geriatra da USP Cássio Bottino afirma que, na prática, os médicos já tentam identificar comprometimentos cognitivos o mais cedo possível. "Recomendamos exercícios cognitivos e físicos. Discutimos com a família o uso dos medicamentos existentes. Esse tipo de cuidado já vem sendo feito, mas as diretrizes vêm reforçar e padronizar essa prática", afirma.
Wagner Gattaz, do Instituto de Psiquiatria da USP (IPq-USP), revela que, nas próximas semanas, seu grupo de pesquisa publicará dados promissores sobre o uso do lítio para evitar que pessoas com comprometimento cognitivo leve evoluam para demência. "Com diagnósticos mais sensíveis e precoces, será possível recorrer a esta técnica."
Demência. A revisão altera também os critérios para diagnóstico na fase avançada da doença, quando o quadro de demência já está instalado. "Houve um detalhamento maior das funções cognitivas afetadas. Isso ajuda a diferenciar o Alzheimer de outras demências pouco conhecidas há 20 anos, como a demência frontotemporal, que tem tratamento diferente", diz Bottino.
Além disso, exames complementares de imagem - como ressonância e tomografia - ganham mais peso no diagnóstico.
Okamoto afirma que a Associação Brasileira de Neurologia e a Abraz pretendem se reunir em maio para discutir as diretrizes nacionais. Os resultados saem em junho. "Vamos levar em conta as novas diretrizes."
PARA ENTENDER
A doença de Alzheimer é o tipo mais frequente de demência, não tem causa conhecida e sua prevalência e incidência aumentam com a idade.
O sintoma primário e mais comum é a perda de memória, mas, com a progressão da doença, vão surgindo sinais como confusão, irritabilidade, alterações de humor, falhas na linguagem e prejuízo da capacidade de orientação temporal ou espacial. A doença também pode vir acompanhada de um quadro de depressão, ansiedade ou apatia.
Ainda não há cura para o Alzheimer, mas já existem medicamentos capazes de retardar o progresso da doença e minimizar os distúrbios de humor e de comportamento.
SAO PAULO - After 27 years, the guidelines for the diagnosis of Alzheimer's disease were reviewed. Four papers published today in the journal Alzheimer's and Dementia collect the advances of recent decades in understanding the disease.
The main changes were the differentiation of Alzheimer's in three stages, ranging from complete absence of symptoms to dementia, mild cognitive impairment through. The new standards also aim to boost clinical research of medicines, especially for the early stages of the disease.
According to William Thies, Alzheimer's Association of America, responsible for reviewing the guidelines, the changes will not impact the clinical practice in the short term. "There is no test that should be asked again for a while," said Thies to the state. "However, it will help a large number of promising clinical trials that are performed today."
Until now, the therapies available in the market were just meant for the stage of dementia, when the disease is already established. And yet, show poor results, slowing of cognitive loss without preventing its inevitable progress.
One article deals exclusively with the use of biomarkers in disease diagnosis: the search for substances in the body to denounce the silent evolution of Alzheimer's. Some tests, for example, identify levels of the protein beta-amyloid and tau associated with the disease in cerebrospinal fluid - liquid extracted from the marrow of the patient.
In Brazil, for example, there are labs that charge from $ 2000 to $ 3000 for such an examination. However, the study authors point out that, while such tests are not useful to guide clinical decisions.
Ivan Okamoto, scientific director of the Association of Alzheimer's (Abrazo) and coordinator of the Institute of National Memory UNIFESP, compared to the biomarkers of Alzheimer's cholesterol test to assess cardiovascular risk. "No cholesterol, you know exactly what the acceptable levels of the substance in the blood. In the case of biomarkers of Alzheimer's, still do not know," said Okamoto.
Meanwhile, an early diagnosis of the disease - before symptoms appear - would be useless because there is no adequate therapy. "You can create a monster. In the anguish for the patient, there is a clinical ethical dilemma: I will do that with this new data?" Says the doctor at UNIFESP.
The psychiatrist and geriatrician USP Cassio Bottino says that in practice, doctors have attempted to identify cognitive impairment as soon as possible. "We recommend cognitive and physical exercises. We discussed with the family the use of existing drugs. This kind of care is already being done, but the guidelines will reinforce and standardize this practice," he says.
Gattaz Wagner, Institute of Psychiatry, USP (IPq-USP), reveals that in the coming weeks, his research group published promising data on the use of lithium to prevent people with mild cognitive impairment to dementia evolve. "With more sensitive diagnostic and early, you can use this technique."
Dementia. The revision also changes the criteria for diagnosis at an advanced stage, when the dementia is already installed. "There was a greater detail of the cognitive functions affected. This helps to differentiate Alzheimer's from other dementias little known 20 years ago, as frontotemporal dementia, which is treated differently," said Bottino.
In addition, complementary imaging tests - such as MRI and CT - are given more weight in the diagnosis.
Okamoto says that the Brazilian Association of Neurology and Abrazo intend to meet in May to discuss the national guidelines. The results come out in June. "We will take into account the new guidelines."
TO UNDERSTAND
Alzheimer's disease is the most common type of dementia, has no known cause and prevalence and incidence increases with age.
The primary and most common symptom is memory loss, but as the disease progresses, signs are emerging such as confusion, irritability, mood changes, gaps in language and prejudice the ability of temporal or spatial orientation. The disease can also be accompanied by a picture of depression, anxiety or apathy.
There is still no cure for Alzheimer's, but there are drugs that can slow the progress of the disease and minimize disturbance of mood and behavior.
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